terça-feira, 17 de maio de 2011

Seca atinge região central da China: reservatórios se transformam em "água morta"

The New York Times
The New York Times
Edward Wong
Em Pequim (China)

Uma severa seca ao longo da área do Rio Yangtsé, na região central da China, deixou quase 1.400 reservatórios na província de Hubei temporariamente inutilizáveis, devastou campos agrícolas e deixou a água potável escassa, segundo uma reportagem da “Xinhua”, a agência de notícias estatal, na segunda-feira.
A seca, que já dura cinco meses, reduziu o nível das águas no trecho médio do Yangtsé a uma baixa quase recorde. Pela segunda vez desde o início da operação da usina de Três Gargantas, o maior projeto hidrelétrico do mundo, as autoridades tiveram que abrir as comportas de água em emergência para ajudar a aliviar a seca.
Até domingo, quatro reservatórios de tamanho médio e 1.388 reservatórios pequenos em Hubei tinha descido abaixo do nível necessário de uso em irrigação, noticiou a “Xinhua”, citando o diretor do escritório de gestão dos reservatórios do Departamento de Recursos Hídricos da Província de Hubei. Um quarto de todos os pequenos reservatórios tem apenas o que as autoridades chamam de “água morta” restante, água que só pode ser bombeada para uso em emergência.
A seca aumenta a preocupação a respeito de que efeito um projeto imenso de transposição de águas terá nas províncias centrais da China. O projeto, chamado de Transposição de Águas Sul-Norte, pretende desviar água do Yangtsé e seus afluentes para o norte, para Pequim, ao longo de um canal e para Tianjin por uma rota ao leste.
Ambas as rotas devem estar plenamente em operação nos próximos dois anos. Há muitas críticas em relação ao projeto e muitas pessoas ao longo do Yantsé e no sul dizem que recursos preciosos de água não deveriam ser enviados para o norte, que está sofrendo de uma escassez crônica de água.
A água no trecho médio deveria fluir do Reservatório de Danjiangkou, em Hubei. O nível da água no reservatório foi medido em 135 metros no sábado, aproximadamente 4 metros abaixo do nível que a água é considerada morta, noticiou a “Xinhua”.
Du Yun, um acadêmico de geografia da Academia Chinesa de Ciências em Wuhan, a capital de Hubei, disse em uma entrevista anterior que o governo central não realizou estudos suficientes para avaliar o impacto do projeto de transposição de águas, especialmente em comparação a toda a pesquisa realizada antes da construção da usina de Três Gargantas.
“Para esse projeto, a duração da discussão preliminar e da fase de estudos foi de décadas”, ele disse. “Houve a participação de instituições e especialistas de toda a China. Em comparação a isso, este projeto de transposição de águas não foi tão abrangente quanto o estudo preliminar para o projeto de Três Gargantas.”
Até sábado, a seca já tinha deixado 315 mil pessoas e 97.300 cabeças de animais de criação em Hubei carentes de água potável, e mais de 800 mil hectares de terras agrícolas afetados, noticiou a Xinhua. Na província vizinha de Henan, a seca já afeta pelo menos 320 mil pessoas.
As autoridades descarregaram 400 milhões de metros cúbicos de água do reservatório de Três Gargantas de 7 a 11 de maio, segundo Wang Hai, um porta-voz do birô de construção e operação da usina, noticiou a “Xinhua” na quinta-feira.
A descarga visa combater a atual seca e elevar o nível do Yangtsé para auxiliar na navegação. A população da cidade de Yichang, onde fica a usina, foi atingida de modo particularmente duro. Elas dizem que agora precisam comprar água, em vez de usar as águas de suas terras.
O nível das águas no trecho do Yangtsé entre Yichang e Jiujiang, na província de Jiangxi, estava aproximadamente entre 2,5 e 5,5 metros abaixo dos níveis médios, noticiou a Xinhua, citando uma declaração divulgada pela sede de controle de enchentes e alívio para secas da província de Hubei.
Tradução: George El Khouri Andolfato