NELSON BARROS NETO DE SALVADOR
Um grupo de 17 pessoas do Rio de Janeiro que distribuía listas telefônicas de porta em porta, em Salvador, foi encontrado em condições análogas à da escravidão na noite desta sexta-feira (15), segundo o Ministério Público do Trabalho na Bahia.
A operação, em conjunto com a Polícia Federal, prendeu em flagrante dois homens acusados de serem os aliciadores do grupo, que prestava serviço à empresa GAF Logística, sediada no Rio.
O procurador do Trabalho Jairo Sento-Sé diz que o expediente chegava a 12 horas por dia e não havia pagamento de salário. "Eles ganhavam de R$ 2 a R$ 5 de esmola de quem recebia as listas", diz.
Nas duas casas em que se dividiam, apenas com colchões e um único banheiro, os trabalhadores dormiam em cima das próprias listas telefônicas, "nas condições mais precárias possíveis", conforme Sento-Sé.
A Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do governo baiano encaminhou o grupo para um hotel, onde os trabalhadores deverão aguardar a assinatura das carteiras de trabalho e, em seguida, voltar para casa. As despesas serão cobradas da empresa.
A suspeita é de que o número de pessoas aliciadas possa chegar a mais de 50, com a existência do mesmo esquema em outros dois bairros da cidade.
Darcilínia Gomes da Silva, 58, uma das pessoas que chegaram no final de fevereiro a Salvador, disse aos auditores da operação que já faz esse tipo de atividade há cinco anos.
"Uma pessoa da minha idade não acha emprego fácil. Então prefiro esse trabalho e ganhar o que dá. Melhor do que nada", afirmou.
De acordo com o Ministério Público do Trabalho, o diretor da empresa, Gustavo Campilho, confirmou a contratação e se dispôs a ir a Salvador neste sábado (16) para iniciar o processo de indenização dos trabalhadores e esclarecer os fatos.
A Folha não conseguiu localizar Campilho. O telefone existente no site da GAF não funciona e o e-mail enviado pela reportagem ainda não havia sido respondido até a publicação desta reportagem.
As listas telefônicas pertencem à TeleListas.net, também com sede no Rio. Nenhum responsável pela empresa foi encontrado pela Folha neste sábado (16).