Vagner Basilio, Poder Público desconhece situação de famílias em vulnerabilidade em Guaxindiba
Foram divulgados na última segunda-feira (29/07), os dados do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal do país. A pesquisa é feita com base nos censos demográficos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos anos de 1991, 2000 e 2012 e analisa educação, renda, trabalho, habitação e vulnerabilidade, confrontando com as características do município e a demografia. Os dados foram divulgados no Atlas de Desenvolvimento Humano Brasil 2013.
Dos municípios da Região Norte Fluminense, São Francisco de Itabapoana, que na série histórica seguia em último lugar, conseguiu um avanço, mas com o índice de 0,639, frente aos 0,503 da última pesquisa, ocupa a 91ª posição entre os 92 municípios do Estado do Rio de Janeiro e em 3312º entre os 5.565 municípios do país, mostrando-se distante de uma situação que atenda, pelo menos à maioria da população.
De acordo com o IBGE, o município de São Francisco tem 41.354 habitantes espalhados por um território de 1.122,438 km², o que resulta numa densidade demográfica de 36,94 habitantes por km². Ainda de acordo com o IBGE, 21,092 pessoas habitam a Zona Urbana do município, enquanto significativos 20,262 pessoas estão concentradas em diversas localidades da Zona Rural. Tal fato estende a área de atuação do município e faz com que quase metade da população fique desguarnecida de serviços básicos e essenciais. Em alguns casos, o poder público desconhece por completo as necessidades do munícipe.
SENTINDO OS PROBLEMAS NA PELE
Quem mora mais próximo ao litoral tem um pouco mais de facilidade com o transporte público. Já quem está em localidades como Santa Luzia, Deserto Feliz e Alegria dos Anjos, dentre outras, sofre com a falta de ônibus e até mesmo vans. Se os problemas com transportes deixam apenas parte da população rural desamparada, os da saúde são unanimidade em todo o município.
Em Buena, no litoral sanfranciscano, a dona de casa Leidilane Pereira Monteiro, de 21 anos relata a dificuldade na Saúde. Segundo ela o posto de saúde funciona de segunda a sexta, das 08h às 17h e com um médico especialista a cada dia, atendendo somente casos de emergência.
“No meu caso, que estou grávida de oito meses e meio, a dificuldade é o pré-natal. A ginecologista aqui só atende se a gente estiver com alguma dor, ou passando mal. Pra fazer um preventivo temos que ir a Ponto de Cacimbas, onde fica o hospital. É um pouco distante e se o pessoal que mora lá já tem que acordar cedo pra ser atendido cedo, imagina eu que moro longe”, lamentou a jovem gestante.
Na praia de Guaxindiba, o pintor Antônio Brito lima, de 28 anos, lamenta a morte de um conhecido que sofreu um infarto. Segundo ele, no posto médico do local não tinha ambulância e o Resgate teria demorado a chegar, não havendo mais tempo hábil para salvar a vida do amigo.
“Se for um caso mais sério a gente tem que ir pra Campos. Mês passado um amigo meu teve um infarto e não tinha ambulância no posto. O Resgate demorou a chegar e quando levou para o hospital, não tinha material para atender e ele acabou morrendo. Aqui na praia você pode ver a quantidade de lixo. O mar está levando tudo e a prefeitura não limpa o local,” lamentou.
E foi também em Guaxindiba que a equipe do Site Ururau encontrou a situação mais alarmante. Na foz do rio que dá nome a uma das nove praias existente nos 62 km do litoral de São Francisco ocorre um fenômeno semelhante ao que vem acometendo a praia de Atafona, no litoral de São João da Barra, onde o mar também avança pelo continente. No local, há três anos as águas salgadas vem corroendo a faixa de areia e, segundo a dona de casa Cassiandra Tavares Porto, de 30 anos, duas casas e um estabelecimento comercial já foram completamente destruídos e sem ter pra onde ir, os entulhos das casas devastadas vêm sendo utilizado numa barragem improvisada, na tentativa de adiar o inevitável.
“Essa semana, em três dias o mar avançou tanto que a água entrou nos nossos terrenos. O pessoal da prefeitura veio aqui há uns três anos, fez um cadastro, mas nada foi feito. Mais pra frente, onde você vê o rio encontrando com o mar tinha umas duas casas e um bar. A senhora que morava ali morreu. Todo dia ela colocava a cadeira na frente de casa e chorava vendo o mar chegando”, contou a dona de casa.
Sem ter para onde ir e com a saúde comprometida, Cassiandra, que mora com o marido e dois filhos, se vê sem saída e aguarda uma providência do poder público.
“Pra algumas pessoas, morar na beira do mar e dormir com o barulho das ondas seria uma bênção, mas pra mim é um tormento. Tomo remédio pra dormir e mesmo assim fico acordada. Estamos aqui a mercê da sorte. É arriscado a gente estar dormindo e o mar avançar e levar a gente”, finalizou.
O DESCONHECIMENTO
A equipe do Site Ururau esteve na prefeitura de São Francisco, onde em contato com o coordenador de comunicação Maurício Barreto, se surpreendeu ao constatar que nem a secretária de Promoção social do Município, Dayse Teixeira, nem o secretário de Meio Ambiente, Cláudio Heringer, assim como o próprio coordenador, ou qualquer esfera do poder público municipal conhecia o drama das famílias de Guaxindiba.
Por telefone, em ligação feita pelo próprio Maurício, a secretária Dayse Teixeira informou que nenhuma demanda deste tipo chegou à sua secretaria. Já o secretário de meio ambiente ratificou que a ação de aterramento foi feita irregularmente pelos moradores e que o problema ocorre por que os mesmo construíram suas casas muito próximas ao mar.
Quanto aos problemas de saúde, o coordenador de comunicação informou que os postos e hospitais contam com médicos e equipamentos e que as unidades de saúde teriam sido fechadas no governo anterior e que necessitam de tempo para adequação.
Maurício solicitou que fosse enviado um email solicitando as respostas, no entanto, até o fechamento da matéria, a resposta não chegou a nossa redação.