sábado, 21 de maio de 2011

Entidades se unem em repúdio à violência que 
matou uma das moradoras no despejo de moradores Bairro Nova Esperança, municipio de Aracruz (ES), em area de interesse da empresa Fibria Celulose.





Lívia Francez

As violações aos direitos humanos foram incontáveis durante a ação policial que dizimou o loteamento Nova Esperança, localizado no distrito de Barra do Riacho, em Aracruz, no norte do Estado. Foram tantas que choveram notas de repúdio de entidades defensoras da causa.
Nesta sexta-feira (20), para fechar a semana vergonhosa de violência contra os moradores daquele loteamento, as entidades de direitos humanos e membros de movimentos pela terra programaram um ato público no Centro de Vitória contra a violenta ação do Estado, combinada com a prefeitura de Aracruz, no norte do Estado, e que culminou com a morte da cozinheira Santa Peçanha, na noite desta quinta-feira (19).
Ele sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) depois de passar mal ao ver sua casa sendo destruída.
Segundo relatos de pessoas que acompanharam a operação, dois assentados teriam sido impedidos de buscar os remédios de Santa na casa prestes a ser destruída. Durante a manifestação, foi feito o enterro simbólico de Santa, marco da ação truculenta da Polícia Militar no processo de desocupação da área.
O ato, que teve início na Praça Costa Pereira e foi até o palácio Anchieta, contou com a presença de membros do Movimento Terra e Liberdade (MTL), Sindicato dos Bancários do Estado, Sindicato dos Servidores Públicos do Estado (Sindipúblicos), Conselho Estadual de Direitos Humanos (CEDH) e do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Ufes.
Depois de três dias da desocupação violenta, o governador Renato Casagrande recebeu em mãos do presidente do CEDH, Gilmar Ferreira, o relatório da reintegração da área. O presidente do Conselho teve de se deslocar ao local do conflito, na última quarta-feira (18), em carro particular, já que o CEDH não conta com veiculo do Estado à disposição. 

Além disso, foi recebido no loteamento com tiros de bala de borracha e bombas de gás lacrimogêneo, disparados por homens do Batalhão de Missões Especiais (BME), mesmo depois de ter se identificado como presidente do CEDH. Após entregar o relatório, Gilmar voltou à Barra do Riacho para acompanhar as famílias no alojamento improvisado na quadra de esportes do distrito. Ele conta que havia retornado da área nesta quinta-feira (19), só voltando a Vitória para entregar o relatório.
Os moradores, novamente desalojados, não haviam recebido qualquer auxílio da prefeitura de Aracruz até essa quinta-feira e permaneciam na quadra sem qualquer infraestrutura para atendê-los em suas necessidades básicas.
O ex-presidente do CEDH Bruno Alves de Souza Toledo também se manifestou por meio de nota de repúdio contra a ação policial e se solidarizou com o atual presidente, que esteve presente no conflito. Ele lembrou ainda que, mesmo com toda a dificuldade de diálogo com o governo anterior, foi construído um acordo com a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) para que todas as reintegrações de posse fossem comunicadas ao Conselho Estadual com 48 horas de antecedência. Esse acordo foi, inclusive, oficializado por portaria do antigo secretário e foi seguido rigorosamente nos últimos anos.
No entanto, o protocolo foi solenemente ignorado pelo atual secretário, contrariando a proposta de diálogo que vem sendo reiteradamente propagada pelo governador. O ex-presidente completa a nota dizendo que ações como a criação de uma Subsecretaria de Direitos Humanos, a instalação de um grupo de trabalho sobre direitos humanos e a demolição de presídios, como o de Novo Horizonte, atos são inócuos se as práticas governamentais continuarem pisoteando a dignidade humana.