A TV Petroleira transmitirá (correção, transmitiu) nesta sexta, às 18h30, entrevista ao vivo com Modesto da Silveira. Ele falará sobre a violenta desocupação da Aldeia Maracanã. Acesse tvpetroleira.tv.
O advogado Modesto da Silveira disse que estava “horrorizado com a falta de sensibilidade e de disposição para o diálogo do governador Sérgio Cabral”. Aos 87 anos, apesar de já ter visto de perto muita atrocidade ao longo da vida, estava assustado com a atitude agressiva do comandante das tropas policiais que cercaram a Aldeia Maracanã, no Rio, desde as três horas desta sexta (22). Ao se retirar da Aldeia, pouco antes da invasão acontecer, Modesto declarou que temia “um banho de sangue”.
Não chegou a ser um “banho de sangue”, mas ainda não se sabe quantas pessoas foram agredidas e saíram feridas durante a operação militar, ordenada pelo governador. Um dos feridos, com um corte na barriga e outro no joelho, provocados por estilhaços de bomba, foi o assessor do Sindipetro-RJ João Leal, que foi hospitalizado para receber os primeiros socorros. O repórter Rafael Duarte, da TV Petroleira, assim como a maioria das centenas de pessoas que estavam no local, sofreram os efeitos do gás de pimenta nos olhos.
O ex-deputado federal acompanhou de perto, desde a madrugada, o cerco da polícia de Sérgio Cabral à Aldeia Maracanã, na condição de representante da Comissão de Ética da Presidência da República, de conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Casa da América Latina. Apesar disso, foi destratado pelo comandante das tropas, que “foi agressivo e não aceitou a menor aproximação para o diálogo” – disse.
Modesto conta que, na quinta-feira (21) à tarde, assistiu à negociação entre os indígenas e o Secretário de Assistência Social e Direitos Humanos do Estado, Zaqueu da Silva Teixeira. O advogado assegurou que os índios estavam receptivos e abertos ao diálogo, chegando a apresentar uma contraproposta ao governo do estado, por escrito, como havia solicitado Zaqueu. Depois disso, permaneceram em vigília, aguardando a resposta:
“Mas em lugar de apresentar uma nova proposta, o governador preferiu responder com tropas de choque. Por volta das três horas da manhã eles cercaram a Aldeia – disse Modesto. – Fiquei apavorado. O aparato policial era muito grande. Eu contei pelo menos quatro ambulâncias. Muitos policiais estavam com máscaras de proteção contra gás. Tudo levava a crer na iminência da invasão. Temi um banho de sangue, porque os índios estavam dispostos a resistir. Aquele casarão foi destinado por D.Pedro II a fins de interesse indígena e, por esse motivo, eles se consideram herdeiros do prédio, onde reivindicavam a construção de um centro cultural de valorização da cultura indígena”.
Modesto Silveira prepara o relato que será apresentado na próxima reunião do Conselho de Ética da Presidência da República, do qual faz parte. Na sua opinião, o governador do Rio de Janeiro errou. “Não se justifica uma invasão no meio de um processo de negociação, mesmo que a desocupação estivesse autorizada judicialmente, Menos justificável ainda foi a violenta da polícia contra a imprensa nacional e internacional, contra manifestantes e indígenas” – afirmou.
Coincidentemente ou não, o governador Sérgio Cabral escolheu o 21 de Março para a ação policial (que acabaria acontecendo nas primeiras horas do dia 22). 21 de Março, para quem não se lembra, é uma data importante para os defensores dos direitos humanos e da vida. Comemoram-se os dias internacionais: 1) Contra a Violência; 2) Contra a Discriminação Racial; 3) em Defesa das Florestas:
Dá-lhe Cabral: além de desumano, debochado!