Novamente
o Blog do Pedlowski procurou o Prof. Carlos E Rezende, Chefe do Laboratório de
Ciências Ambientais do Centro de Biociências e Biotecnologia da Universidade
Estadual do Norte Fluminense, para obter informações sobre os problemas
decorrentes da salinização na região do entorno do Complexo Industrial do Açu.
É
sempre bom lembrar que o Laboratório de
Ciências Ambientais vem trabalhando há muitos anos na região no que tange aos
recursos hídricos e estas pesquisas tem sido traduzidas em várias monografias,
dissertações e teses, assim como artigos científicos publicados em revistas
nacionais e internacionais arbitradas.
Blog do Pedlowski (BP): Este
ano a Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) e o Laboratório de
Ciências Ambientais (LCA) estão comemorando 20 anos e você está na UENF desde a
sua concepção inicial, correto?
CER:
Na realidade eu e algumas pessoas do LCA estamos neste projeto desde o início e
viemos para cá por opção e não por falta de outras oportunidades. Quando estava
terminando meu doutorado, retornando da Escola de Oceanografia na Universidade
Washington em Seattle - Estado de Washington,
meu orientador, Prof. Wolfgang Christian Pfeiffer, meu orientador, me
chamou para uma conversa. Nesta conversa ele me apresentou a oportunidade de
participar deste grande projeto idealizado por Darcy Ribeiro e Leonel Brizola.
Desde o primeiro momento o Prof. Wolfgang me deu total liberdade para convidar
pessoas e estruturar o que seria o embrião do LCA. Esta foi uma importante experiência na minha vida e hoje, depois de 20 anos em Campos dos Goytacazes tenho a certeza de
que foi a decisão correta, pois participar da criação e fundação de uma
universidade é um privilégio para poucas pessoas e posso dizer que tive esta
oportunidade e tenho a sensação de missão cumprida.
BP: Bom, vindo para
atualidade como estão indo as pesquisas?
CER:
Nosso laboratório tem realizado muitos estudos relevantes para região, mas
infelizmente pouquíssimos foram transformados em políticas públicas. Você e
outros docentes e alunos da UENF, participaram do Diagnóstico da Lagoa de Cima
e havia uma forte expectativa de que este trabalho se transformasse em um Plano
de Manejo para a região da bacia e da lagoa propriamente dita. Na ocasião
políticos se manifestaram, mas até hoje não temos absolutamente nada e
continuamos presenciando uma ocupação desordenada naquela região. Ainda sobre
nossas pesquisas também criamos um Blog (http://lcanoticias.blogspot.com.br/)
onde divulgamos algumas ações. Certamente, ele não é tão visitado quanto o seu blog, mas estamos trabalhando para que no
futuro tenhamos mais seguidores e possamos disponibilizar o que temos realizado
através dos docentes e discentes do nosso laboratório.
BP: Gostaria de retomar
ao problema da salinização na região do 5o Distrito. O que o LCA está fazendo
neste momento em termos de prosseguimento das pesquisas sobre o processo de
salinização?
CER:
No momento estamos espacializando os valores que medimos desde outubro de 2012.
Esta forma de visualização das informações é muito importante, pois ajuda a
dimensionar as áreas com maior tendência deposicional da água salgada assim
como estabelecer os caminhos preferenciais do escoamento superficial
proveniente do aterro hidráulico.
BP: Vocês continuam
medindo a condutividade elétrica das águas no V Distrito?
CER: Sim continuamos as medidas em vários locais.
A Dra. Marina Suzuki continua acompanhando sistematicamente a
distribuição espacial da salinidade na Lagoa do Açu, e recentemente ela e o Dr.
Alvaro Ramon Coelho Ovalle, juntamente com o Biólogo Bráulio Cherene mediram a
condutividade ao longo do Canal do Quitingute.
BP: Soubemos que o
senhor e a Dra. Maria da Gloria foram convidados a compor um Grupo Técnico
junto ao INEA?
CER:
Sim, no dia 15 de março tivemos uma reunião na Reitoria com a presença da
Presidente do INEA, Sra. Marilene Ramos, o Superintendente Local, Sr. Renê
Justen, e mais 2 membros da Diretoria do INEA, Sra. Rosa Formiga (Diretora de
Gestão das Águas e do Território) e Sr. Leonardo Daemon d'Oliveira Silva
(Assessor da Diretoria de Gestão das Águas e Territórios). A reunião pode ser
considerada produtiva, mas tivemos a presença de muitas pessoas a convite
do Reitor. No final da reunião
continuamos a conversa com a Diretora Rosa Formiga e seu assessor onde foi
possível delinearmos algumas ações.
BP: O senhor poderia adiantar algumas destas ações?
CER: Bom, eu gostaria muito, mas ainda não acertamos as atividades que iremos realizar junto ao INEA, e recentemente, soube que algumas pessoas de instituições locais andaram pela região realizando amostragem que havíamos preconizado anteriormente em algumas reuniões. Inclusive, na ocasião disponibilizei a metodologia para a empresa e até hoje não tivemos a autorização para realizarmos a amostragem. Enfim, hoje pretendo realizar nossas atividades junto ao INEA e aos pequenos proprietários rurais da região, de forma que possamos contribuir de uma forma efetiva para avaliar com cuidado as áreas que foram impactadas pelo escoamento da água salgada.
BP: O senhor tem alguma
notícia sobre o que a empresa tem desenvolvido depois da multa emitida pelo
INEA?
CER:
Não tenho certeza, mas acho que já comentei que a empresa contratou
pesquisadores da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, além de outras instituições locais (Universidade Federal Rural do Rio
de Janeiro) que aparentemente prestam algum tipo de serviço para eles.
Recentemente, soube que alguma destas instituições informou que não existe
usuário das águas do Canal do Quitingute. Pois bem, eu realmente não tenho como
confirmar esta informação, mas considero que isto não sirva como um atenuante
ou justificativa para o enorme impacto gerado em um ecossistema de água doce. E
mais, se haviam riscos associados a comunidade local, todos deveriam ter sido
devidamente avisados e tomarem conhecimento do plano de contingência. O que não dá para aceitar facilmente é a
atuação de profissionais tentando autenticar o ilegitimável diante de tantas
evidências das alterações promovidas nas águas superficiais da região.
BP: O senhor estava dizendo que ficou surpreso com um texto publicado em um Blog local. Poderia ser mais claro sobre o que isto significa?
CER: Sim, na realidade uma pessoa faz comentários sem fundamentos que tentam desqualificar nosso trabalho após a visita da Reitoria da UENF às obras do Porto do Açu. Eu não faço parte da gestão da Reitoria da UENF e não realizamos qualquer trabalho visando forçar algum tipo de apoio financeiro. A minha carreira universitária foi construída com muita dedicação e este tipo de postura por parte de algumas pessoas é lamentável, e pior se esconde atrás de um anonimato. Tentei postar por duas vezes comentários no Blog em questão, mas até hoje não apareceram. Depois dessa falta de retorno do blogueiro eu desisti, pois não tenho tempo disponível. No entanto, vejo claramente que a pessoa que postou este comentário tenta traçar juízo de valor, usando-se como referência ética e moral. Assim, eu não tenho muito que dizer sobre uma pessoa que não tem coragem de assinar seu nome em uma declaração com este tipo de afirmativa. Contudo, eu acho que cabe a Reitoria da UENF se pronunciar institucionalmente . Abaixo, eu listo o texto que foi disponibilizado na página.
"Hoje to lendo entre linhas e acreditando que toda aquela situação da salinização do 5o Distrito nada mais foi que uma tentativa em forçar o grupo a se aproximar da UENF. Daqui a pouco certamente começará aparecer vários convênios com a instituição (um cala boca)" Texto retirado do Blog Roberto Moraes (http://www.robertomoraes.com.br/2013/03/reitor-e-equipe-de-gestao-da-uenf.html) escrito por um "Anônimo" (Grifo do entrevistado)