segunda-feira, 17 de junho de 2013

Chute no traseiro


Por Tostão

A construção de estádios belíssimos, modernos e caríssimos, sendo que alguns deles se transformarão em elefantes brancos, como o de Brasília, com custo de R$ 1,2 bilhão, me lembram dos enormes estádios, maiores que os atuais, feitos pela ditadura. Eram também bonitos e caros, para a época. Atuei na inauguração do estádio de Erechim, no Rio Grande do Sul, onde havia mais lugares no estádio do que moradores na cidade.

Felizmente, vivemos na democracia. Mas a megalomania e a politicagem são as mesmas. Não há razão para 12 novos estádios. Empresários perceberam que vários dos muitos hotéis que estão sendo construídos em Belo Horizonte podem se tornar também elefantes brancos.

O secretário da Fifa, Jérôme Valcke, disse, na semana passada, que, se falhasse a venda de ingressos, mereceria um chute no traseiro. Já pode levar.

As manifestações contra os gastos da Copa e contra a falta de soluções para os graves problemas sociais são bem-vindas e legítimas, desde que sejam sem violência, dos dois lados. Tiro de bala de borracha pode matar.

Para entender melhor alguns detalhes, vi, novamente, parte do jogo contra o Japão. Houve mais lançamentos longos e chutões do que tinha notado. Os zagueiros fizeram isso por falta de opção no passe. A saída de bola continua ruim. Luiz Gustavo joga muito atrás, e Paulinho muito à frente. Um longe do outro. Falta um volante, que toca, avança, recebe, toca e comanda o jogo. Não temos esse craque. O ataque depende muito de estocadas isoladas.

Após ver novamente a partida, mudei minha nota para Neymar. Em vez de sete, passo para oito, pelo golaço e pela atuação durante o jogo.

Ontem, a Itália foi muito melhor que o México. Dominou a partida, perdeu gols e teve um claro pênalti, a seu favor, não marcado. O time italiano mostrou suas virtudes, Balotelli, De Rossi e, especialmente, Pirlo, e suas deficiências, falta de melhores laterais e de um companheiro para Balotelli. A Itália cansou no segundo tempo. O calor será um forte aliado do Brasil, na Copa das Confederações e no Mundial.

O México atuou mal, como nas eliminatórias. Será que jogará bem contra o Brasil?

Hoje, no Mineirão, teremos o clássico entre Nigéria e Taiti. As escolas e as repartições públicas não funcionarão. As pessoas que precisam se locomover ficarão em casa, como medo de engarrafamentos e da burocracia da Fifa. A Copa das Confederações existe para teste e para a Fifa faturar duas vezes.


Tostão, médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa do Mundo de 1970. Afastou-se dos campos devido ao agravamento de um problema de descolamento da retina. Como comentarista esportivo, colaborou com a TV Bandeirantes e com a ESPN Brasil. Escreve às quartas e domingos na versão impressa de "Esporte".