quinta-feira, 25 de julho de 2013

Rolo compressor e a inapetência para o debate de idéias: o caso da reitoria da UENF


Por motivos outros não pude estar na reunião do CONSUNI de ontem, mas os relatos que me chegam são muito interessantes. Por um lado, a reitoria da UENF parece ter conseguido fabricar uma maioria mesmo em lugares onde se esperaria mais resistência à minuta precarizadora. Quais foram os argumentos usados para convencer aqueles que antes se opunham deve ficar claro nos próximos meses. Certamente não é pela clareza e pela transparência da proposta que a minuta mutante traz, pois a mesma é tão obscura e com ganhos ínfimos nos salários que a possibilidade mais concreta é que muita gente já está mirando uma segunda fonte de renda. 


Por outro lado, a reunião de ontem teve vários méritos. Primeiro é ter mostrado que a aparência de bonachão do atual reitor pode ser substituída por práticas que se assemelham muito ao do (des) governo Sérgio Cabral. A prática de pressionar os conselheiros a assinar a lista de presença e nominá-los sem direito de resposta fere, entre outras coisas, o que prevê a Constituição Federal brasileiro no tocante ao direito à livre manifestação.

No entanto, uma lição importante parece ter sido dada e talvez de onde se menos esperava, qual seja, que existem sim pessoas dispostas a enfrentar o rolo compressor montado na reitoria há pelo menos duas administrações para defender o modelo de universidade idealizado por Darcy Ribeiro. E ao tratar essa resistência de forma descortês e truculenta, o que reitor mostrou, acima de tudo, foi a inapetência para conviver com o diferente e com posições opostas. Assim, se esse processo está tendo um mérito é o de começar a desmontar a hegemonia de um modelo de gestão que está ameaçando nos dar um tiro na testa, em nome de sabe-se-lá o que. E como muitos já devem ter aprendido, todas grandes transformações começam com pequenos gestos de afronta ao status quo estabelecido, ainda que num primeiro momento os opositores sejam aparentemente derrotados. É que grandes transformações não raramente começam com derrotas que mais tarde se transformam em vitórias.

Agora alguém pode me explicar como é que um grupo de professores doutores sequer questiona o fato de que nessa minuta mutante, a implementação da DE se dará em 4 anos e não em 2 como está ocorrendo na UERJ. Só pode ser pela infundada esperança de que na ALERJ a coisa será, digamos, "melhorada". Quem pensa assim se esquece daquele ditado de quem está no inferno, que abrace o diabo. Moral da história: quem está se enfiando no inferno, depois não venha reclamar que o diabo não cooperou. Afinal, diabo que se preza gosta de almas caídas e mansas que aceitem sem reclamar os flagelos do inferno.