sexta-feira, 3 de maio de 2013

O Porto do Açu na encruzilhada


A notícia abaixo publicada pelo Jornal Folha da Manhã traz vários aspectos curiosos sobre como funciona (ou deixa de funcionar) a estratégia de implantação do chamado Complexo Industrial-Portuário do Açu. Vamos aos aspectos que merecem atenção:

1. A matéria reconhece a dependência do Grupo EB(X) em relação a grandes investimentos estatais para lhe oferecer algo básico: uma malha de transporte ferroviário que conecte um ponto isolado (o porto) às áreas produtoras de diferentes commodities. 

2; Esse reconhecimento é agravado pelo fato de que não há nada de concreto neste momento para que tal malha seja construída. Quando muito existem planos e promessas. Mas será que o genial Eike Batista não pensou nisso quando prometeu transformar São João da Barra na Roterdã dos trópicos? Se não pensou é um erro primário. Se pensou e não fez nada para resolver com recursos próprios um problema que ele mesmo criou, Eike Batista sai muito mal na fotografia. Afinal, o mercado pune duramente quem promete e não tem como cumprir.

3. Outro aspecto que a matéria levanta é que o governo federal considera o porto do Açu como sendo "estratégico"? Será mesmo? É que aqui mesmo no estado do Rio de Janeiro, o Grupo EB(X) está  construindo o porto Sudeste que, aliás, vai indo em melhor ritmo. Além disso, há ainda a possibilidade de diversos portos serem construídos no Espírito Santo, começando pelo porto de Presidente Kennedy, logo aqui na fronteira  entre os dois estados.  Se fosse tão estratégico, não estariam sendo dadas tantas autorizações para novos portos. Dadas as suas idas e vindas, o porto do Açu é importante, mas não tão importante quanto o Grupo EB(X) quis fazer parecer, e ainda tem gente tenta nos convencer de que é.

4. Colabora contra o porto do Açu, e tantos outros pontos de escoamento de commodities, a grave crise econômica que assola a União Européia e o fraco desempenho da economia chinesa. Como essa  situação só vai piorar em 2013, estruturas voltadas para a exportação de produtos agrícolas e minerais perigam ficar com demanda suprimida pelo menos até 2014. Se isso se confirmar,  o porto do Açu pode demorar ainda mais a ser concluído. Pior ainda é a possibilidade de que jamais seja concluído.

Finalmente, o que mais me impressiona é a falta de apetite para uma discussão tão óbvia sobre as pressões e agruras que o empreendimento do Açu recebe aqui na região. De um lado ficam os que torcem descaradamente para que o bode não afunde na areia salgada do V Distrito de São João da Barra. De outro ficam os que poderiam analisar criticamente o processo e se calam. E no meio disso tudo ficam os agricultores e pescadores do V Distrito que tiveram suas vidas reviradas e até agora não foram ressarcidos por isso.


Estradas de acesso ao porto do Açu à espera do governo


As estradas de ferro que deverão viabilizar a funcionalidade do Superporto do Açu poderão vir do apoio do governo federal. É que o empresário Eike Batista estaria aguardando apenas a sinalização do governo Dilma Rousseff para a viabilização do trecho ligando o empreendimento ao resto da malha ferroviária do país. A informação foi postada pelo blog Painel, hospedado na Folha Online e assinado pelo jornalista Saulo Pessanha, com base em matéria publicada pelo jornal O Estado de São Paulo.

“Os trechos, informa o Estado de São Paulo, devem ser licitados até setembro. Pelas regras do novo modelo ferroviário, Eike não precisará colocar nenhum centavo. A não ser que deseje. Todo o risco será do governo”, diz a nota.

De acordo com a divulgação, o sistema vai funcionar da seguinte maneira: uma determinada empresa construirá as ferrovias, o governo federal comprará sua capacidade de transporte e fará a revenda para empresas interessadas em usar os trilhos. No entanto, se não houver demanda, o ônus da conta ficará com o próprio governo federal. O procedimento vale para todas as ferrovias, “mas, no caso do Açu, o discurso oficial é que tal porto é ‘estratégico’ no esforço para tirar o transporte de carga marítima do sufoco”.Em nota, a assessoria da LLX informou que o “Superporto do Açu está contemplado em dois trechos ferroviários previstos no Programa de Investimentos em Logística, anunciado pelo governo federal em 15 de agosto de 2012. Um dos trechos ferroviários conecta Uruaçu (GO) a Campos dos Goytacazes, a apenas 43 km do Superporto do Açu. O traçado passará também por Brasília (DF), Corinto, Conceição do Mato Dentro e Ipatinga (todos em MG). 

Este trecho possibilitará a ligação do Superporto do Açu com o Centro-Oeste brasileiro, além de parte do Sudeste, criando uma nova alternativa para a exportação de vários produtos, principalmente grãos e minério de ferro”. Ainda de acordo com a nota, “o trecho irá ligar Vitória (ES) ao Rio de Janeiro, passando por Campos do Goytacazes. Neste traçado está previsto um ramal ferroviário que irá conectar o Superporto do Açu à malha ferroviária brasileira. Com isso, o empreendimento estará conectado ao Sudeste e Sul do país”, conclui a nota.