sexta-feira, 21 de junho de 2013

Manifestação popular horizontal é um medicamento sem bula


Por Mariana Alves

Toda manifestação é legítima, mesmo supra-partidária, mesmo generalistas, mesmo horizontais. Todos tem a impressão de que há um descontentamento meio geral, uma necessidade de tratar uma espécie de "doença" do sistema... quase a necessidade de medicar, tratar, curar, aspectos do sistema político.

Pois bem, toda bula de remédio vem com uma parte de reações-adversas... por isso tem 5 coisas principais que me preocupam nisso tudo: 

1) Colorir a manifestação só de verde e amarelo, cantar hino, levantar só a bandeira nacional, reprimir quem é de movimento social ou partido. 

São essas atitudes que podem abrir espaço para um nacionalismo fascista, um ufanismo que para muita gente "justificou" 1964. Lembrem que para muita gente 1964 foi "revolução", não "golpe". 

2) O discurso de que violência policial é justificada pelo "vandalismo". 

Esse discurso sustenta a repressão violenta, vai de encontro ao Estado democrático de direito. Não problematiza o papel da polícia, a militarização da mesma, e o treinamento voltado para tratar questão social com terror e violência. Nem a tal "depredação pública" deve ser tratada com violência. Existem instituições de justiça, façamos uso das mesmas. Nada justifica esse tipo de ação despreparada. Fora a questão dos infiltrados, que não deve nunca ser descartada ingenuamente como “teoria da conspiração”. Lembre que em SP o filho de um empresário dos ônibus foi quem depredou a prefeitura.

3) Discursos pouco claros e que podem ser cooptados para qualquer lado, inclusive os setores mais conservadores e anti-democráticos. 

"Pela paz", "Contra a corrupção", "É por direitos", "O gigante levantou". Não dizem nada e podem dizer qualquer coisa. É preciso ter bandeiras claras e se aproximar SIM de movimentos sociais organizados para evitar ser cooptado por quem você não apoia quando sai as ruas.

4) Tentar simplificar a política pela saída mais fácil.

“É tudo farinha do mesmo saco", "São todos iguais", "Político é o demônio", "Fora todos". Fora todos? Entra quem? É a mesma coisa qualquer um? Vamos colocar o Maluf ou o Feliciano como chefes de Estado? Militares no poder? Cuidado com esse discurso da simplificação pelo emburrecimento da questão...

5) Discurso anti-eleitoral. 

O discurso pelo voto nulo, pela abstenção. Informações erradas de que voto nulo anula eleição (não anula). Na Espanha, o M15 pecou, em minha opinião, nisso. Abriu espaço para a eleição de partidos de direita nas eleições seguintes. Os mesmos partidos que aprofundaram os efeitos da crise e a austeridade. Justo o contrário do que se queria....

Manifestação popular horizontal é um medicamento sem bula. Use com precaução.

Mariana Alves é cientista social formada na UENF, e atualmente desenvolve seu doutoramento em Ciência Política pela UFMG.