quarta-feira, 31 de julho de 2013

Minuta precarizante da DE na UENF: um caso claro de crime sem corpo


Em meio ao bombardeio de informações em torno de supostas garantias de nossos "direitos adquiridos", eu não posso deixar de explicitar a minha admiração pela eficiente estratégia da reitoria em enfiar goela abaixo de seus apoiadores uma minuta com tantas áreas cinzentas e obscuras que em uma universidade mais consolidada resultaria num impedimento inicial de qualquer tentativa de consolidação.

Um primeiro passo dessa estratégia foi não criar um processo para ser discutido. Ainda que isso atente com o regimento geral da UENF e de seu conselho universitário, a inexistência do processo deixa a reitoria para continuar negociando com o (ou seria se submetendo ao) Sr. Sérgio Ruy. Afinal, se não há processo e ninguém sabe direito o que foi aprovado, qualquer coisa que seja "negociada" só poderá ser contestada quando repentinamente a minuta for transformada em projeto de lei pelo (des) governo Sérgio Cabral. 

O segundo passo é passar a impressão de que teremos todos os nossos direitos garantidos. O problema aqui é que a minuta é completamente omissa sobre quem poderá pleitear o ADE e não há qualquer obstáculo para alguns fiquem de fora do benefício. Apesar de alguns acharem que eu serei o primeiro a ficar sem o ADE, eu diria que existe já uma indicação de quem não vai ganhar na loteria da ADE. E quem são essas pessoas? Aqueles que a reitoria já sinalizou não estão envolvidos com programas de pós-graduação. Nada mais natural, não? Só tem ADE quem está ativamente envolvido no filé mignon da academia neoliberal que a CAPES tanto adora. Depois poderemos ter outros critérios para incluir e excluir o ADE, mas podem apostar que participação em programas de pós-graduação estará no topo da lista. 

Um terceiro elemento é que dada a confusão instaurada por essa forma de dirigir a discussão corremos o risco de não ter o devido nível de "accountability" sobre os papéis que determinados dirigentes tiverem nesse imbróglio, o que os deixará limpos para concorrer à reitoria em 2015. É claro que qualquer que estiver atualmente na reitoria já rifou as suas chances, mas há gente o suficiente que é fiel suficiente ao status quo vigente para negociar o apoio, já que não estão tão claramente associados à tentativa do golpe em curso. 

Por essas e outras que sobressai a estratégia de não ter processo, pois ai é crime sem corpo. E como na história do Brasil o único que foi preso e condenado por um crime sem corpo foi o ex-goleiro Bruno do Flamengo, é bem possível que tenhamos esse tipo de fato da vida internalizado pelos tomadores de decisão. 

Finalmente, o que me parece óbvio é que todos sabem que a disputa não está resolvida, especialmente por causa da crise agônica em que está metido o (des) governo de Sérgio Cabral. Aliás, amanhã mais uma manifestação está marcada para a porta da casa de Cabral no Leblon., A delegação da reitoria que vai amanhã na SEPLAG acompanhada do SINTUPERJ/UENF bem que poderia dar uma passada lá na casa de Cabral para, digamos, "sentir o pulso" da realidade social e política em que o governador está metido. Certamente poderá ser o que os gringos chamam de um "eye opener".