terça-feira, 20 de agosto de 2013

Reestruturação da EBX deixa Eike Batista só com ‘micos’

Por   Nicola Pamplona e Vanessa Correia (redacao@brasileconomico.com.br) 



Com a venda do controle das três melhores empresas, o grupo EBX tem agora o desafio de resolver a situação de OGX, a mais endividada e problemática.



Do império de cinco empresas, duas já foram vendidas e uma está a caminho. O grupo deve ficar apenas com as problemáticas OGX e OSX.


Com redução do caixa e endividamento e prejuízos maiores, os balanços do segundo trimestre das principais empresas criadas pelo empresário Eike Batista comprovam a situação delicada do grupo.

Ontem, foram anunciadas negociações para a venda do controle da mineradora MMX, a exemplo do que já ocorreu com MPX, comprada pela alemã E.ON, e LLX, que será vendida à americana EIG Management Company. A principal dúvida do mercado, agora, reside no futuro da OGX, que fechou o trimestre com R$ 721 milhões em caixa, suficiente apenas para o pagamento de compromissos que vencem no terceiro trimestre.

Juntas, OGX, OSX, MMX, LLX e MPX, fecharam o período com prejuízo de R$ 5,3 bilhões e com apenas R$ 2,4 bilhões em caixa, volume 55% inferior ao verificado no trimestre anterior. O prejuízo acumulado das empresas cresceu 496%, inflado pelas perdas da OGX, que aumentaram de R$ 804 milhões para R$ 4,7 bilhões entre o primeiro e o segundo trimestres, com forte influência de provisões para perdas nos investimentos em projetos descontinuados na Bacia de Campos. Mas houve grande crescimento também nos prejuízos de MMX (702%), OSX (660%) e LLX (564%).

Seguindo a estratégia de focar em negócios atrativos para aguçar o interesse de eventuais compradores, o presidente da MMX, Carlos Gonzalez informou que a empresa vai priorizar investimentos no projeto Serra Azul, em Minas Gerais, e pode descontinuar as operações em Corumbá (MS).

No balanço do segundo trimestre, a companhia reconhece uma perda de R$ 154 milhões com reavaliação do valor do ativo, que tem altocusto logístico - o minério da região é transportado por barcaças fluviais até alcançar o oceano pelo Rio da Prata, na fronteira entre Uruguai e Argentina.

Gonzales disse que a empresa espera ter em breve um novo acionista que ajude a definir o futuro da companhia. Além das minas, a MMX é responsável pelo projeto Superporto Sudeste, em Itaguaí, região metropolitana do Rio, considerado um dos melhores ativos do grupo de Batista. A venda da empresa deve seguir os mesmos moldes das operações com MPX e LLX, nas quais Batista permanece como acionista minoritário.

As negociações envolvendo a LLX foram anunciadas na quartafeira. A EIG se comprometeu a injetar R$ 1,3 bilhão em um processo de capitalização da empresa, assumindo o controle. Segundo a companhia, os recursos serão usados na conclusão das obras do Porto do Açu, no litoral norte do Rio.

O presidente da LLX, Marcus Berto, disse em teleconferência com analistas que o dinheiro deve entrar em dois ou três meses. Ao divulgar o balanço do trimestre, a empresa anunciou revisão de custos no projeto logístico MinasRio, de transporte de minério da região central para o Porto do Açu, com um aumento de R$ 600 milhões no orçamento.

Com a venda do controle das três melhores empresas, o grupo EBX tem agora o desafio de resolver a situação de OGX, a mais endividada e problemática, e OSX, bastante dependente da primeira. "A OGX enfrenta uma situação delicada.

A produção, que deveria avançar trimestre após trimestre, está caindo. Com isso, a receita, que deveria crescer, recuou no segundo trimestre", comenta a analista de petróleo do Banco do Brasil Investimentos, Carolina Flesch. A receita da empresa no segundo trimestre foi 20% menor do que a registrada nos três primeiros meses do ano.

Relatório divulgado pelo Deutsche Bank dá a dimensão do problema: com R$ 721 milhões em caixa, a empresa tem R$ 710 milhões a pagar no terceiro trimestre em dívidas com o mercado, com a OSX e com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), pela aquisição dos blocos licitados na 11ª Rodada de Licitações.

Além dos custos operacionais, a empresa ainda terá dispêndio com investimentos, já que corre para iniciar a produção do campo de Tubarão Martelo, o que lhe garantirá um pagamento de US$ 250 milhões da malaia Petronas, sócia no projeto.

Fontes próximas esperam para breve anúncios de reestruturação da dívida, hoje em R$ 8,7 bilhões, para garantir a sobrevivência da companhia até a entrada do dinheiro da Petronas. A OGX contratou a consultoria Blackstone para negociar com os credores.

A situação da OGX impacta diretamente a OSX, que também permanece sob o controle da holding EBX, responsável pela construção e afretamento de plataformas para a petroleira do grupo. "As empresas de melhor situação estão saindo primeiro. Com o tempo, vão ficar no grupo apenas as mais desafiantes, como OGX e OSX", diz o analista-chefe da Gradual Investimentos, Paulo Esteves.

Diante da situação das duas empresas, bastante conectadas, o mercado vê dificuldades para a venda do controle no modelo verificado nas outras companhias. "A menos que apareça algum grande player internacional, interessado em entrar no Brasil", pondera Esteves.

No mercado, a expectativa é que a companhia venda participações em ativos, como estratégia para levantar recursos para seus planos de investimentos. Além de Tubarão Martelo, a OGX tem um projeto em desenvolvimento na Bacia de Campos, chamado Rêmora, e reservas de gás natural na Bacia do Parnaíba. Até o dia 31, assina contrato com a ANP para nove concessões exploratórias na região Nordeste.


Companhias seguem rumos diferentes na bolsa brasileira


As "empresas X", do empresário Eike Batista, vivem momentos distintos na bolsa brasileira em agosto. Enquanto as ações da LLX e MMX acumulam valorização de 73,96% e 20%, respectivamente, somente este mês, os papéis da OGX, OSX e MPX apresentam queda de 4,55%, 21,88% e 19,42%, respectivamente, até ontem.

Segundo analistas, até um passado recente, qualquer notícia que afetasse uma das companhias refletia nas demais, em virtude da crise de confiança enfrentada por elas. A partir de agora, as negociações unilaterais - como a da LLX com o Grupo EIG - devem fazer com que as ações despontem e se descolem uma das outras. Prova disso é que um dia após a divulgação do acordo, os papéis da LLX registraram alta superior a 10% na bolsa brasileira, enquanto os ativos da OGX apresentaram queda de 7,35%.

"A estratégia adotada por Eike Batista é clara: encontrar um investidor estratégico interessado nas companhias e reduzir sua participação. Isso trará impacto positivo, dado o reforço de caixa. O mercado gostou da operação da LLX e a próxima empresa que deve trilhar o mesmo caminho é a MMX", afirma Luiz Gustavo Pereira, estrategista da Futura Investimentos.

A situação da OGX é um pouco mais complicada. "Os investidores não devem depositar suas fichas novamente na companhia enquanto não observarem resultados consistentes no Campo de Tubarão Martelo, previstos para o segundo semestre", destaca Carolina Flesch, analista do BB Investimentos.

Além disso, as ações da companhia devem ser retiradas do MSCI, índice composto por papéis de empresas de mercados emergentes, movimento compensando, em parte, pelo aumento de participação no rebalanceamento do Ibovespa, em setembro. "A evolução do preço (da OGX) tem se descolado dos fundamentos da empresa e esse movimento vai continuar enquanto OGX fizer parte do índice.

Existe um incômodo grande na bolsa com relação à distorção que as ações estão causando no índice. Mas não pode mudar de uma hora para a outra, para não provocar transferência de resultado entre os investidores. Se houver mudança, tem que ser pensado", diz Paulo Esteves, analista-chefe da Gradual Investimentos.