quinta-feira, 9 de maio de 2013

Revista Exame mostra que OGX tem dívida maior do que divulga


A matéria abaixo, assinada pelo jornalista Gustavo Kahil da Revista Exame, aborda e repercute as análises divulgadas inicialmente pela Bloomberg News sobre o montante e a estrutura da dívida da OG(X). De forma bem didática fica demonstrado que a dívida da OG(X) é quase 2 bilhões de reais maior do que anteriormente, quase 39% a mais do que estimava anteriormente.

Outro aspecto que é abordado se refere ao preço abaixo do esperado que a petrolífera malaia Petronas teve que pagar para pegar 40% dos direitos do campo de Tubarão Martelo, o que evidencia quão financeiramente apertado está o Grupo EB(X) de Eike Batista.

No conjunto da obra, o que essa matéria reforça é a noção de que os problemas financeiras da OG(X) estão longe de acabar e que, aliás, tendem a piorar em função dos títulos da empresa que deverão vencer no futuro.


OGX tem uma dívida muito maior do que divulga, diz analista

Consultoria independente revela que as obrigações da petroleira de Eike Batista são 1,8 bilhão de reais maiores que o divulgado

Gustavo Kahil, de



Sergio Moraes/Reuters


São Paulo – A OGX (OGXP3), petroleira do empresário Eike Batista, possui dívidas muito maiores do que consta em seu balanço. Essa é a conclusão de um relatório feito pela consultoria independente americana Covenant Review, enviada no final de abril a clientes e obtida por EXAME.com. 

O valor da dívida da OGX, divulgado ao mercado, é de 4,58 bilhões de dólares ao final de 2012. Mas, segundo a Covenant Review – especializada em analisar as garantias em contratos de títulos de dívida - ela poderia ser 39% maior e chegar a 6,38 bilhões de dólares quando passam a ser consideradas as garantias às "empresas-irmãs".

Essa diferença de 1,8 bilhão de dólares, que segundo a consultoria não aparece claramente no balanço, viria de obrigações assumidas por subsidiárias da OGX relacionadas à construção de plataformas flutuantes de produção que são adaptações de navios para a exploração de petróleo (FPSO – Floating production, storage and offloading units, na sigla em inglês).

O analista Adam Cohen, autor do relatório, destaca um caso em específico. A OSX-3, que é uma subsidiária holandesa da OSX (OSXB3), que também pertence ao grupo EBX, emitiu em março de 2012 títulos de dívida no mercado internacional no valor de 500 milhões de dólares para financiar a construção da FPSO OSX-3. Essa plataforma, quando pronta, será arrendada à OGX por 20 anos. A entrega está estimada para o terceiro trimestre de 2013.

Estrutura

De acordo com a maneira que essa emissão foi estruturada, em um caso de insolvência da OGX, os detentores dos títulos podem encerrar o contrato com a empresa, que então precisaria devolver a plataforma e se tornar a responsável pelo valor residual da dívida emitida pela OSX-3, explica a Covenant Review.

“Isso quer dizer que o montante de exigências contra a OGX em uma falência podem ser maiores do que o mercado entende”, argumenta o analista. Essa informação, segundo Cohen, tem uma enorme importância para a avaliação de risco dos títulos de dívida da OGX. Para ele, um investidor que busca entender o quanto a empresa tem de obrigações com base nos relatórios financeiros pode ter muita dificuldade.

“Em outras palavras, a visão do mercado sobre o risco financeiro da OGX e a quantidade de dívidas pode estar incorreta”, indica o analista. Segundo a Bloomberg, os títulos da OGX com vencimentos em 2018 e 2022 têm o pior desempenho entre as emissões de empresas situadas em mercados emergentes neste ano com valor de no mínimo 500 milhões de dólares.

Procuradas, a OGX e a OSX não responderam até a publicação desta notícia. A OGX apresenta os resultados do primeiro trimestre na quinta-feira, após o fechamento dos mercados. A teleconferência será realizada na sexta-feira, às 13h.

Venda

A OGX anunciou na noite de terça-feira a venda de uma participação de 40% no Campo de Tubarão Martelo na Bacia de Campos para a malaia Petronas por 850 milhões de dólares. O acordo também prevê opção de a Petronas adquirir 5% do capital total da companhia, até abril de 2015, a um preço de 6,30 reais por ação de Eike Batista.

Segundo analistas, o valor deve ajudar na situação financeira da companhia. Para a equipe da Planner, o negócio é “muito positivo”. A corretora ressalta a "melhoria da credibilidade do 'projeto', que foi bastante abalada pela perda das metas de produção e a entrada de recursos fundamentais para a continuação da campanha exploratória e o desenvolvimento da produção".

Parte dos analistas, contudo, avalia que o valor por barril de óleo recuperável na área ficou abaixo do esperado. 

“Os valores indicados parecem abaixo de nosso valuation para as áreas envolvidas na transação. Acreditamos que a transação é positiva por reduzir o endividamento da OGX. Contudo, o valor baixo da transação e a baixa produção de petróleo sustentam nossa recomendação de venda”, indicam Pedro Medeiros e Fernando Valle, analistas da Citi Corretora.