CANAVIEIRO, UM TERMO REDESCOBERTO PARA FABRICAR UM FALSA DICOTOMIA
A pendenga envolvendo as usinas produtoras de açúcar e álcool e o Ministério Público Federal em Campos dos Goytacazes agora ganhou um nova (e falsa) dicotomia: canavieiros versus MPF. A idéia de construir esta falsa dicotomia é até ardilosa, visto que a palavra usineiro não costuma arregimentar bons sentimentos numa população acostumada com as venturas e desventuras desta categoria de empresários.
Mas, convenhamos, este ardil não resiste uma análise mínima do cadastro de proprietários rurais do INCRA. Se houvesse um interesse mínimo com o contraditório, poderia se dar uma chegadinha na UENF para conversar com pesquisadores que ali tem se debruçado para desvendar o caráter altamente concentrado da terra na região norte fluminense. Destes estudos fica patente que a abundância de latifúndios (a maioria deles improdutiva) é explicada por uma íntima correlação entre proprietários de usinas e os da terra. Em outras palavras, os donos das usinas são também controladores da maioria das terras.
Assim, ainda que tenhamos pequenos e médios plantadores envolvidos na monocultura da cana, a contribuição dos mesmos em termos de área plantada e cana produzida é minoritária. Além disso, em muitos casos, as terras destes segmentos estão arredandas pelas usinas, o que implica numa correlação ainda maior entre usineiros e a origem da cana que acaba sendo moída nas usinas. O lamentável é que qualquer criança nascida no norte fluminense sabe disto. Mas este "detalhezinho" passa sem ser notado por jornalistas e, claro, donos de jornais.
Mas como neste mundo nem tudo é lágrima, há que se saudar a obstinação do procurador da república em Campos dos Goytacazes, Eduardo Santos de Oliveira, que nos últimos anos vem se defrontando com os mais variados problemas oriundos das práticas anti-sociais (configuradas mais explicitamente na descoberta anual de centenas de trabalhadores na condição de escravos) e anti-ecológicas (como é o caso das queimadas que o MPF procura reprimir) que ainda predominam no setor sucro-alcooleiro de Campos dos Goytacazes. Esperemos que o procurador não seja repentinamente transferido para algum lugar distante para que seus esforços de fazer a lei ser cumprido pare de incomodar os que querem manter tudo como dantes no quartel de Abrantes.