Em meus anos de militante do movimento estudantil na década de 1980 fiz a opção de ingressar na corrente "Liberdade e Luta" e, através dela, pude auxiliar no início da construção do PT. A Liberdade e Luta, também conhecida por adversário e inimigos como LIBELU, deixou de existir a partir de um processo de desmobilização que foi coordenado pela direção majoritária da organização política que a impulsionava em nome de uma maior integração ao PT. Depois se viu que o fim da LIBELU era parte de uma tentativa de destruir a organização política que a impulsionava. Mas essa é uma história para outro dia.
Mas não é que essa semana o jornalista Marco Damiani, diretor de redação do site "Brasil 247", ressuscitou a LIBELU para atacar o movimento que demanda que as câmaras municipais de São Paulo e Rio de Janeiro apurem os muitos de corrupção que assombram essas duas cidades. Segundo Damiani, militantes do PSOL seriam ex-LIBELUs que agora estariam conspirando contra a boa saúde da democracia brasileira (Aqui!).
A primeira coisa que pode se dizer é que Damiani se quizesse fazer um mínimo de bom jornalismo diria que existem ex-LIBELUs dentro de várias instâncias do PT e muitos são importantes dirigentes do governo federal. Também existem ex-LIBELUs em vários partidos, inclusive os de direita. Porém, provavelmente, existem outros ex-LIBELUS que estão no PSOL e no PSTU. Há ainda que dizer que existem outros ex-LIBELUS como eu que continuam atuando politicamente, sem que estejam dentro de partidos.
Agora por que toda essa raiva contra uma corrente estudantil que deixou de existir há mais de 30 anos? Provavelmente porque a LIBELU foi uma excelente escola de formação de quadros políticos, ainda que nem todos tenham usado essas lições para ajudar na transformação estrutural que o Brasil precisa. Aliás, se o olharmos figuras como Antonio Palocci, Luis Gushiken e Clara Ant, veremos que eles se contentaram em participar de um governo que contribui para o aumento da exploração da classe trabalhadora, povos indígenas e quilombolas. Tivemos ainda outros que migraram para se tornar quadros da direita, como é o caso do Demétrio Magnoli.
Quanto a mim só tenho a dizer a Damiani et caterva que essa associação da LIBELU com o PSOL é até boa como tentativa de demonização, mas não sobrevive à mínima análise histórica. É que a LIBELU tinha disciplina centralizada e programa claramente revolucionário. Se o PSOL evoluísse nesses dois quesitos, talvez ai Damiani tivesse com que realmente se preocupar.
Mas como Damiani me trouxe essa recordação, mando daqui um poema de Paulo Leminski em nome à LIBELU
me enterrem com os trotskistas
na cova comum dos idealistas
onde jazem aqueles
que o poder não corrompeu
me enterrem com meu coração
na beira do rio
onde o joelho ferido
tocou a pedra da paixão