A reitoria da UENF acaba de lançar uma nota à comunidade universitária (Aqui!) num dia que deveria ser de festa, mas que eles querem transformar a todo custo em velório, traz alguns elementos novos, apesar das aparências de mesmice:
1) Há um recuo claro em torno do papel que a ADUENF supostamente teve na preparação dessa minuta, pois agora fica mais óbvio que foi a reitoria, e não a ADUENF, que apareceu com essa minuta. Mas a realização desse recuo era meio óbvia, depois que o presidente da ADUENF, Prof. Luis Passoni, desmentiu em nome oficial que o sindicato dos professores tenha feito qualquer acordo com a reitoria e com o governo para que essa minuta fosse apresentada. Assim, que a reitoria fique de agora em diante com os ônus e bônus de seus malfeitos.
2) Agora em relação à explicação de porque a minuta foi feita para quebrar o regime tem dois itens soberbos e que merecem uma placa. Vejamos pois: a) a grande diferença estrutural e de vencimentos nas carreiras entre as duas instituições; b) a conquista da equivalência de valores salariais no mais curto espaço de tempo possível. Afinal, descobriram a pólvora? Não apenas se curvaram à vontade do governo de rebaixar os salários de todas as universidades estaduais, igualando-as por baixo. É que em vez de resolver as diferenças estruturais e de vencimentos existentes a partir do padrão superior, o de Darcy Ribeiro, os "gênios" da reitoria resolveram retroagir a UENF para a década de 1970 do século com a criação do TP 20 horas! Além disso, ainda nos entregam numa bandeja por uma DE que só será paga completamente em 2017. Parodiando alguém aqui dessa lista eu só posso falar "gênios, gênios, gênios".
3) Agora vamos ao professores horistas e suas justificativas. Segundo a reitoria, "esta proposta tem o intento de abrir mais a nossa Universidade para o seu entorno, viabilizando áreas de atividades acadêmicas relevantes e reclamadas pela Sociedade. Pretende-se atrair profissionais de alta qualificação e com vínculos em setores de grande demanda no país." Agora que nos expliquem bem quais são as áreas acadêmicas reclamadas e por qual sociedade! Além que profissionais de alta qualificação com qualquer setor de grande demanda no país aceitariam trabalhar numa condição precária na UENF, quando o resto das universidades públicas brasileiras estão acabando com esses professores horistas? Novamente, a falta de transparência se junta à falta de qualquer argumento sólido para desmantelar o modelo de Darcy Ribeiro.
4) Os gestores da UENF são bons para falar em nome de Darcy Ribeiro. Mas por que é que Darcy Ribeiro não incluiu os cursos de medicina e direito entre os que deveriam ser oferecidos pela UENF? Eles sabem, ou deveriam saber, que Darcy Ribeiro não queria que a UENF tivesse cursos que já estivessem sendo oferecidos de forma consolidada no município de Campos. De quebra, Darcy Ribeiro tinha a experiência da UERJ onde o Hospital Universitário Pedro Ernesto comia e continua comendo uma parte significativa do orçamento anual.
5) Novamente em relação à Darcy Ribeiro, os gestores da UENF falam em sua nota que Darcy Ribeiro era avesso à dogmas, o que é plausível. Agora, me digam, se Darcy Ribeiro seria a favor de que quebrassem o seu modelo recorrendo a votos de chefes que desrespeitaram os votos de seus laboratórios? Além disso, Darcy Ribeiro concordaria em que seu modelo fosse quebrado para que cursos que ele julgava desnecessários para a UENF possam ser oferecidos por professores horistas? Ora bolas, nem é preciso pensar muito nem ler a obra que tem na Professora Yolanda Lobo, que se posiciona totalmente contra essa quebra da DE, uma de suas organizadores.
Mas vamos ao mérito dessa nota fúnebre. Agora sabemos qual foi a misteriosa razão que orientou essa volúpia de quebrar o modelo de Darcy Ribeiro justamente no ano em que a UENF faz 20 anos: a criação de cursos com professores horistas! Qualquer outro argumento é secundário, mesmo porque a vontade de entregar a UENF para as vontades do governo é tanta que se está aceitando que a D.E. só tenha o seu pagamento integralizado em 2017!
Finalmente, essa nota é um reconhecimento de que a reitoria da UENF se desesperou com a reação de professores e estudantes à sua tentativa de desmantelar o modelo Darcy Ribeiro de docentes com doutorado trabalhando em regime de Dedicação Exclusiva. Mas é bom notar que talvez o desespero aumenta ainda mais nos próximos dias e semanas. Uma razão básica é a mobilização interna que continua crescendo. Mas há outra razão que será ainda mais vexatória: o próprio governo Cabral poderá vir a dizer que o filho da quebra da DE não é dele, e quem pariu que o embale. Afinal, há que se lembrar que o governo Cabral já desistiu de destruir o Célio de Barros, o Júlio Delamare, o Museu do Índio, a Escola Friedenreich, a Vila do Autódromo e agora anda falando em desprivatizar o Maracanã. No meio de tanto recuo, e com resistência forte não fica difícil prever que o governo Cabral vá recuar aqui também. Mas avisados os gestores foram, e não ouviram porque não quiseram.