Como descendente de imigrantes que abandonaram o leste da Europa para vir, viver, trabalhar e morrer no Brasil, as últimas semanas são de profunda vergonha. Não por mim, mas por aqueles que se deram ao inglório trabalho de ir a aeroportos vaiar os médicos cubanos que chegam ao Brasil para trabalhar no "Mais médicos". Eu fiquei imaginando como é que meus parentes se sentiram quando pisaram no solo brasileiro pela primeira vez. Afinal, todo imigrante (temporário ou permanente) sempre passa por um período de estresse na sua nova terra. E olha que naquele tempo, o máximo que eles sofreram na chegada foi a inapetência dos agentes da imigração para escrever sobrenomes que tinham mais consoantes do que vogais!
Assim, a reação de xenofobia, insensibilidade e corporativismo cego que parte da classe médica brasileira está tendo em relação aos médicos cubanos que vieram ao Brasil participar do programa "Mais médicos" caiu como uma benção dos céus para a presidente Dilma Rousseff e seu governo neoliberal.
É que se colocar tão na extrema direita, as corporações médicas e seus aliados na imprensa corporativa acabaram colocando o governo neopetista para um espectro de esquerda, especialmente porque essa briga está apresentada como um exemplo claro de luta contra o extremismo das oligarquias brasileiras.
Agora que ninguém se surpreenda se Dilma Rousseff voltar a patamares mais cômodas nos levantamentos de popularidade. E ela só terá que agradecer ao CFM e aos CRMs e aos sindicatos médicos por essa mãozinha.
Enquanto isso nas filas dos hospitais públicos, especialmente no Rio de Janeiro, os pobres continuam sendo tratados como passageiros de uma interminável agonia, enquanto muitos profissionais de saúde sequer se dão ao trabalho de aparecer para trabalhar.