sábado, 15 de junho de 2013

Durval Alvarenga, agricultor que teve terra salinizada no Açu ainda espera uma visita dos responsáveis



Dentre os muitos dramas que desabrocham entre as famílias de agricultores que foram afetados de forma direta e indireta pela construção do Porto do Açu, a questão da salinização causada pela construção do aterro hidráulico que despejou água salobra dentro de um inúmero ainda desconhecido de propriedades e um daqueles fenômenos que saltam aos olhos.

Estive hoje na propriedade do Sr. Durval Alvarenga e abaixo segue a uma entevista que fiz com ele enquanto andávamos por áreas esbranquiçadas dentro do que costumava ser a pastagem onde mantinha suas 70 cabeças de vacas leiteiras.

Blog do Pedlowski (BP): Sr. Durval, qual é tamanho dessas propriedade aqui?

Durval Alvarenga (DA):  4,5 alqueires (ou 21,6 hectares).

BP: Quando adquiriu a propriedade?

DA: Comprei em 1998.

BP: Quantas animais mantinha aqui na propriedade?

DA: Uma média de 70 cabeças de vacas leiteiras.

BP: Tinha alguma roça?

DA: Eu tinha plantado aqui em torno de 150.000 pés de abacaxi.

BP: Quando começou notar que estava acontecendo algum problema aqui na propriedade e quais foram os sintomas?

DA: Eu comecei a notar que algo estava errado no final de Novembro (de 2012). Eu comecei a sentir um cheiro de maresia.



BP: Mas o que deu certeza para o senhor que havia algo de errado?

DA: Bom, eu continuei irrigando os plantios de abacaxi e ai tudo começou a dar para trás, com as plantas ficando murchas e enferrujadas.  Outra coisa que me chamou atenção foi que não teve fruto aparecendo. Mas eu fiquei mais alerta quando as vacas começaram a ficar com muita diarreia e nem queriam chegar perto da água. Ai me dei conta que realmente algo estava muito errado.

BP: Teve mais alguma coisa?

DA:  Em janeiro eu perdi toda uma área de cana que eu tinha (coisa de 1,0 ha) e apareceu muito peixe morto num tanque que ficava perto da área onde as vacas ficavam. 



BP:  Mas nesse tempo todo apareceu alguém do INEA ou da LLX por aqui?

DA: Em março desse ano apareceu um grupo em 4 carros, e eu me lembro que um desses carros era do INEA. Ai uma pessoa que disse que era técnico do INEA fez umas medidas na água e me recomendou para eu parar de usar aquela água para irrigar as minhas coisas. Mas ele me disse  que "eu nem deveria nem estar falando isso para o senhor".

BP: E depois disso apareceu alguém do INEA ou da LLX para conversar com o senhor para compensar os prejuízos que a salinização causou na sua propriedade?

DA: Não, até hoje não veio ninguém aqui para falar quem vai cobrir os meus prejuízos.

BP: O senhor tem alguma idéia de quanto o senhor perdeu por causa da salinização?

DA: Só com o abacaxi, eu calculo que a minha perda é de R$ 300 mil. Mas eu também estou tendo de comprar cana para dar de ração para o meu gado. E não estou mais conseguindo mais os 20 Kg de queijo que eu produzia todos os dias. È muito dinheiro, e até agora ninguém veio me falar quem vai pagar o que eu perdi.