sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Professor da UENF reflete sobre consequências da quebra do modelo de Darcy Ribeiro


Considerações acerca da quebra da Dedicação Exclusiva


Prof. Geraldo Timóteo – CCH

Aos companheiros de viagem, nessa nave que se chama UENF. Ainda sob o efeito dos acontecimentos que culminaram na votação de mudança do modelo de desenvolvimento da UENF, busquei refletir sobre o acontecido e o texto que leem procura dar algum princípio de entendimento, senão para os que o leem, pois isso é sempre uma questão de percepção individual, pelo menos para mim, no sentido mesmo de saber onde amarrei minha égua, para usar uma expressão de atonia muito usada em Minas. 

Para isso, utilizei-me da compreensão de que o modelo de desenvolvimento da UENF baseia-se, claramente, no longo percurso de consolidação da revolução na ciência e na tecnologia experimentadas no Séc. XX e que o Saudoso Darcy Ribeiro conhecia como poucos. Essas transformações representaram uma mudança fundamental na ligação entre ciência e tecnologia e suas relações com a sociedade. A principal marca desta transformação foi a criação de mecanismo sociais de apoio à pesquisa, com seu consequente desenvolvimento de ambientes adequados à pesquisa e a implementação de organizações capazes de proceder ao recrutamento de indivíduos com vocação para a ciência. Para isso, foram desenvolvidas novas organizações (centros de pesquisa estatais e privados) e reforçadas aquelas já existentes, como a Universidade, cuja estrutura fundamentava-se em proporcionar os meios suficientes para aqueles que tornaram a busca de conhecimentos sua razão profissional e, como sabemos todos (as), a garantia de emprego e a dedicação exclusiva, sempre cumpriram papel importante, senão, fundamental, para criar as normas morais para o pleno desenvolvimento intelectual de seus participes. 

A ciência avançou tempestivamente, tornando-se, então, um meio para o desenvolvimento da sociedade, sempre cuidando para que a busca da verdade válida fosse sempre um instrumento a serviço dos interesses maiores da humanidade e não de seus atores privados. Contudo, um aspecto que não pode ser negligenciado é o fato de que nesse desenvolvimento ocorrem inúmeros esforços para estabelecer-se uma ligação direta entre ciência e tecnologia, entre centros de pesquisa e as necessidades do mercado, buscando, com isso, realizar objetivos econômicos e de mercado, impondo-se uma incansável busca de racionalização econômica, levando a que de pensadores (pesquisadores) independentes, passássemos a empregados anônimos (ainda que, supostamente, no topo das carreiras). Perdemos a capacidade de criarmos comunidades auto-reguladas, para nos submetermos a expressões caricatas de necessidades mercantis e de políticos de plantão, como sucede agora. 

Assim, dado o desfecho que não se reduz à quebra da DE, mas, complementa-se com a criação dos cargos de TP 20h, e sua incapacidade de oferecer, a qualquer pessoa minimamente qualificada para a prática científica, meios suficientes para o pleno desenvolvimento de seus interesses acadêmicos e que acabará por servir mais a amigos do que a cientistas , parece-me que se caminha para recusar à UENF as sóbrias expectativas de sua criação, qual seja a de que viesse a tornar-se um centro de produção de saberes necessários ao desenvolvimento humano integral. Contudo, o tempo e seus algozes quiseram que se tornasse apenas mais um lugar onde se realiza o capitalismo, o tipo brasileiro, diga-se de passagem: atrasado, elitista e conservador. 

Com esse pensamento, busquei, então, em segundo lugar, indagar-me sobre a questão que fica dos acontecimentos e, consiste, exatamente, em saber se a organização social que está sendo construída ou descontruída (do que se trata nesse momento) será capaz de permitir ou contribuir, efetivamente, para a “revolução no pensamento social e nos valores da sociedade que será requerida com vistas à sobrevivência no longo prazo da espécie humana, com uma razoável qualidade de vida, dentro de seu meio ambiente natural” (KLOVDAHL, p. 667), pois, o que percebemos é que os indivíduos estão, cada vez mais, submetidos à maquinaria de produção do capitalismo atual e, isso, tem significado, nas sábias palavras Klovdahl, de que a ...“capacidade críticas de cientistas, engenheiros e de modo mais geral intelectuais estão cada vez mais anestesiadas (muitas vezes por suas próprias ambições pessoais de êxito, ou necessidades de sobrevivência, dentro do atual sistema)” (idem, p.668) e, como membros anestesiados dessa sociedade, passam a compartilhar, com os demais, um esforço máximo para imitar os modelos de consumo de massa do ocidente materialista. 

Disto resulta o fato de que acabamos (e me incluo tendo em vista compartilhar com meus pares de um mesmo destino) por não sermos capazes, como se esperava que fossemos, de perceber nossas responsabilidades ante ao novo que se vai criando e, com isso, como afirma o autor citado, contribuímos para fechar “as janelas de oportunidade possivelmente restantes” à nossa sociedade humana, pois, de nós, o que se pode esperar? Haja vista os resultados alcançados nesse momento e dos meios lançados mão para o fazer, senão, nos rendermos à tecnocracia que se impõe e é aceita “cordeiramente”(!!!?). 

Contudo, gostaria de finalizar com um grande pensador de nosso tempo, o Químico Ilias Prigogine, ganhador do Nobel em 1977, quando este diz que “o futuro não é mais dado, sendo uma construção” e que “as decisões humanas dependem das lembranças do passado e das expectativas para o futuro”, cabendo ao “homem tal qual é hoje, com seus problemas, dores e alegrias, garantir que sobreviva no futuro”. Esperamos que haja consciência no ser humano para tamanha responsabilidade.