Os mitos e as verdades sobre agrotóxicos
Especialistas esclarecem dúvidas sobre defensivos agrícolas e ensinam consumidor a evitar alimentos contaminados
Por Carla Rocha, Natael Damasceno e Fábio Vasconcellos
RIO - A polêmica sobre o uso de agrotóxicos gera incertezas sobre o consumo seguro de alimentos. Para esclarecer o consumidor, O GLOBO ouviu especialistas que deram dicas para a escolha dos produtos na hora da compra e abordaram velhos tabus que cercam o assunto, de forma objetiva. Entre os estudiosos ouvidos, é quase unânime o entendimento de que não há como estabelecer níveis seguros de ingestão de agroquímicos para a saúde humana — ainda objeto de estudo no mundo inteiro — e que não há receitas mágicas capazes de limpar completamente um alimento contaminado. Mas, na impossibilidade de se consumir orgânicos certificados, alguns cuidados podem ser tomados.
Resíduos
Não é possível “limpar” completamente os resíduos de agrotóxicos, porque a maioria tem efeito sistêmico e chega à parte interna do alimento. O produto deve ser lavado com água e sabão neutro, com o cuidado de enxaguá-lo ao final. Também pode-se deixá-lo de molho em vinagre ou em uma solução de cloro por alguns minutos. As medidas, porém, apenas minimizam a carga química porque o principal efeito é eliminar bactérias e fungos.
Nem sempre as frutas ou legumes maiores e com cores mais vibrantes são os mais saudáveis. O uso de agrotóxicos, associados a adubos químicos, tende a aumentar e a dar aspecto saudável ao alimento. Uma das maiores especialistas no assunto do país, a médica e professora da Universidade Federal do Ceará, Raquel Rigotto, observa que o consumidor não deve se deixar levar pela aparência. “Costumo brincar que se tiver uma larva na goiaba, brigue por ela. Se o bichinho não morreu, é sinal de que pode ter sido usada uma quantidade menor de veneno”. Vale observar, no entanto, que nem sempre o bom aspecto do alimento está relacionado a uso indiscriminado de agrotóxico já que novas técnicas de cultivo também podem ter sido usadas.
Cuidados
O consumidor deve dar preferência ao produto embalado com o selo do produtor, que lhe dará uma garantia maior de procedência. O engenheiro agrônomo Waley Nascimento, chefe-adjunto de transferência de tecnologia da Embrapa Hortaliças, afirma que, com o selo, o “produtor está mostrando a cara”, permitindo um maior controle por parte dos supermercados. Raquel Rigotto sugere que o consumidor retire a casca dos alimentos e, sempe que possível, os compre ainda verdes, deixando que amadureçam em casa.
Assim, pode-se minimizar um risco de o prazo de carência — intervalo de tempo entre a última pulverização do agrotóxico e a liberação do alimento para o consumo — não ter sido respeitado. A diretora do Instituto de Nutrição Josué de Castro da UFRJ, Eliane Fialho, também dá uma dica importante: prefira os alimentos da safra, que têm mais qualidade nutricional e provavelmente exigiram menos uso de agrotóxicos.
Câncer
Pesquisas científicas sugerem uma associação da doença com o uso de agrotóxicos, principalmente entre agricultores. Por isso, os estudiosos do assunto dizem que não há como falar em doses seguras para a lavoura e o consumo. Essas substâncias também podem causar outros problemas, como Mal de Parkinson e alterações do sistema reprodutivo e neurológico. Mas o professor Ângelo Trapé, da Unicamp, afirma que as análises da própria Anvisa mostram que os alimentos da agricultura convencional são seguros para o consumo. Ele garantiu que nunca atendeu paciente com problema de saúde relacionado à ingestão de alimentos contaminados. Já o gerente geral de toxicologia da Anvisa, Luiz Cláudio Meirelles, afirma que os produtos reprovados em análises da agência estão impróprios para consumo.