domingo, 30 de junho de 2013

Zizek: a caminho de uma ruptura global


POR SLAVOJ ŽIŽEK

Brasília, junho de 2013

Chegada dos Protestos ao Brasil e Turquia revela: há mal-estar generalizado contra lógicas e ideologia do capitalismo. Desafio é construir alternativas e nova democracia

Por Slavoj Žižek, no London Review of Books | Tradução Vila Vudu

Em seus primeiros escritos, Marx descreve a situação na Alemanha como uma daquelas na qual a única resposta a problemas particulares seria a solução universal: a revolução global. É expressão condensada da diferença entre período reformista e período revolucionário: em período reformista, a revolução global permanece como sonho que, se serve para alguma coisa, é apenas para dar peso às tentativas para mudar alguma coisa localmente; em período revolucionário, vê-se claramente que nada melhorará, sem mudança global radical. Nesse sentido puramente formal, 1990 foi ano revolucionário: as muitas reformas parciais nos estados comunistas jamais dariam conta do serviço; e era necessária uma quebra total, para resolver todos os problemas do dia a dia. Por exemplo, o problema de dar suficiente comida às pessoas.

Em que ponto estamos hoje, quanto a essa diferença? Os problemas e protestos dos últimos anos são sinais de que se aproxima uma crise global, ou não passam de pequenos obstáculos que pode enfrentar mediante intervenções locais? O mais notável nas erupções é que estão acontecendo não apenas, nem basicamente, nos pontos fracos do sistema, mas em pontos que, até aqui, eram percebidos como histórias de sucesso. Sabemos por que as pessoas protestam na Grécia ou na Espanha; mas por que há confusão em países prósperos e em rápido desenvolvimento como Turquia, Suécia ou Brasil?

Com algum distanciamento, pode-se ver que a revolução de Khomeini em 1979 foi o caso original de “dificuldades no paraíso”, dado que aconteceu em país que caminhava a passos largos para uma modernização pró-ocidente, e era o mais estável aliado do ocidente na região.

Antes da atual onda de protestos, a Turquia era quente: modelo ideal de estado estável, a combinar pujante economia liberal e islamismo moderado. Pronta para a Europa, um bem-vindo contraste com a Grécia mais “europeia”, colhida num labirinto ideológico e andando rumo à autodestruição econômica. Sim, é verdade: aqui e ali sempre viam-se alguns sinais péssimos (a Turquia, sempre a negar o holocausto dos armênios; prisão de jornalistas; o status não resolvido dos curdos; chamamentos a uma “grande Turquia” que ressuscitaria a tradição do Império Otomano; imposição, vez ou outra, de leis religiosas). Mas eram descartados como pequenas máculas que não comprometeriam o grande quadro.


E então, explodiram os protestos na praça Taksim. Não há quem não saiba que os planos para transformar um parque em torno da praça Taksim no centro de Istambul em shopping-center não foram “o caso”, naqueles protestos; e que um mal-estar muito mais profundo ganhava força. O mesmo se deve dizer dos protestos de meados de junho no Brasil: foram desencadeados por um pequeno aumento na tarifa do transporte público, e prosseguiram mesmo depois de o aumento ter sido revogado. Também nesse caso, os protestos explodiram num país que – pelo menos segundo a mídia – estava em pleno boom econômico e com todos os motivos para sentir-se confiante quanto ao futuro. Nesse caso, os protestos foram aparentemente apoiados pela presidente Dilma Rousseff, que se declarou satisfeitíssima com eles.

O que une protestos em todo o mundo — por mais diversos que sejam, na aparência — é que todos reagem contra diferentes facetas da globalização capitalista

É crucialmente importante não vermos os protestos turcos meramente como sociedade civil secular que se levanta contra regime islamista autoritário, apoiado por uma maioria islamista silenciosa. O que complica o quadro é o ímpeto anticapitalista dos protestos. Os que protestam sentem intuitivamente que o fundamentalismo de mercado e o fundamentalismo islâmico não se excluem mutuamente.

A privatização do espaço público por ação de um governo islamista mostra que as duas modalidades de fundamentalismo podem trabalhar de mãos dadas. É sinal claro de que o casamento “por toda a eternidade” de democracia e capitalismo já caminha para o divórcio.

Também é importante reconhecer que os que protestam não visam a nenhum objetivo “real” identificável. Os protestos não são, “realmente”, contra o capitalismo global, nem “realmente” contra o fundamentalismo religioso, nem “realmente” a favor de liberdades civis e democracia, nem visam “realmente” qualquer outra coisa específica. O que a maioria dos que participaram dos protestos “sabem” é de um mal-estar, de um descontentamento fluido, que sustenta e une várias demandas específicas.

A luta para entender os protestos não é luta só epistemológica, com jornalistas e teóricos tentando explicar seu “real” conteúdo: é também luta ontológica pela própria coisa, o que esteja acontecendo dentro dos próprios protestos. É apenas luta contra governo corrupto? É luta contra governo islâmico autoritário? É luta contra a privatização do espaço público? A pergunta continua aberta. E de como seja respondida dependerá o resultado de um processo político em andamento.

Em 2011, quando irrompiam protestos por toda a Europa e todo o Oriente Médio, muitos insistiram que não fossem tratados como instâncias de um único movimento global. Em vez disso, argumentavam, haveria uma resposta específica para cada situação específica. No Egito, os que protestavam queriam o que em outros países era alvo das críticas do movimento Occupy: “liberdade” e “democracia”. Mesmo entre países muçulmanos, haveria diferenças cruciais: a Primavera Árabe no Egito seria contra um regime autoritário e corrupto aliado do ocidente; a Revolução Verde no Irã, que começou em 2009, seria contra o islamismo autoritário. É fácil ver o quanto essa particularização dos protestos serve bem aos defensores do status quo: não há nenhuma ameaça direta à ordem global como tal. Só uma série de problemas locais separados…

O capitalismo global é processo complexo que afeta diferentes países de diferentes modos. O que une todos os protestos, por mais multifacetados que sejam, é que todos reagem contra diferentes facetas da globalização capitalista. A tendência geral do capitalismo global é hoje expandir o mercado, invadir e cercar o espaço público, reduzir os serviços públicos (saúde, educação, cultura) e impor cada vez mais firmemente um poder político autoritário. Nesse contexto, os gregos protestam contra o governo do capital financeiro internacional e contra seu próprio estado ineficiente e corrupto, cada dia menos capaz de prover os serviços sociais básicos. Nesse contexto, os turcos protestam contra a comercialização do espaço público e contra o autoritarismo religioso. E os egípcios protestam contra um governo apoiado pelas potências ocidentais. E os iranianos protestam contra a corrupção e o fundamentalismo religioso. E assim por diante.

Nenhum desses protestos pode ser reduzido a uma única questão. Todos lidam com uma específica combinação de pelo menos dois problemas, um econômico (da corrupção à ineficiência do próprio capitalismo); o outro, político-ideológico (da demanda por democracia à demanda pelo fim da democracia convencional multipartidária). O mesmo se aplica ao movimento Occupy. Na profusão de declarações (muitas vezes confusas), o movimento manteve dois traços básicos: primeiro, o descontentamento com o capitalismo como sistema, não apenas contra um ou outro corrupto ou corrupções locais; segundo, a consciência de que a forma institucionalizada de democracia multipartidária não tem meios para combater os excessos capitalistas. Em outras palavras, é preciso reinventar a democracia.


A causa subjacente dos protestos ser o capitalismo global não significa que a única solução seja “derrubar” o capitalismo. Nem é viável seguir a alternativa pragmática, que implica lidar com problemas individuais enquanto se espera por transformação radical. Essa ideia ignora o fato de que o capitalismo global é necessariamente contraditório e inconsistente: a liberdade de mercado anda de mãos dadas com os EUA protegerem seus próprios agronegócios e agronegociantes; pregar a democracia anda de mãos dadas com apoiar o governo da Arábia Saudita.

Essa inconsistência abre um espaço para a intervenção política: onde o capitalista global é forçado a violar suas próprias regras, ali há uma oportunidade para insistir em que ele obedeça àquelas regras. Exigir coerência e consistência em pontos estrategicamente selecionados nos quais o sistema não pode pagar para ser coerente e consistente é pressionar todo o sistema. A arte da política está em impor demandas específicas as quais, ao mesmo tempo em que são perfeitamente realistas, ferem o coração da ideologia hegemônica e implicam mudança muito mais radical. Essas demandas, por mais que sejam viáveis e legítimas, são, de fato, impossíveis. Caso exemplar é a proposta de Obama para prover assistência pública universal à saúde. Por isso as reações foram tão violentas.

Um movimento político começa com uma ideia, algo por que lutar, mas, no tempo, a ideia passa por transformação profunda – não apenas alguma acomodação tática, mas uma redefinição essencial –, porque a própria ideia passa a ser parte do processo: torna-se sobredeterminada.* Digamos que uma revolta comece com uma demanda por justiça, talvez sob a forma de demanda pela rejeição de uma determinada lei. Depois de o povo estar profundamente engajado na revolta, ele percebe que será preciso muito mais do que a demanda inicial, para que haja verdadeira justiça. O problema então é definir, precisamente, em que consiste esse “muito mais”.

A perspectiva liberal-pragmática entende que os problemas podem ser resolvidos gradualmente, um a um: “Há gente morrendo agora em Rwanda, então esqueçam a luta anti-imperialista e vamos impedir o massacre”. Ou: “Temos de combater a pobreza e o racismo já, aqui e agora, não esperar pelo colapso da ordem capitalista global”. John Caputo argumenta exatamente assim em After the Death of God (2007):

Eu ficaria perfeitamente feliz se os políticos da extrema-esquerda nos EUA fossem capazes de reformar o sistema oferecendo assistência universal à saúde, redistribuindo efetivamente a riqueza mais equitativamente com um sistema tributário [orig. Internal Revenue Code (IRC)] redefinido, restringindo o financiamento privado de campanhas eleitorais, autorizando o voto universal, para todos, tratando com humanidade os trabalhadores migrantes, e levando a efeito uma política externa multilateralista que integrasse o poder dos EUA dentro da comunidade internacional etc. Ou seja, intervindo sobre o capitalismo mediante reformas profundas, de longo alcance… Se depois de fazer tudo isso, Badiou e Žižek ainda reclamarem de um monstro chamado Capitalismo a nos assombrar, eu estaria inclinado a receber o tal monstro com um bocejo.

Não se trata de “derrubar” o capitalismo. Mas de construir lógicas de uma sociedade que vá além dele. Isso inclui novas formas de democracia

O problema aqui não é a conclusão de Caputo: se se pode alcançar tudo isso dentro do capitalismo, por que não ficar aí mesmo? O problema é a premissa subjacente de que seja possível obter tudo isso dentro do capitalismo global em sua forma atual. Mas e se os emperramentos e mau funcionamento do capitalismo, que Caputo listou, não forem meras perturbações contingentes, mas necessários por estrutura? E se o sonho de Caputo é um sonho de ordem capitalista universal, sem sintomas, sem os pontos críticos nos quais sua “verdade reprimida” mostra a própria cara?

Os protestos e revoltas de hoje são sustentados pela combinação de demandas sobrepostas, e é aí que está a sua força: lutam por democracia (“normal”, parlamentar) contra regimes autoritários; contra o racismo e o sexismo, especialmente quando dirigidos contra imigrantes e refugiados; contra a corrupção na política e nos negócios (poluição industrial do meio ambiente etc.); pelo estado de bem-estar contra o neoliberalismo; e por novas formas de democracia que avancem além dos rituais multipartidários. Questionam também o sistema capitalista global como tal, e tentam manter viva a ideia de uma sociedade que avance além do capitalismo.

Duas armadilhas há aí, a serem evitadas: o falso radicalismo (“o que realmente interessa é abolir o capitalismo liberal-parlamentar; todas as demais lutas são secundárias”), mas, também, o falso gradualismo (“no momentos temos de lutar contra a ditadura militar e por democracia básica, todos os sonhos de socialismo devem ser, agora, postos de lado”).

Aqui, ninguém se deve envergonhar de acionar a distinção maoista entre antagonismo principal e antagonismos secundários, entre os que mais interessam no fim e os que dominam hoje. Há situações nas quais insistir no antagonismo principal significa perder a oportunidade de acertar golpe significativo, no curso da luta.

Só uma política que tome plenamente em consideração a complexidade da sobredeterminação merece o nome de estratégia. Quando se embarca numa luta específica, a pergunta chave é: como nosso engajamento ou desengajamento nessa luta afeta outras lutas?

Praça Tahrir, Egito 2011

A regra geral é que quando uma revolta contra regime semidemocrático começa – como no Oriente Médio em 2011 – é fácil mobilizar grandes multidões com slogans (por democracia, contra a corrupção etc.). Mas muito rapidamente temos de enfrentar escolhas muito mais difíceis. Quando a revolta é bem-sucedida e alcança o objetivo inicial, nos damos conta de que o que realmente nos perturbava (a falta de liberdade, a humilhação diária, a corrupção, o futuro pouco ou nenhum) persiste sob novo disfarce. Nesse momento somos forçados a ver que havia furos no próprio objetivo inicial. Pode implicar que se chegue a ver que a democracia pode ser uma forma de des-liberdade, ou que se pode exigir muito mais do que apenas a mera democracia política: que a vida social e econômica tem de ser também democratizada.

Em resumo, o que à primeira vista tomamos como fracasso que só atingia um nobre princípio (a liberdade democrática) é afinal percebido como fracasso inerente ao próprio princípio. Essa descoberta – de que o princípio pelo qual lutamos pode ser inerentemente viciado – é um grande passo em qualquer educação política.

Representantes da ideologia reinante mobilizam todo o seu arsenal para impedir que cheguemos a essa conclusão radical. Dizem-nos que a liberdade democrática implica suas próprias responsabilidades, que tem um preço, que é sinal de imaturidade esperar demais da democracia. Numa sociedade livre, dizem eles, devemos agir como capitalistas e investir em nossa própria vida: se fracassarmos, se não conseguirmos fazer os necessários sacrifícios, ou se de algum modo não correspondermos, a culpa é nossa.

Istambul, maio de 2013

Em sentido político mais direto, os EUA perseguem coerentemente uma estratégia de controle de danos em sua política externa, recanalizando os levantes populares para formas capitalistas-parlamentares aceitáveis: na África do Sul, depois do apartheid; nas Filipinas, depois da queda de Marcos; na Indonésia, depois de Suharto etc. É nesse ponto que a política propriamente dita começa: a questão é como empurrar ainda mais adiante, depois que passa a primeira, excitante, onda de mudança; como dar o passo seguinte, sem sucumbir à tentação “totalitária”; como avançar além de Mandela, sem virar Mugabe.

O que significaria isso, num caso concreto? Comparemos dois países vizinhos, Grécia e Turquia. À primeira vista, talvez pareçam completamente diferentes: Grécia, presa na armadilha da ruinosa política de austeridade; Turquia em pleno boom econômico e emergindo como nova superpotência regional. Mas e se cada Turquia contiver sua própria Grécia, suas próprias ilhas de miséria? Como Brecht diz em sua Elegias Hollywoodenses (orig. Hollywood Elegies’ [1942]),

A vila de Hollywood foi planejada segundo a ideia De que o povo aqui seria proprietário de partes do paraíso. Ali, Chegaram à conclusão de que Deus, embora precisando de céu e inferno, não precisava planejar dois estabelecimentos, mas só um: o paraíso. Que esse, para os pobres e infortunados, funciona como inferno.[1]

Esses versos descrevem bastante bem a “aldeia global” de hoje: aplicam-se ao Qatar ou Dubai, playgrounds para os ricos, que dependem de manter os trabalhadores imigrantes em estado de semiescravidão, ou escravidão. Exame mais detido revela semelhanças entre Turquia e Grécia: privatizações, o fechamento do espaço público, o desmonte dos serviços sociais, a ascensão de políticos autoritários. Num plano elementar, os que protestam na Grécia e os que protestam na Turquia estão engajados na mesma luta. O melhor caminho talvez seja coordenar as duas lutas, rejeitar as tentações “patrióticas”, deixar para trás a inimizade histórica entre os dois países e buscar espaços de solidariedade. O futuro dos protestos talvez dependa disso.

* Em seu prefácio à Contribuição à Crítica da Economia Política, Marx escreveu (no seu pior modo evolucional) que a humanidade só se propõe problemas que seja capaz de resolver. E se invertermos a ganga dessa frase e declararmos que, regra geral, a humanidade propõe-se problemas que não pode resolver, e assim dispara um processo cujo desdobramento é imprevisível, no curso do qual, a própria tarefa é redefinida?


[1] Não encontramos tradução para o português. Aqui, tradução de trabalho, sem ambição literária, só para ajudar a ler [NTs].

Rio de Janeiro, 30 de junho de 2013: segunda etapa da final da copa das confederações


Por racismoambiental

Amilton, prof. do Estado do Rio de Janeiro, é atingido por bomba de efeito moral durante ataque da Policia Militar. Milhares voltam a se reunir na Av Maracanã, no Rio. Foto: Ninja

Grupo reúne vestigios e fragmentos de bombas e balas de borracha disparas pela PM do Rio de Janeiro (RJ) contra manifestantes. Foto: Ninja

Participantes da cerimônia de encerramento levantaram uma placa em protesto contra a privatização do Maracanã

Participantes da cerimônia de encerramento levantaram uma placa em protesto quebrando o protocolo. Olhem só cara da Ivete Sangalo passando ao lado como quem não quer ver!


Melhor ainda teria sido se Sérgio Cabral e Dilma Rousseff estivessem lá para ver! Mas o medo da vaia falou mais alto.




Cenas próximas do Maracanã neste domingo: a constituição federal foi suspensa para agradar a FIFA!

Para os que alardeiam tanto do perigo de golpe de Estado, o mesmo já está acontecendo mas é de outra natureza. É tomada do Estado brasileiro pela FIFA que, de forma subserviente, coloca o aparato repressivo para impedira livre manifestação e o direito de ir e vir que estão assegurados na Constituição Federal!





Valor Econômico informa: Eike negocia venda de concessão da Marina da Glória

Marina da Glória, no Rio de Janeiro

RIO - A Prefeitura do Rio recebeu uma consulta da MGX Serviços Náuticos, empresa do grupo EBX, de Eike Batista, sobre a possibilidade de transferência da concessão da Marina da Glória, localizada no Parque do Flamengo, no Rio. O movimento ocorre em meio a uma série de articulações do grupo para se desfazer de ativos.

A concessão da marina é do grupo de Eike desde 2009. O grupo interessado é a BR Marinas, empresa que administra instalações do gênero, como a Verolme, localizada em Angra dos Reis, no litoral fluminense.

O espaço pertence à prefeitura e é administrado sob regime de concessão. Para que seja alterada, é necessária uma autorização do governo municipal.

Procurada, a BR Marinas informou que o acordo ainda não está fechado e que, por isso, não irá se pronunciar. Já a REX, controladora da MGX Serviços Náuticos, disse que a informação sobre a venda da concessão não procede.

No início deste mês, a MGX Serviços Náuticos recebeu prazo de 30 dias para fazer adaptações nas obras do espaço.

Segundo o juiz federal Walner de Almeida Pinto, a MGX deve retirar a cisterna do local, disfarçar o alargamento do píer, remover as estacas do espelho d'água e liberar o acesso público ao mar.

As alterações, diz o juiz, restringem o uso do trecho da Baía de Guanabara onde fica a área de treino e competições de remo. Caso as mudanças não sejam feitas, a multa diária será de R$ 50 mil.

Outro problema enfrentado pelo grupo é para a aprovação de um projeto de reforma da marina dentro das normas de tombamento das instalações.

Na segunda-feira, será publicado no "Diário Oficial" a criação de uma comissão para avaliar o que pode ser construído na área da marina. O grupo será formado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, órgão da prefeitura, e o IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil).

(Folhapress)

Uma estranha variação nos preços pagos aos desapropriados do Porto do Açu


Uma das questões controversas que cerca o processo de desapropriação de terras no V Distrito de São João da Barra é o preço que foi pago pela CODIN ou pela LL(X) pelas propriedades. Parte do mistério envolvendo esse processo acaba de ser parcialmente resolvido pela dissertação que Felipe Medeiros Alvarenga acaba de defender no Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais da UENF, sob minha orientação.

Vejamos os dados levantados para oito propriedades que são mostrados na tabela abaixo:


Tamanho (ha)
Valor total recebido (R$)
Valor / m² (R$)
2,0
45.000,00
2,25
2,0
57.000,00
2,85
2,0
65.000,00
3,25
9,6
80.000,00
0,83
9,6
105.000,00
1,09
12,2
150.000,00
1,23
2,4
196.000,00
8,10
2,4
200.000,00
8,30


Uma coisa que salta aos olhos é a grande variação no valor pago pelo metro quadrado.  Essa variação pode estar relacionada a vários fatores, incluindo localização, intensidade de uso, benfeitorias e o nível de resistência ao processo de desapropriação. Como ficou também demonstrado na pesquisa de campo, aqueles que resistiram acabaram recebendo indenizações mais altas.  Além disso, o tempo médio declarado para recebimento das indenizações foi de seis meses. 

Este padrão de demora talvez explique o fato de que, entre os habitantes da Vila da Terra que declararam ter chegado no local menos de uma semana antes da realização da pesquisa, nenhum deles declarou recebido as indenizações devidas, indicando que se mudaram para ali antes do pagamento das indenizações. Nesse sentido, esses resultados da pesquisa demostram que a legislação vigente não está sendo devidamente cumprida, e, mesmo quando o cumprimento ocorre, isto se dá fora dos padrões determinados por lei.

Em nível de comparação em relação à questão do processo de valorização da terra após a desapropriação, dados disponibilizados pelo Prof. Roberto Moraes no seu blog pessoal (Aqui!), indicam que o Grupo EBX informou ter firmado contratos de aluguel com várias empresas (e.g., Intermmor em uma área 52,3 mil m²; a NKT Flexibles, numa área de 121 mil m², e a Technip, em área de 289 mil m²), onde o valor mensal do m² alugado alcançou R$ 6,00, o que permitiria à LL(X) obter uma renda de mais de R$ 5 bilhões ao final de um período de 10 anos. Já o valor médio pago aos agricultores variou entre R$ 0,83 e R$ 8,30, com um valor médio de R$ 3,50.

Se os valores encontrados pelo Prof. Roberto Moraes estiverem corretos fica evidente que o valor pago à maioria dos agricultores desapropriados implica num ganho financeiro que não possui relação direta com as razões declaradas pelo governo do estado do Rio de Janeiro para realizar o processo de desapropriação.  Essa situação coloca em questão se não está em curso um processo especulativo vinculado à renda da terra mais que ao interesse de desenvolvimento econômico propriamente dito. 

Finalmente, a grande questão que se coloca neste momento é: por que ainda a CODIN ainda continua desapropriando terras no V Distrito, mesmo em face da derrocada do Grupo EB(X)? 

Brasil 247: Eike deve r$ 23,7 bi e coloca ativos à venda; calote é iminente


 Todas as empresas do homem que já foi o 7º mais rico do mundo estão com problemas de caixa, que precisam pagar ou renegociar dívidas até março de 2014; endividamento de curto prazo das empresas do "império X" representa 33% das dívidas totais do grupo, que chegam a R$ 23,7 bilhões; crise de confiança do grupo começou há um ano, quando um campo de petróleo da OGX frustrou significativamente as expectativas de produção; ações da OGX Petróleo e Gás, principal empresa do grupo, estão sendo negociadas a níveis que sugerem que um calote é iminente.

247 – O “Império X”, de Eike Batista, desmorona a cada dia. Representantes do empresário, que já foi o mais rico do Brasil, estão recorrendo aos bancos para renegociar dívidas de curto prazo, que chegam a R$ 7,9 bilhões, segundo informa reportagem da Folha. Esse valor representa 33% das dívidas totais do grupo, que chegam a R$ 23,7 bilhões. Cerca de R$ 9 bilhões dos empréstimos de longo prazo foram feitos pelo BNDES. Ele colocou à venda todos os ativos das empresas e pode perder o controle majoritário do grupo. Há, entre investidores, temor de um megacalote. As ações da OGX Petróleo e Gás, principal empresa do grupo, estão sendo negociadas a níveis que sugerem que um calote é iminente.
Eike é proprietário de um conjunto de empresas – além da OGX, há a MMX (minério), a LLX (logística), a OSX (estaleiro), a MPX (energia) e a CCX (carvão) –, todas com problemas de caixa, que precisam pagar ou renegociar dívidas até março de 2014. Em comunicado ao mercado, o grupo EBX informou que só tem dívidas de longo prazo, mas estava se referindo apenas à holding. O nó está nas empresas, enquanto a holding tem pouca dívida.
Nos últimos 12 meses, as ações das empresas caíram entre 24,6% (MPX) e 85% (OSX) na Bolsa de Valores. Entre os bancos, os principais credores são Itaú BBA, Bradesco e BNDES, que emprestaram pelo menos R$ 1 bilhão cada um para pagamento no curto prazo. Em seguida, vem a Caixa, com R$ 750 milhões. As empresas de Eike têm dívidas de curto prazo com 11 bancos diferentes.
A crise de confiança do grupo começou há um ano, quando um campo de petróleo da OGX frustrou significativamente as expectativas de produção. A partir daí, os investidores começaram a questionar a capacidade do empresário de "entregar".
As dúvidas sobre a OGX contaminaram a OSX, estaleiro criado para produzir as plataformas para a petroleira. Os negócios de Eike são todos interligados, o que significa ganhos de sinergia, mas também rápida deterioração em caso de crise.
Com exceção da MMX, todas as outras empresas de Eike "queimaram caixa" no primeiro trimestre, o que significa destruir riqueza. Isso em razão do alto endividamento e/ou porque a operação ainda não consegue produzir o suficiente para fazer frente aos compromissos.
Com a ajuda do banco BTG, de André Esteves, Eike já vendeu uma fatia da MPX para a E.ON, uma participação num campo de petróleo da OGX para a Petronas e está em negociações com Trafigura e Glencore para vender parte da MMX.
Também está em busca de investidores para LLX e OSX, mas até agora as conversas não avançaram. Praticamente todos os ativos do grupo estão à venda, inclusive o hotel Glória, no Rio.
A tendência é Eike manter uma fatia minoritária nos negócios que criou, podendo até chegar a perder o controle. O que ninguém sabe ainda é se isso será suficiente para salvar o império daquele que já foi o sétimo homem mais rico do mundo.
Do ponto de vista dos investidores, resultados negativos das empresas do grupo EBX devem abalar ainda mais a confiança do mercado. Uma das principais preocupações do mercado com o grupo é o endividamento das companhias. Com o objetivo de acalmar os investidores, Eike anunciou recentemente que a holding EBX concluiu a restruturação da sua dívida. Segundo ele, restaram apenas as dívidas de longo prazo, que têm um custo menor.
Em meio a essa reestruturação e com limitação de caixa, o grupo também tem negociado a venda de ativos. Para um analista que preferiu não se identificar, a dívida maior (quando é feita a conversão para o real) pode ser um fator negativo nas negociações.Na opinião dele, quem pretende comprar alguma empresa do grupo pode oferecer menos por ela usando o argumento do aumento da dívida.
Segundo a Bloomberg, o patrimônio de Eike, que já chegou a ser um dos dez homens mais ricos do mundo, agora é de US$ 4,7 bilhões --ele não aparece mais no ranking de 200 pessoas mais ricas. Hoje, a principal fonte de riqueza é formada por dinheiro e outros ativos (US$ 1,25 bilhão). Todas as seis empresas do grupo EBX, com exceção de uma, perderam mais de 90% de seu valor desde que atingiram as suas máximas.

Eike, que foi o mais bem-sucedido empresário do Brasil durante o boom de commodities, tem sido obrigado a ver uma das maiores fortunas do mundo desaparecer. Ela encolheu em mais de US$ 20 bilhões e isso lhe custou o título de mais rico do Brasil. Sem fluxo de caixa positivo ou lucro, pagar a dívida exige que as empresas do grupo EBX gastem um dinheiro que seria mais bem utilizado para concluir projetos e aumentar receita.

Argentinos fazem piada com a mídia brasileira e descem a ripa na Rede Globo


O vídeo nem precisa ser traduzido para nós, apesar deles terem traduzido para os argentinos. Por que simplesmente ninguém mostrou ou fez uma análise da repulsa que a Rede Globo sofreu em todas essas manifestações!

Ao contrário do ministro "bom petista" Paulo Bernardo, o povo quer sim formas de controle da mídia corporativa.




O verdadeiro golpe de Estado: hoje morador do entorno do Maracanã só entra em casa mostrando comprovante


No dia da final, moradores do entorno do Maracanã terão de apresentar comprovante de residência até para andar na rua

Por Paulo Cobos, Pedro Henrique Torre e Tiago Leme para o ESPN.com.br

 

Reprodução/Blog Fim de Jogo
Informe que circulou nos prédios dos arredores do Maracanã

Em dia final da Copa das Confederações no Maracanã, trânsito livre nem mesmo para pedestres. Por meio de uma circular enviada a alguns prédios do entorno do estádio neste sábado, a Prefeitura do Rio de Janeiro informa que os moradores devem deixar suas casas com um comprovante de residência caso queiram simplesmente caminhar pelas ruas do estádio. Só terão acesso aos locais interditados para a realização da partida no Maracanã quem portar ingresso ou um conta de luz, água ou telefone que comprove que mora no local. 

A diretriz irritou moradores da região, que mesmo com as interdições para outras partidas no Maracanã tiveram a restrição apenas para veículos e não para pedestres. Nas partidas entre Itália e México e Espanha e Taiti, moradores circularam até a porta do estádio sem maiores problemas ou necessidade de apresentar ingresso para a partida ou comprovante de residência. 

Confira abaixo a íntegra do comunicado. 

A Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro através da Subprefeitura da Grande Tijuca comunicou em avisos distribuídos no comércio local que a Rua São Francisco Xavier (trecho entre a Rua Oito de Dezembro e a Rua Barão de Mesquita) e a Rua General Canabarro, também estarão interditadas ao trânsito e estacionamento de veículos do dia 30 de junho, das 13h até 24 horas de domingo. Além do esquema de trânsito já divulgado anteriormente, que continua a valer.

Só será permitido o acesso aos veículos de moradores mediante a apresentação de comprovante de residência ou credenciais distribuídas para acesso as ruas já interditadas anteriormente. Os pedestres também devem andar com comprovante de residência, já que a circulação a pé só será permitida a quem portar ingresso ou comprovante de residência na área interditada.

Atenção, ao sair de casa, leve conta de luz, telefone ou similar para evitar ser impedido de retornar

Ambiente do Rio de Janeiro sob intenso ataque sob os olhares complacentes do INEA e da SEA


Pesca em Niterói sofre com despejo de material de dragagem

Ministério Público questiona autorização do Inea para descarte de sedimentos a 15km de Itaipu


EMANUEL ALENCAR 
Pescadores. O lodo entra nas tocas afugenta espécies de peixes Gustavo Stephan / Agência O Globo

RIO - Todos os dias, balsas percorrem a Baía de Guanabara abarrotadas de uma pasta acinzentada e fedorenta. Na costa de Niterói, a quase 15 quilômetros da Praia de Itaipu, o comandante da embarcação abre enormes comportas, e o material é o despejado lentamente, turvando as águas. Resultado do reaquecimento das atividades navais do Rio, os sedimentos de dragagens na Baía de Guanabara são objeto de uma ruidosa polêmica. De acordo com o Ministério Público (MP) estadual, a nova área licenciada para descarte do material coincide com um sítio pesqueiro. Uma investigação conduzida por promotores do Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente (Gaema) questiona o monitoramento das embarcações e cobra a conclusão de estudos ambientais. A Secretaria estadual do Ambiente, por sua vez, garante que a área recém-licenciada não traz impactos significativos ao meio ambiente.

VEJA TAMBÉM


Nos últimos oito anos anos, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) avalizou o descarte do equivalente a três Maracanãs cheios — 8,48 milhões de metros cúbicos de lodo de dragagens, de 13 projetos — em dois pontos do mar de Niterói. No entanto, ambas as coordenadas autorizadas, chamadas de C e D, foram consideradas ambientalmente inapropriadas depois que ambientalistas apontaram riscos ao Monumento das Ilhas Cagarras. Hoje, a discussão se refere ao entorno de um novo ponto, o F, autorizado no início do mês para descarte de uma dragagem do Complexo Petroquímico do Rio (Comperj), da Petrobras.

“Lixo no nosso quintal”

Pescador da colônia Z-7, em Itaipu, Paulo Roberto de Freitas, de 50 anos, conta que no local são capturados cações, corvinas e pargos.

— Estão jogando lixo no nosso quintal. O lodo entra nas tocas, afugenta espécies de peixes. No ano passado, eu perdi três redes por causa do acúmulo de lixo. Ninguém é contra dragagem. Mas jogar o material em área pesqueira não é razoável — critica.

A necessidade de dar mais navegabilidade à Baía de Guanabara, além da construção de píeres, fará com que mais quatro milhões de metros cúbicos de sedimentos ainda sejam dragados. A Secretaria Especial de Portos (SEP), vinculada à Presidência da República, informou que está em curso uma dragagem emergencial, de 250 mil metros cúbicos, autorizada pelo Inea. O material também vai para o ponto F. Ainda segundo a SEP, a draga é “continuamente monitorada por transponder” e técnicos a bordo. A dragagem mais ampla necessita de estudos.

— A situação é muito preocupante. Precisamos de um plano diretor de dragagem na Baía de Guanabara, estabelecendo diretrizes para os próximos 40 anos — afirma o vice-prefeito de Niterói, Axel Grael.

Há um ano, a Petrobras e outras empresas que atuam na Baía de Guanabara contrataram a Interdraga Consultoria e Serviços de Dragagem, para fazer um estudo detalhado sobre os impactos do despejo dos sedimentos no mar. Esse estudo, chamado avaliação ambiental integrada (AAI), ainda não foi concluído. O promotor José Alexandre Mota diz que há uma série de questões ainda sem resposta:

— Queremos saber se o F é o ponto ambientalmente mais viável. Onde estão os estudos de alternativa de local? Pedimos também todas as licenças e o cronograma de descarte, bem como o estudo de impacto socioeconômico.

Procurada pelo GLOBO, a Petrobras informou que não se pronunciaria sobre o assunto. Também não forneceu a quantidade de material despejado diariamente no ponto F.

Secretaria nega impactos

O subsecretário estadual do Ambiente, Luiz Firmino Pereira, esclarece que a escolha do novo ponto foi feita após estudos de dispersão, que demonstraram que o sedimento “não corre o risco de atingir área costeira ou as ilhas”:

— O fundo foi vistoriado e asseguramos a não existência de parcéis (áreas de abrigos de peixes) e lajes. A escolha do ponto F foi discutida com o Subcomitê de Bacia da Baía da Guanabara e pescadores.

O mergulhador Otto Sobral, porém, diz que há denúncias de pescadores de que as balsas licenciadas jogam parte do material fora do ponto F.

Em parceria com uma universidade, o Porto de Rio Grande, a 317km de Porto Alegre, desenvolve um projeto para transformar a matéria orgânica dos sedimentos em energia, aproveitando o trabalho natural feito por micro-organismos. A areia descontaminada seria reaproveitada na construção civil. O programa passa por testes laboratoriais. Já foram investidos R$ 600 mil. Atualmente, o material de dragagem do porto gaúcho é despejado no mar, a 31km do terminal.

Porto do Açu: TV Alerj faz o debate que importa


Alertado pelo blog do Prof. Roberto Moraes (Aqui!), fui até a página da TV da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro e encontrei o vídeo que traz um debate essencial para entendermos todos os equívocos que vem cercando a implantação do Complexo Industrial-Portuário do Açu.

Ainda que o processo esteja avançado, o debate sobre as implicações sociais, econômicas e ambientais do Complexo do Açu é essencial, num momento em que a imprensa especializada vem apontando que Eike Batista está tentando vender o Porto do Açu. E se realmente acontecer, é essencial que os interessados sejam informados do cenário que está estabelecido neste momento no V Distrito de São João da Barra. 

E mais importante, já passou da hora de se cobrar que o Ministério Público (federal ou estadual) tomem as decidas providências para que os agricultores familiares que estão sofrendo as consequências dos problemas apontados no vídeo!


sábado, 29 de junho de 2013

A terceira cabeça da hidra: congelamento de concursos e precarização da qualidade do ensino


Um dado que é pouco divulgado pela reitoria da UENF é que nos quase 7 anos de (des) governo de Sérgio Cabral não foi obtida a autorização para a realização de concursos para vagas "novas" que não fossem simples substituição da dezena de docentes que foram embora em busca de melhores salários nas universidades federais.  O que ocorreu foi a aplicação de um verdadeiro torniquete na realização de concursos para docentes que vem asfixiando a capacidade do corpo docente de cumprir todas as suas obrigações, inclusive o oferecimento de aulas no nível de qualidade que todos desejam. Para piorar ainda mais o problema, tampouco houve sequer a reposição no corpo técnico-administrativo onde a perda de profissionais foi ainda maior. Como resultado, os professores também estão tendo de desdobrar para cumprir as tarefas que esses profissionais realizavam.

A reitoria a UENF, em vez de advogar por mais concursos para professores e técnicos junto com a aplicação dos índices de recuperação salarial que são aprovadas anualmente pelo Conselho Universitário da instituição e solenemente ignorados pelo (des) governo Cabral, vem resolvendo a falta de professores de uma forma que apenas aprofunda a precarização do ensino. O principal mecanismo adotado tem sido a contratação de profissionais não doutores (mestres e graduados) em caráter precário nas chamadas "bolsas de apoio ao ensino".  Além disso, aproveitando uma brecha aberta pela CAPES que determina o cumprimento de carga docente por pós-graduandos, em muitos casos os professores doutores apenas cumprem o papel de ser coordenadores. 

A situação acabou sendo, ainda que contraditoriamente, mascaradas pelas greves que ocorreram nos últimos anos. Se os professores e servidores não tivessem usado o instrumento legítimo da greve para lutar pelos direitos é muito provável que este problema já tivesse se tornado mais visível antes.  Entretanto, a situação piorou ainda mais em 2013 com o forte corte orçamentário que foi imposto sobre a UENF, houve um aperto também na dotação de bolsas de apoio ao ensino, e o que se vê é a degradação da qualidade do ensino.

Agora,  em vez de exercer o papel de defesa da instituição, vemos a reitoria da UENF tentando quebrar o modelo de professores doutores atuando em regime  de Dedicação Exclusiva (DE) para substituí-lo por outro onde professores de tempo parcial viriam para cobrir as lacunas criadas pela recusa do (des) governo estadual em abrir novas vagas para professores doutores com DE.

Deste modo, o que está sendo vendido como solução é, na verdade, mais uma cabeça do projeto de desmantelar o modelo de excelência que foi idealizado por Darcy Ribeiro para alavancar o processo de desenvolvimento econômico e social da região Norte Fluminense.  Afinal, não precisa nem ser muito crítico para inferir que o mesmo governo que obriga a precarização do quadro docente vai também abrir concursos apenas professores em regime de Tempo Parcial. E quem está hoje na UENF sabe bem a diferença que é se relacionar com um professor contratado em caráter precário, pois na maioria das vezes até o melhor deles apenas é encontrável durante o horário da aula ou por correio eletrônico. E isto acaba criando graves dificuldades para os estudantes quando chegam no final de seus cursos, especialmente na hora da preparar a monografia (ou Trabalho de Conclusão de Curso).

Neste sentido, os estudantes da UENF deveriam ser os primeiros e principais interessados em influenciar o ritmo frenético com que a reitoria está tentando quebrar a regra de se contratar apenas professores doutores com DE.  As organizações estudantis deveriam, ao meu ver, demandar que todos os ângulos da questão sejam devida e claramente explicados aos estudantes que, afinal, são os interessados diretos na manutenção da qualidade de ensino. Há que se lembrar, por exemplo, que boa parte do sucesso da UENF e suas excelentes colocações em todo tipo de ranking deriva de uma combinação direta entre a performance dos estudantes e o nível de qualificação do corpo docente. 

Finalmente, há que se ficar claro que a resistência a esse processo de desmanche terá de ser coletivo, pois se o modelo for quebrado os perdedores não serão apenas os que já estão dentro da UENF, mas os que ainda desejarão vir.


O (des) governo Cabral e o projeto de destruição da UENF criada por Darcy Ribeiro: uma hidra de várias cabeças



O (des) governo de Sérgio Cabral, com a prestimosa ajuda da reitoria da UENF, quer destruir de todo jeito o modelo institucional criado por Darcy Ribeiro. Em função disso há várias semanas a universidade se encontra imersa num debate que opõe aqueles que querem preservar os elementos fundamentais do modelo de excelência que vai completar 20 anos neste próximo agosto aos que querem ajudar Cabral a destruir a UENF que conhecemos até hoje.

Uma cabeça dessa hidra que ameaça a UENF é a chantagem explícita de que o Cabral só pagará um adicional pelo regime de Dedicação Exclusiva vigente para todos os docentes trabalhando na instituição se os professores aceitarem a quebra da regra de só se contratar docentes portadores de títulos de doutorado e trabalhando em tempo integral e de forma exclusiva, contratando professores que não obedecem esses critérios. Mas pior ainda é a tentativa de contratar professores em tempo parcial (a proposta da reitoria da UENF é professores horistas com 20 horas de carga de trabalho) sem que se exija o título de doutor, abrindo o caminho para mestres e graduados ingressarem apenas para darem aulas.  Essa medida se aprovada representaria um gravíssimo retrocesso na UENF, pois impediria a realização de um ensino que esteja ancorado no tripé ensino, pesquisa e extensão.

A outra cabeça aparente dessa hidra é a tentativa de criar cursos  de graduação que universalizem o modelo não-presencial em que apenas cursos de licenciatura são oferecidas no chamado modelo de "Ensino a Distância" (EAD) dentro do CEDERJ. Assim é que neste momento está em discussão o oferecimento de dois cursos de bacharelado de perfil não presencial. Essa proposta para cursos de bacharelado é especialmente devastadora, pois a tendência é que os formados por esses cursos não tenham o devido treinamento em pesquisa, o tenderá a empobrecer a sua capacidade de atuação profissional. 

Um aspecto especialmente problemático deste desmanche do modelo idealizado por Darcy Ribeiro que se preocupava com a formação de profissionais com "consciência cidadã" é que a UENF seria colocada no mesmo nível de universidades particulares, onde a pesquisa científica é praticamente nula e com uma formação precarizada por causa disso.

Nesse sentido, o debate que continua ainda restrito ao interior do campus Leonel Brizola precisa ser de conhecimento de todos os que se preocupam em manter a UENF como um centro de produção de conhecimento e de democratização do conhecimento na região Norte Fluminense.  É urgente que se amplie essa discussão sob pena de vermos a genialidade do modelo idealizado por Darcy Ribeiro ser varrido do mapa por um governo altamente impopular e sem nenhum compromisso com o desenvolvimento científico e tecnológico do Rio de Janeiro. 

Finalmente, é preciso ter claro que o mesmo governo que desperdiça mais de R$ 1,0 bilhão com a reforma do Maracanã para depois entregá-lo praticamente de graça a um consórcio privado liderado por Eike Batista quer precarizar a UENF. Isso fica especialmente claro não apenas no achatamento salaria de professores e técnicos, mas na tentativa de desconstruir a essência do modelo acadêmico que foi construído por Darcy Ribeiro E isso não pode ser aceito ou tolerado.

Os megaeventos esportivos nunca mais serão os mesmos depois da rebelião brasileira


Lamentavelmente a imprensa corporativa brasileira, com raras exceções, está perdendo uma oportunidade de ouro para avaliar o impacto que megaeventos esportivos estão tendo no surgimento das manifestações massivas que deram uma chacoalhada no sistema político brasileiro.

Entretanto fora do Brasil uma série de reflexões estão sendo publicadas por vários veículos extremamente respeitados, como é o caso da Agência Reuters que acaba de disponibilizar a matéria abaixo cujo título é "As manifestações no Brasil levantam questões sobre megaeventos esportivos". 

E o que fica claro é que várias repercussões já estão ocorrendo e uma delas foi a retirada da Suiça da lista de países que estariam interessados em sediar os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, pois a população dos locais onde seriam construídas as estruturas para o evento votaram contra gastar dinheiro com esse tipo de coisa. Um detalhe marcante é que a Suíça é um dos países de renda mais alta no mundo!

Além disso a matéria mostra os problemas que a UEFA está encontrando para encontrar candidatos para sediar a Copa da Europa de 2020. O mesmo problema está sendo enfrentado pelo Comitê Olímpico Internacional em relação às Olimpíadas de 2020 onde faltam candidaturas!

Como o autor da matéria nota tudo isso decorre da revolta expressa por muitos brasileiros com os custos e regras exorbitantes feitas pela FIFA para a Copa de 2014. Essa revolta aumenta quando se considera a quebra da promessa de que não seria usado dinheiro público para a construção dos estádios.

Tudo isso junto mostra que a reação indignada dos brasileiros aos custos exorbitantes da Copa do Mundo estão tendo efeitos que ultrapassam as fronteiras do Brasil e vão impactar a realização de megaeventos esportivos por muito tempo.

Afinal, é por isso, como já disse um jornalista alemão, o resto do mundo deveria estar mesmo dizendo um sonoro "Danke Brasilien!" aos milhões de brasileiros que  foram às ruas protestar contra esse desperdício de dinheiro num país onde faltam escolas e hospitais.


Analysis: Brazil riots raise questions over sporting mega-events

By Brian Homewood

BERNE | 

(Reuters) - Brazilian anger against the cost of staging the World Cup could undermine the argument that host countries benefit from sporting mega-events as they become too big for most countries to handle.

UEFA's idea of splitting the Euro 2020 championship into mini-tournaments hosted in 13 different countries could be one of the alternatives which organizers could follow in the future, analysts say.

Brazil has been hit by a wave of nationwide protests as it hosts the eight-team Confederations Cup, a dry-run for next year's World Cup which will be staged in 12 different cities.

Although the protesters have a multitude of grievances, one of their main complaints has been the contrast between shiny new stadiums and shambolic state of public services including health, education and transport.

They are also angry that Brazil has broken a promise not to spend public money on stadiums, while failing to build many of the planned infrastructure projects.

"The stadiums for the World Cup will be built with private money," Orlando Silva, sports minister at the time, said in 2007 when Brazil was confirmed as the host nation. "There will not be a cent of public money for the rebuilding of the stadiums."

Instead, building work fell behind schedule and the state and federal governments had to come to the rescue.

Meanwhile, at least five host cities will miss out on promised bus lanes, metro lines or tram services and cities are now likely to declare public holidays on match days to reduce traffic, a move which critics says reeks of typical improvisation.

"What is happening right now in Brazil should be a watershed for FIFA and the World Cup," said Simon Chadwick, professor of sports marketing at Coventry University in central England.

"It should respond by working more strategically to ensure that future World Cups are not just two-week showcases, but have a longer-term legacy for host nations.

"It some ways, it's an acid test for FIFA and its ability as an organization to adapt, respond and learn."

SWISS REJECTION

"FIFA has never been especially open, direct or vociferous in accentuating legacy as an element of bidding and hosting," he added. "Such discussions are often centered on the number of people playing the game and the development of grassroots and competitions."

While Brazil, which also stages the 2016 Olympic Games in Rio de Janeiro, struggles to cope with the World Cup, other countries appear to be losing the appetite to stage major sporting events.

Switzerland, one of the world's most prosperous countries, backed down from bidding for the 2022 Winter Olympics after residents of the proposed host cantons voted against it in a referendum.

The 2020 Olympics games drew only five formal bids, from Istanbul, Madrid, Tokyo, Baku and Doha.

"It is showing that major sporting events have reached a point where you need to re-discuss what is being done and what is really a legacy," said Sylvia Schenk, senior advisor for sport at anti-corruption watchdog Transparency International.

"Even the bidding itself has become very expensive and costs millions of euros."

Chadwick warned of "industrial concentration" where "the same small group of nations repeatedly host sporting mega events."

"This clearly would not be good for the public and for democracy in sport," he said. "The global economic downturn of recent years needs to sharpen people's sense that sporting mega-events have spiraled out of control."

Last month, a UNESCO-organized meeting of sports ministers in Berlin issued a declaration which warned of the way events such as the World Cup, European championship, Olympics and winter Olympics were awarded and staged.

It said that "many oversized stadia are not financially viable post-event" and said increasing demands on host nations "may act as a disincentive to bid for major sport events and risk excluding certain countries from the bidding for or hosting of such events."

It also noted the trend of overbidding, described as "incurring higher costs than necessary in order to outbid competitors....and a corresponding escalation of hosting costs."

RADICAL MOVE

UEFA made a radical move after it received only three bids to host the 24-team European championship in 2020, instead deciding to stage the contest in 13 cities around the continent, each hosting three or four games.

"There are reasons to commend it, most notably the spreading of financial risk and cost," said Chadwick.

Host countries needed only one stadium, in some cases holding only 30,000 people. "It could be the right direction, even smaller countries usually have one stadium where they can stage two or three games," said Schenk.

FIFA, which has already awarded the 2018 World Cup to Russia and 2022 tournament to oil-rich Qatar, has more immediate worries, as it is seen as the villain of the piece in Brazil due to the conditions it has imposed on the host nation.

Countries can only stage the World Cup if they agree to tax exemptions and enforce FIFA's marketing rules, among other things. In Brazil's case, this has included lifting a ban on alcohol sales in stadiums, prompting former Brazil forward Romario, now a Congressman, to say that FIFA had set up "a state within a state."

"FIFA has been caught napping," said Chadwick. "The global political agenda has been turbulent for some time now.....FIFA should have seen what was coming. It has advertently, although entirely predictably, become embroiled in a geo-political debate."


(Reporting by Brian Homewood, editing by Justin Palmer)