sábado, 10 de agosto de 2013

Eike Batista suspende financiamento das UPPs seguindo a máxima do "acabou o milho, acabou a pipoca"

Eike Batista cancela R$ 20 milhões que injetava por ano nas UPPs


Parceria com bilionário foi anunciada com pompa, em 2010, pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame


ADRIANA CRUZ

Rio - Principal projeto do governador Sérgio Cabral, as Unidades de Polícia Pacificadoras sofreram um baque com corte no financiamento. O empresário Eike Batista suspendeu a verba de R$ 20 milhões, por ano, para a implantação de novas UPPs. A OGX, empresa do grupo do bilionário, informou a decisão de cancelar todos os convênios ontem à Secretaria de Segurança Pública do estado. O dinheiro servia para construção da sede para os policiais militares e compra de equipamentos, como computadores, viaturas, motos, munição, armas, uniformes e formação.

O recuo de investimento de Eike, que enfrenta crise em suas 14 empresas, na área de segurança, pode comprometer o planejamento das novas unidades. Isso porque o estado terá que licitar a compra dos equipamentos para as futuras UPPs, como a da Maré, que eram doados pelo empresário, sem burocracia, a partir de pedidos da secretaria.



Freada brusca de Eike Batista nos investimentos na área de segurança do estado pode comprometer o planejamento de novas UPPs no RioFoto: Reuters

Um processo de licitação, na melhor das hipóteses, demora no mínimo seis meses. Procurada pelo DIA , a assessoria de imprensa do empresário, já não tão bilionário, informou que não se pronunciaria sobre o assunto. Em nota oficial, a Seseg explicou que “se organiza para dar continuidade a todos os projetos até dezembro de 2013. Já em 2014, todos os custos entrarão no planejamento orçamentário da secretaria. Os projetos não serão prejudicados”.

A parceria com Eike foi anunciada com pompa, em 2010, pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. Foi tratada como vital para dar velocidade à implantação das unidades, principalmente pela dispensa de licitação. A dobradinha com o estado previa a manutenção dos recursos até o ano que vem, quando o Rio será uma das sedes da Copa do Mundo.

Agora, a secretaria vai ter que correr contra o tempo para contabilizar a falta da ajuda financeira. O primeiro passo é fazer o inventário do que vai deixar de receber este ano do empresário. Enquanto Eike só avisou do corte de verba ontem à secretaria, dia 6 a OGX enviou e-mail ao Instituto de Estudos da Religião (Iser) rescindindo o convênio de R$ 1,5 milhão com a entidade, que cobria o desenvolvimento de cursos de formação para 15 mil praças e oficiais que atuam em áreas das 33 UPPs e servem a batalhões.

A proposta é elaborar modelo com base no conceito de ‘Polícia de Proximidade’, com 12 cursos, de 80 a 120 horas, e produção de material didático. Para acompanhar a execução, foi criado comitê, formado por integrantes da rede de ensino da PM, de policiais da Coordenadoria de Polícia Pacificadora e do Iser. Em nota, o instituto trata o trabalho como de ‘envergadura’.

Cursos à espera de verbas

Em abril, o Iser começou a desenvolver curso de formação, principalmente para policiais de UPPs. Criou equipe multidisciplinar e contratou especialistas em segurança. Em três meses, 11 unidades foram acompanhadas, 11 PMs, entrevistados, e montados sete grupos com 12 oficiais e praças. O material é para o projeto pedagógico, e início dos cursos, em outubro, que seriam ministrados até dezembro de 2014. O Iser informou que está em diálogo com a secretaria, que se mobiliza para cobrir o orçamento.

1,5 milhão de beneficiados na cidade

Desde o início da implantação das 33 UPPs, 1,5 milhão de pessoas foram beneficiadas. Em abril, a Polícia Militar, começou com o Batalhão de Operações Especiais (Bope) o combate ao tráfico de drogas para a criação da UPP no conjunto de favelas da Maré. Porém, ainda não há data certa para a instalação.

O comandante da PM, José Luís Castro Menezes, já anunciou a necessidade de 1.500 homens. Isso já seria um desafio, pois o efetivo depende que os policiais sejam formados pela corporação. Sem a ajuda de Eike, o projeto pode ficar ainda mais longe de sair do papel.