A matéria abaixo de autoria do jornalista Márcio Juliboni, editor de negócios da Exame.com, é um primor no sentido de revelar todos os meandros da recente derrocada da OG (X) que levou junto várias empresas da franquia "X", custando alguns bilhões de dólares à fortuna pessoal de Eike Batista.
Por enquanto, Eike Batista continua sendo um bilionário que poderá continuar adquirindo carros caros e a contar com a extrema boa vontade de governantes (ou seriam desgovernanteS?) como Sérgio Cabral e Dilma Rousseff.
Os problemas para Eike Batista estão mais no médio e longo prazo. Se ele conseguir sanar os problemas arrolados por Márcio Juliboni em relação à OG (X) é muito provável que ele galgue alguns lugares de volta na escada das maiores fortunas pessoais do mundo. Mas na situação que ocorreu ao longo da semana que passou há algo especialmente grave para o futuro de Eike Batista: ele perdeu a áura de infalibilidade que foi tão bem costurada pela mídia empresarial, e que lhe abriu tantas portas e tão rapidamente. Se Eike não reverter as desconfianças, o mais provável é que ele vai ter de se contentar com vôos menores, esperando para que o pior não lhe aconteça.
Agora, existem tarefas difíceis no caminho de Eike. Uma delas seria colocar petróleo dentro dos poços secos da OG (X). Como a natureza demora um tempo maior para produzir petróleo do que exige a gana de lucro dos especuladores do mercado financeiro, poços secos são uma verdadeira pedra no caminho de Eike.
Mas, especialmente no eixo Campos dos Goytacazes-São João da Barra, deve ter muita gente preocupada com seu próprio umbigo. Afinal, quem conhece Eike minimamente deve saber que ele agora vai ter de adotar um passo mais cauteloso. Afinal, ele pode ser tudo, menos burro. Assim, quem contava com favores e facilidades de Eike, o melhor é esquecer. As prioridades do Grupo EBX serão outras por algum tempo.
Finalmente, eu não canso de frisar e ainda vou me dedicara uma reflexão mais acadêmica sobre o que estamos vendo. Um aspecto que pretendo realçar é como apostas acríticas em determinados projetos só podem mesmo render dissabores, conflitos e decepções. Aqui falo da forma com que o (des) governo de Sérgio Cabral tratou de aplainar o caminho de Eike Batista no V Distrito de São João da Barra ao oferecer decretos de desapropriação, licenças ambientais e o uso do aparelho policial para facilitar o Complexo Portuário-Industrial do Açu a um alto custo social e ambiental. E agora que a barcaça das franquias "X" ameaça ir a pique, como é que ficam as centenas de famílias que já foram desapropriadas e que continuam sem receber as devidas reparações?
Os maiores tropeços de Eike Batista na OGX
Veja os escorregões que levaram a petrolífera de Eike a perder metade de seu valor – e corroer a fortuna de seu dono
Eike no IPO da OGX: levando o mercado da euforia para a desconfiança
São Paulo – Em menos de uma semana, Eike Batista viu metade de sua fortuna evaporar,despencou na lista de bilionários da Forbes e corre o risco de perder o posto de homem mais rico do Brasil. Mas a pior parte é esta: tudo isso, porque os investidores perderam a confiança na capacidade da OGX, sua petrolífera, de cumprir as metas que ela própria traçou.
É claro que erguer uma petrolífera do zero em poucos anos não é um projeto trivial. A OGX promoveu sua abertura de capital em junho de 2008, quando captou 6,7 bilhões de reais – o maior IPO brasileiro naquele ano.
Desde então, porém, a boa vontade de investidores e analistas em relação à empresa foi minada pelas sucessivas derrapadas de Eike Batista e sua equipe. Do constante adiamento do prazo de início da produção comercial à decepção com as reservas divulgadas, muitos tropeços contribuíram para a erosão da confiança.
Relembre, a seguir, os maiores tropeços de Eike e sua equipe na condução da OGX:
Tubarão decepciona
A gota d’água que esgotou a paciência dos investidores foi a divulgação, nesta terça-feira, de um relatório sobre a capacidade de produção do Campo de Tubarão, na Bacia de Campos. A OGX informou que a vazão “ideal” da área é de 5.000 barris de óleo equivalente por dia.
O problema é que a OGX afirmava, até então, que a capacidade de Tubarão ficaria entre 15.000 e 20.000 barris/dia – pelo menos três vezes o que será extraído. A punição do mercado foi imediata: as ações da OGX despencaram e arrastaram também os papéis das outras empresas de Eike.
Meta menor para 2012
No final de maio, a OGX deu outro banho gelado nos investidores, ao divulgar um relatório em que rebaixa a meta de produção para este ano. A empresa estima, agora, que encerrará 2012 com 40.000 barris de petróleo por dia.
No ano passado, a previsão dada era de 50.000 barris diários. A OGX afirma, agora, que este patamar só será alcançado no segundo trimestre de 2013. Após o corte da estimativa, os títulos em dólar da OGX despencaram para o menor nível em seis meses. Atrasos no início da produção
Uma das coisas que mais irritaram os investidores, ao longo do ano passado, foram os sucessivos adiamentos da OGX para o início da produção comercial. A previsão inicial era de que o petróleo começaria a ser extraído em junho de 2011. Isso só ocorreu, efetivamente, em 28 de janeiro deste ano – após várias revisões da data.
Falta de contratos comerciais de longo prazo
A produção inicial da OGX refere-se a um teste de longa duração do poço OGX-26HP, localizado no Campo de Waimea, na Bacia de Campos. O petróleo extraído será vendido para a Shell, com quem a empresa fechou seu primeiro contrato. O acordo prevê a venda de 1,2 milhão de barris de óleo à Shell, divididos em dois lotes de 600.000 barris.
Para os analistas, o problema é que isto não é um contrato comercial de longo prazo. A empresa ainda não anunciou, de fato, para quem vai vender o óleo que extrair comercialmente.
Reservas decepcionam
Em abril do ano passado, a consultoria internacional DeGolyer & MacNaughton, especializada em petróleo, divulgou um relatório revisando as estimativas de reservas da OGX. A D&M concluiu que os recursos potenciais de petróleo e gás da empresa são de 10,8 bilhões de barris equivalentes.
De um lado, o mercado se decepcionou com alguns números, como os 3 bilhões de barris de reservas contingentes na Bacia de Campos – os analistas esperavam 4 bilhões. De outro, Eike minimizou o relatório – contratado pela própria OGX -, afirmando que a D&M fora muito conservadora e que não descartava, no futuro, contratar outra consultoria.
O relatório fez com que a OGX perdesse, em um dia, quase 11 bilhões de reais em valor de mercado.
Poços secos preocupam
Em janeiro de 2011, a OGX sofreu uma forte queda na bolsa, devido ao anúncio da perfuração de um poço seco na Bacia de Santos – o 1-OGX-23. Era o terceiro poço sem viabilidade comercial que a empresa perfurava na área, de um total de seis executados.