Telegramas obtidos pela Folha de S. Paulo mostram que pode haver mais interesses nas viagens de Lula pagas por empreiteiras do que apenas levar a boa “imagem” do país
Marco Prates, de
Ricardo Stuckert/Instituto Lula
São Paulo – Desde que deixou a presidência e venceu um câncer, Lula tem viajado países da África e da América Latina bancado, em grande parte, pelas maiores empreiteiras do país. De acordo com telegramas de embaixadas brasileiras nessas nações obtidos pela Folha de. S. Paulo, o interesse das empresas em financiar as caras palestras de Lula no exterior – cujo valor, calcula-se, passam facilmente os 200 mil reais – fica mais explícito.
“Ao associar seu prestígio às empresas que aqui operam, o ex-Presidente Lula desenvolveu, aos olhos moçambicanos, compromisso com os resultados da atividade empresarial brasileira”, diz um telegrama da embaixada de Maputo.
“Trata-se de operação de indiscutível simbolismo que tem potencial para colaborar na mudança de percepção local sobre as empresas de capital brasileiro”, continua o telegrama.
Em seus negócios internacionais, muitas vezes em países de delicado cenário político, Camargo Corrêa, OAS e Odebrecht comumente enfrentam resistências das populações locais sobre os benefícios de presença delas em território fora do Brasil.
Como mostra o telegrama, uma resistência que Lula – que já havia elegido em seu governo a América Latina e África como prioridades de política externa – pode ajudar a diminuir.
Desde 2011, segundo a Folha de S. Paulo, o ex-presidente visitou 30 países, sendo 20 na região. Empreiteiras custearam 13 desse total de viagens.
Lula deu início nesta semana a mais uma rodada africana, com cachês e custos pagos pelas empresas. A operação – que, frise-se, nada tem de ilegal – começou pela Nigéria (veja foto).
À Folha, o Instituto Lula disse em nota que as viagens do ex-presidente têm o objetivo de consolidar a "imagem e os interesses da nação brasileira".
"Esses convites partem tanto de entidades populares, empresariais, sindicais, movimentos sociais, universidades e centros de pesquisa, quanto de governos, organismos multilaterais e órgãos de imprensa", afirma o instituto.
EXAME.com aguarda retorno da Odebrecht, Camargo Correa e OAS sobre o assunto.