Nesta terça, 20 de agosto, a humanidade entra em dívida ecológica – em pouco mais de oito meses, utilizamos tudo que a natureza é capaz de regenerar em um ano
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Pegada pesada: até meados do século, serão necessárias duas terras para atender o consumo
São Paulo - Até o final desta terça-feira (20), a humanidade terá superado o orçamento da natureza para o ano, passando a operar no cheque especial, segundo dados da Global Footprint Network (GFN), uma organização de pesquisa que mede a pegada ecológica do homem no Planeta. Pior, entramos no vermelho cada vez mais cedo.
Em pouco mais de oito meses, esgotamos todos os recursos que a natureza é capaz de oferecer de forma sustentável no período de um ano, desde a filtragem de CO2 da atmosfera até a produção de matérias-primas para a alimentação.
À medida que aumenta nosso consumo, cresce a nossa dívida ecológica. Em termos planetários, os resultados dos juros que pagamos se tornam mais claros a cada dia. Eles se traduzem na perda de bens e serviços ambientais, desequilíbrio climático, na redução de florestas, perda de biodiversidade, colapso de recursos pesqueiros, escassez de alimentos, redução da produtividade do solo e acúmulo de gás carbônico na atmosfera.
“As crises ambiental e econômica que estamos vivenciando são sintomas de uma catástrofe iminente. A humanidade está simplesmente usando mais do que o planeta pode oferecer”, alerta o estudo.
Precisaremos de duas Terras até 2050
A diferença entre a capacidade de regeneração do planeta e o consumo humano gera um saldo ecológico negativo que vem se acumulando desde a década de 80, também estimulado pelo crescimento populacional - já somos 7 bilhões de habitantes.
De acordo com cálculos da Global Footprint Network, a nossa demanda por recursos ecológicos renováveis e os serviços que eles fornecem é agora equivalente a mais de 1,5 Terras. Nesse ritmo, os dados mostram que precisaremos dos recursos de dois planetas bem antes de meados do século.
Hoje, mais de 80 por cento da população mundial vive em países que usam mais do que seus próprios ecossistemas podem renovar. Estes países "devedores ecológicos" ou esgotam de uma vez seus próprios recursos ecológicos ou os obtém de outro lugar.
Residentes do Japão, por exemplo, consomem recursos de 7,1 “Japãos”. São necessárias quatro “Itálias” para abastecer a Itália. Já o Egito usa os recursos ecológicos de 2,4 “Egitos”.
Claro que nem todos os países exigem mais do que seus ecossistemas podem fornecer, mas até mesmo as reservas de tais "credores ecológicos", como o Brasil, Indonésia e Suécia, estão diminuindo ao longo do tempo. “Nós não podemos mais sustentar um déficit orçamentário crescente entre o que a natureza é capaz de fornecer e o quanto nossa infraestrutura, economias e estilos de vida exigem”, finaliza o estudo.
E se todos vivessem como os paulistanos?
Um estudo feito pela WWF-Brasil, em 2012, mensurou a pegada ecológica dos paulistanos e dos paulistas. O levantamento mostrou que se os 7 bilhões de habitantes do mundo consumissem como os moradores da região metropolitana de São Paulo, com seus 38 municípios, precisaríamos de até duas Terras para nos saciar.
Agora, se seguíssemos o estilo de vida e padrões de consumo de um habitante da capital, a maior cidade da América Latina, seriam precisos quase 2,5 planetas por ano para atender à demanda.
De acordo com estudo, a pegada ecológica média do estado de São Paulo é de 3,52 hectares globais per capta (gha/cap) e da capital de 4,38 gha/cap. Mais, os hábitos de consumo dos paulistanos geram uma pegada ecológica que é quase o dobro da média da população brasileira.