domingo, 18 de agosto de 2013

‘Rio serviu de laboratório para as cidades-negócio; hoje, é um laboratório de cidade rebelde’


POR VALÉRIA NADER E GABRIEL BRITO

Após anos de descaso no tratamento da coisa pública, complementados por galopante violência militar, o governo Sergio Cabral, a exemplo de outros governantes, foi ao fundo do poço na avaliação popular, a partir dos levantes de junho. Agora, sua casa encontra-se sob vigília, com manifestantes cercando-a dia e noite, e a Câmara Municipal foi ocupada, como se viu em outras capitais.

Para analisar o quadro político do Rio de Janeiro, inflamado pelo desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, após detenção por policiais da UPP da Rocinha, pra não falar da chacina da Maré, o Correio da Cidadania entrevistou o deputado estadual Marcelo Freixo. O deputado atribui os levantes iniciados em junho ao esgotamento da atual fórmula de “governabilidade” política, baseada em acordos fisiológicos e troca de favores, sem, portanto, relação alguma com os interesses da sociedade.


Freixo traça o quadro desumano a que conduziu a violência que assola o Rio, dentro ou fora das áreas de UPPs. “Tivemos uma audiência pública sobre desaparecidos na Assembleia Legislativa. E só em 2012 nós tivemos 5.900 casos de desaparecimentos no Rio de Janeiro, portanto, são muitos Amarildos que temos. O caso do Amarildo chama a atenção porque foi numa área de UPP (Rocinha), onde não seria aceitável esse tipo de coisa. Mas é aceitável e tolerado em muitas outras áreas do Rio. São 5900 desaparecidos só em 2012, número crescente ano a ano, e não existe nenhuma política pública pra dar conta do problema, porque são pessoas e famílias invisíveis à luz deste modelo de segurança pública que temos”, conta.

Não surpreende que a paciência popular tenha se esgotado, uma vez que, à trágica violência, se somam outros grandes problemas, comuns a todas as grandes cidades brasileiras. “Da mesma maneira que o Rio de Janeiro serviu de laboratório do capital para uma cidade-negócio, elitizada por remoções e grande investimento de capital, seguidos de um processo muito forte de privatizações e ausência de maior participação da sociedade civil, hoje também é laboratório da resistência a esse modelo de cidade”, explica.

A entrevista completa com o deputado estadual e militante dos direitos humanos Marcelo Freixo pode ser lida Aqui!