quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Em tempos de eleição, o julgamento do mensalão do PT não será um fator decisivo nas escolhas do eleitorado

Marcos A. Pedlowski, artigo inicialmente publicado no site da Revista Somos Assim (Aqui!)



Não tenho me dedicado muito ao rumoroso caso do chamado “Mensalão do PT” por razões que talvez desafiem a lógica difundida pela mídia corporativa sobre o episódio. A primeira, e talvez a única que mereça ser mencionada, é que não acredito que o resultado do julgamento em curso no Superior Tribunal Federal (STF) vá trazer alguma consequência objetiva sobre os usos e costumes que regem a vida partidária brasileira. Quando muito, teremos uns poucos bodes expiatórios pagando uns poucos anos de prisão, enquanto o resto do sistema permanecerá intacto.

Mas, conversando com alguém que considero extremamente inteligente, ele me chamou a atenção para algo que eu não havia pensado antes. Segundo esse amigo, o caso do Mensalão do PT é estapafúrdio na medida em que os partidos da direita teriam sido pagos para votar em políticas que já votariam de qualquer forma por fazerem parte de sua agenda política. Aliás, o PT chegou ao poder para impedir justamente aquilo pelo qual é acusado de ter usado o “mensalão” para fazer aprovar. Um exemplo disto é a chamada “reforma da previdência” contra a qual o PT se bateu nos dois mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso, e que foi justamente umas das leis que teriam sido aprovadas graças ao esquema de pagamentos de propina aos parlamentares da base aliada. Aliás, quem diz isto não sou eu, mas o ora decantado ministro relator do caso, o meritíssimo Joaquim Barbosa.

Aliás, algo que me parece muito peculiar nessa situação toda é que existem outros “mensalões” para serem analisados pelo STF, tais como o “mensalão do PSDB de Minas Gerais” e o “mensalão do DEM do Distrito Federal”. O curioso é que o caso do PSDB é anterior ao do PT e tem como organizador o mesmo Marcos Valério que hoje paira como uma sombra sobre o destino do PT. Nos seus tempos de agenciador do PSDB, Marcos Valério teria prestado “relevantes” serviços ao hoje obscuro senador por Minas Gerais, Eduardo Azeredo. Uma coisa que me deixa intrigado é o porquê do mensalão do PSDB/MG, que é anterior ao do PT, ainda estar na fila para ser analisado, enquanto que o do PT está sendo julgado em pleno período eleitoral. Se não fosse por nada, tudo isto implica num curiosa coincidência.

Se alguém me perguntasse se esta exposição negativa do PT me deixa triste, eu teria de responder que, de mim, a direção petista não precisa esperar uma lágrima sequer. Afinal de contas, como alguém que entrou no PT ainda em 1980 e lá permaneceu filiado por vinte anos, só tenho a lamentar o giro à direita que o partido realizou. Em função de todas as práticas e costumes que o PT abraçou para chegar ao poder após a sua derrota eleitoral em 1994, atualmente não me sinto minimamente propenso a lamentar o buraco moral e ideológico em que o partido se enfiou. Entretanto, não deixa de ser curioso notar que, apesar de hoje o PT ser o único partido capaz de impedir a eclosão de graves conflitos sociais, a mídia corporativa e seus jornalistas antipetistas insistem em atacá-lo de forma visceral. Aliás, a repulsa que é demonstrada contra o ex-presidente Lula tem hora que chega às raias do mais profundo ódio de classe. Na verdade, a mídia corporativa nunca foi tão bem paga pelo governo federal. Assim, esta ojeriza localizada contra Lula tem mesmo a ver com o bom e velho ódio de classe.

Aliás, falando em ódio de classe, existem algumas figuras carimbadas da imprensa brasileira que andam à beira de um ataque de nervos por causa da sua evidente incapacidade de arrastar Lula na lama do mensalão. Uma dessas figuras é o articulista da Revista Veja, Reinaldo Azevedo, que acaba de lançar outro de seus petardos antilulistas na forma de livro. Tive a oportunidade de recentemente folhear este panfleto numa livraria de aeroporto, e pude em poucas páginas notar que Azevedo representa uma estirpe de articulistas que está disposto até a dilacerar a história recente do Brasil para provar que o PT é a essência do mal que assola a política nacional. O problema deste tipo de gente é que ao fazer isto, fornecem (conscientemente adiciono) elementos para que haja a disseminação de uma mentalidade pró-quebra da estrutura institucional. E a questão é que, em muitas coisas, o PT não passa de um pobre aprendiz de feiticeira, vide os exemplos dos mensalões que permanecem completamente impunes até hoje.

Agora, o desespero de gente que pensa como Reinaldo Azevedo deverá aumentar. É que mesmo sem possuir o dom da premonição ou ser proprietário de uma bola de cristal, penso que o PT sairá praticamente ileso nas eleições municipais de 2012, fruto principalmente de uma política de entregar as capitais para ganhar as prefeituras de cidades médias e pequenas. Assim, todos os prenúncios de que o julgamento do mensalão petista provocaria uma profunda reorganização das relações de poder no Brasil não passarão de um daqueles casos em que a montanha parirá um rato. E tome mais arrocho nos trabalhadores!