Os recursos que entram por meio dos leilões pouco representarão na contabilidade da Petrobras. Por isso costumamos afirmar que a ANP está vendendo um bilhete premiado
Emanuel Cancella
As reservas brasileiras reconhecidas somam 14 bilhões de barris de petróleo. A 11ª rodada de licitação do petróleo poderá entregar mais que o dobro de nossas reservas, a julgar pela declaração da própria Diretora-Geral da ANP, Magda Chambriard, durante Seminário realizado no dia 18 de março, em Copacabana, no Rio.
Na abertura do evento, promovido pela ANP e pelo governo federal, com o objetivo de apresentar os blocos a serem leiloados aos investidores, a diretora-geral da Agência, Magda Chambriard, destacou a importância da licitação, que acontecerá nos dias 14 e 15 de maio, com a oferta de 289 blocos distribuídos em 11 Bacias Sedimentares: Barreirinhas, Ceará, Espírito Santo, Foz do Amazonas, Pará-Maranhão, Parnaíba, Pernambuco-Paraíba, Potiguar, Recôncavo, Sergipe-Alagoas e Tucano, estimando que estará disponibilizando um volume de 30 bilhões de barris e, ainda mais. A declaração a seguir foi transcrita da matéria divulgada pela assessoria de imprensa da ANP:
"A rodada vai oferecer excelentes oportunidades para empresas de origem nacional e estrangeira, de todos os portes, interessadas em atuar no Brasil", afirmou Magda Chambriard. Ela disse que estimativas apontam um volume de 30 bilhões de barris de óleo in situ (volume de óleo ou gás em uma determinada região, cuja extração depende de fatores de recuperação e que não pode ser entendido como reserva) nas bacias da Margem Equatorial incluídas na rodada, além de cinco bilhões de óleo in situ na Bacia do Espírito Santo e 1,7 bilhão de óleo in situ nas bacias maduras.
É lamentável, mas a maioria dos brasileiros não está se dando conta do que está acontecendo. As mudanças da lei do petróleo, durante o governo Lula, adotando modelo de compartilhamento e nomeando a Petrobras como operadora única do pré-sal, despertou a ira nas multinacionais. Mas elas preferiram ficar caladas, segundo denuncia do Wikileaks que revelou o conteúdo de um telegrama, afirmando que “qualquer ação deveria ser feita com cautela, para não despertar o nacionalismo nos brasileiros”.
O que estamos assistindo leva a algumas conclusões óbvias: discutir os royalties como fazem a presidenta, os governadores, o Congresso Nacional, o STF é a forma mais eficaz de desviar a atenção da sociedade e deixar acontecer a 11ª rodada de leilão da ANP. Os royalties funcionam como “boi de piranha”. Mas enquanto as piranhas comem um boi, passa a boiada. Enquanto se discute os royalties que representam 10% da indústria do petróleo, as multinacionais levam os 90%.
Se nos leilões anteriores a Petrobras teve uma posição arrojada, arrematando a maior parte dos blocos e, com isso, reduzindo as perdas da nação, desta vez a empresa entrará na disputa de mãos atadas: sob a síndrome do “prejuízo” que lhe foi imputado falsamente, já que teve um lucro de R$ 21 bilhões.
Os recursos que entram por meio dos leilões pouco representarão na contabilidade da Petrobras. Por isso costumamos afirmar que a ANP está vendendo um bilhete premiado. Só a submissão exacerbada de um país – ou a corrupção desenfreada em alguns escalões – explicaria a manutenção dos leilões de petróleo, moldes anunciados pela ANP.
Ao invés de despertamos o nacionalismo em defesa do nosso petróleo, nossos representantes criam a disputa, a guerra entre os estados brasileiros, chamam até de “covardia”, gritam “Veta Dilma!”. Enquanto isso as multinacionais fazem o banquete com nosso petróleo.
Perplexos, temos a impressão de estar assistindo a grande conluio entre as classes dominantes e seus representantes em todas as esferas – Executivo, Legislativo, Judiciário, grande mídia - para desviar a atenção do que realmente importa, deixando o povo desnorteado e confuso. Parecem compactuar com o que disse o primeiro Diretor-Geral da ANP, David Zilberstein, então no governo de Fernando Henrique Cardoso, para uma plateia de megaempresários: “O petróleo é vosso!”
Emanuel Cancella é diretor do Sindipetro-RJ e da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP).