SÃO PAULO - Uma liquidação, no sentido de vender várias mercadorias a um preço acessível, é o que parece estar acontecendo com o grupo EBX. Das seis empresas que faziam parte do grupo e que tinham ações listadas na Bovespa, duas já estão em outras mãos, enquanto há conversas para outras duas deixarem de ter o megaempresário como acionista controlador.
A MPX Energia (MPXE3) foi a primeira a ser vendida, em março, para os alemães da E.On. Já a LLX Logística (LLXL3) fechou negócio no início de agosto para transmitir o controle para o grupo norte-americano EIG. Ainda na prateileira do 'Shopping X', MMX Mineração (MMXM3) já confirmou que está 'avaliando novas oportunidades de arranjo societário', após fontes apontarem diversos possíveis compradores, enquanto a CCX Carvão (CCXC3) deve vender duas minas. A OGX Petróleo (OGXP3), principal empresa de Eike na bolsa, pode vender suas operações de gás no Maranhão, enquanto a OSX Brasil (OSXB3) já teria recebido uma sondagem da Sete Brasil.
'A gente sabe que os problemas de caixa das empresas do grupo passa, principalmente, pela venda dessas companhias', afirma João Pedro Brugger, analista da Leme Investimentos. Para ele, é natural que essas empresas sejam negociadas: a imagem de Eike está completamente desgastada com o mercado, mas os bons projetos podem ser repassados para outras mãos que podem executá-los.
Quer pagar quanto?
E se é uma liquidação, os preços estão bastante atraentes. Basta comparar a quantia que ele arrecadou com a venda das ações da MPX em março, e da LLX em agosto. Se o megaempresário conseguiu embolsar R$ 1,5 bilhão com a venda do controle da MPX para a E.On no terceiro mês do ano, com a LLX nada irá para seu bolso - o controle foi arrematado com a promessa de injeção de R$ 1,3 bilhão para viabilizar a companhia.
De lá para cá, a situação piorou drasticamente em suas empresas e Eike teve que assumir uma postura diferenciada em relação as suas dívidas. Passá-las adiante se tornou uma necessidade, já que a holding, em si, tem dívidas pequenas. E equacionadas: o principal credor é o fundo soberano de Abu Dhabi, o Mubadala. Ele, porém, tem como garantia a AUX, empresa de exploração de ouro na Colômbia.
A prioridade, então, é passar as dívidas adiante - por ser o novo controlador da LLX, por exemplo, a EIG assume o risco de um passivo de mais de R$ 2 bilhões, aliviando a situação financeira de Eike. 'Ele precisa vender, sim. Ele mesmo já tem sinalizado, não de maneira explícita, que ele precisa realizar algumas vendas e reestruturar algumas empresas', afirma Brugger.
Para Henrique Kleine, analista-chefe da Magliano Corretora, não dá para generalizar se existe uma tentativa de vender os ativos a um preço atrativo - mas chama a atenção, a própria qualidade dos ativos a serem repassados. 'Os ativos do Eike não tiveram o sucesso que era esperado pelo mercado e hoje o grupo passa por uma situação complexa', afirma.
Dificuldade de vender?
Há uma outra causa que complica: a falta de interesse dos investidores em algumas das empresas. A OGX, por exemplo, tem dívidas enormes e apenas dois locais onde produz: petróleo na Bacia de Campos e gás natural no Maranhão. Se o ativo do Maranhão já atrai interesse, ninguém tem interesse em levar a OGX e seu famigerado campo de Tubarão Azul, que deve parar a produção no início do ano seguinte.
A esperança reside em esperar uma produção interessante em Tubarão Martelo, que deve ser iniciada no final do ano, na expectativa que ela chame a atenção de outros participantes do mercado. 'Alguém para comprar tem que ter muito interesse, pois a dívida é muito alta e o risco é muito grande', diz Kleine.
Para Brugger, isso não importa, alguém vai aparecer para assumir os ativos que ainda tiverem alguma qualidade, e a mudança de controlador, para alguém com maior experiência nos setores, deve gerar companhias com maior perspectiva. 'Muda o controlador, não dá nem para considerar que são mais do grupo EBX. Alguns erros não serão cometidos novamente', afirma o analista da Leme Investimentos.
Empresas podem ficar encalhadas
Mesmo assim, tanto a OGX quanto a OSX são tidas como 'problemáticas demais' para mudar de mãos. É a OGX o 'olho do furacão' da crise, embora - por muito tempo - tenha sido considerada a 'jóia da coroa' do grupo EBX. Integradas demais, a expectativa para as duas companhias reside na recuperação da petrolífera.
Enquanto a OGX é altamente endividada e tem problemas operacionais, a OSX nasceu para suprir a petrolífera - e com os problemas enfrentados pela OGX, a empresa de construção naval praticamente não possui demanda, embora já estude ofertar seus produtos para outras petrolíferas, como a Petrobras (PETR3; PETR4). 'Algumas empresas do grupo não tem valor, e aí fica difícil vender', termina Kleine.
Confira como estão as negociações:
Empresa | Negociação | Interessados |
MPX Energia | Vendida para a E.On em março, empresa busca novos interessados para comprar a parte restante de Eike | Ninguém (E.On supostamente barrou a proposta de uma rival) |
LLX Logística | A ser vendida para o EIG nos próximos meses, dependendo de algumas aprovações | EIG |
MMX Mineração | Muito interessados no porto sudeste, mas diretor-presidente destacou que procura 'vender a empresa como um todo' | MRS, Usiminas, CSN, Glencore, Xstrata |
CCX Carvão | Vendendo duas minas de carvão a céu aberto na Colômbia | Desconhecidos |
OGX Petróleo | Campo produtor de gás natural pode ser vendido, sucesso em Tubarão Martelo pode atrair outras petrolíferas, sendo que, por acordo, a Petronas pode comprar 5% da companhia | MPX (gás), Petronas (petróleo) |
OSX Brasil | Rumores indicam que a companhia está sendo vendida como um todo, mas corre o risco de encalhar | Sete Brasil |