247 - Eike Batista, até recentemente o homem mais rico do Brasil, está à deriva. Com uma dívida próxima a R$ 25 bilhões, dos quais R$ 13 bilhões estão concentrados no BNDES, ele ainda não conseguiu apresentar resultados satisfatórios em nenhuma de suas atividades. Nem no porto da LLX, nem no petróleo da OGX, nem na construção de navios da OSX, nem na mineração da MMX. Nem mesmo a recuperação do Hotel Glória, no Rio, foi concluída.
Numa tentativa de resgate, e sem acesso a novas rodadas de crédito público ou privado, Eike recorreu ao banco de investimentos BTG Pactual, do também bilionário André Esteves. Depois do acordo, o dono da EBX previu a volta do "magic Eike", mas as ações de suas empresas continuaram se esfarelando na BM&F Bovespa. Neste domingo, em entrevista ao Estado, Esteves revela a natureza de seu acordo com Eike, sinalizando que a participação do carioca em seus próprios negócios irá cair dos atuais 60% a 70% para algo entre 20% e 30%. Ou seja: Esteves está pronto para fatiar o grupo EBX e jantar Eike Batista. Esteves também insinua o desejo de ter fundos de pensão estatais nos projetos de Eike.
Confira, abaixo, alguns trechos:
Queda das ações da EBX
Não temos nenhuma bala de prata nem queremos ter uma visão sebastianista do assunto (uma salvação miraculosa). Não podemos ceder à pressão para tomar decisões. Elas só ocorrerão à medida que as oportunidades se apresentarem, e isso vai demorar bem mais que duas semanas. Temos de ter foco, compromisso e responsabilidade. E encarar a volatilidade das ações com uma certa naturalidade. A bolsa está no seu pior momento.
Viabilidade da EBX
Eike concebeu projetos estruturantes e transformadores para o Brasil, como o Porto do Açu. O desafio é ordenar a execução deles. Todos são grandes projetos de infraestrutura, voltados para recursos naturais, de complexa execução e capital intensivo. E existe a dificuldade de executar vários projetos ao mesmo tempo. Vamos ajudar a ordenar, racionalizar e priorizar a execução. O Eike está aberto e animado com a ideia. Muitas pessoas questionam o endividamento do grupo EBX, mas, mesmo com as ações bastante depreciadas, existe um significativo patrimônio positivo. O endividamento não é tão grande. O que existe é uma demanda por investimento futuro que precisa ser equacionada, projeto a projeto.
Venda da MPX
O negócio não foi anunciado. A empresa comunicou ao mercado que existem conversas em andamento que podem se concretizar nessa linha. É um caso claro de uma companhia da EBX que tem um player de classe mundial que gostaria de ter uma participação ainda maior.
Vendas de outros ativos
Dada a qualidade dos projetos, existem diversos tipos de demanda: para parceiros estratégicos ou financeiros. Diria que é uma percepção correta que podem existir transações desse tipo em diversos projetos do grupo. O incomum é manter participações de 60%, 70%. O normal seria o Eike ter participações menores, de 20% a 30%. No mundo, em projetos como esses, não é natural ter concentrações de capital tão altas, dado o risco, o tamanho do capital envolvido e a complexidade.
Eventual saída de Eike do comando
O Eike tem uma capacidade única de concepção de projetos, conhece muito de recursos naturais e de logística, tem cabeça de engenheiro. Pensa grande e o Brasil precisa de gente assim. Cada companhia tem seu corpo executivo, conselho de administração e a maioria é de capital aberto.
Naufrágio da OGX, que perdeu R$ 47 bilhões em valor de mercado
Uma coisa que não vamos fazer e não temos capacidade de fazer é tirar mais petróleo do fundo dos poços. Se as ações vão valer R$ 2 ou R$ 5, não tem nada a ver com a nossa capacidade. O que podemos trazer para o grupo é racionalidade, uma estrutura de capital correta, controlar os investimentos. Isso é suficiente para o grupo ter sustentabilidade financeira de longuíssimo prazo.
Ajuda de fundos de pensão
Existe uma frustração que não é só do Eike, mas de vários empresários, que gostariam de ver investidores institucionais brasileiros mais engajados em projetos estruturantes. É um debate válido em um momento em que o Brasil precisa de um choque de infraestrutura.
Apoio da Petrobras e do BNDES
A Petrobrás não tem um papel determinante. Pode ser um parceiro, um cliente e até um concorrente. A Petrobrás tem interesse em ver a indústria de serviços de óleo e gás indo bem no Brasil e acho que também vê como positiva a ideia de companhias privadas de petróleo. Fora isso, não vejo nada determinante. Já o BNDES, como banco de desenvolvimento econômico, é natural que participe desse projeto e de outros.
Risco de quebra
Está longe disso. Ele continua sendo um dos empresários mais bem capitalizados do País. É jovem, empreendedor, acredita no Brasil e ainda vai construir muita coisa. Sua situação financeira é facilmente equacionável.
Socorro do BTG a pedido do governo
Não tem absolutamente nenhum pedido do governo. Não seria cabível uma coisa dessas.