segunda-feira, 22 de outubro de 2012

DA PLANÍCIE LAMACENTA VEM A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR: PORTO DO AÇU, UMA NOVA MACÁE?



Abaixo segue interessante análise feita pelo blogueiro Douglas da Mata do blog "Planície Lamacenta" Aqui! sobre, entre outras coisas, sobre a crescente perspectiva de que o Complexo Portuário do Açu não passou de um grande blefe e, na prática, um processo de grilagem de terras realizado pelo (des) governo de Sérgio Cabral em prol do amigão bilionário, o Sr. Eike Batista.

De toda forma, boa leitura!



Porto do Açu: Uma nova Macaé?

A História brasileira é pródiga em exemplos. 

Adaptamos para nossa cultura patrimonialista, o culto aquilo que os estadunidenses chamam de self-made men, o arquétipo do empreendedor que, contra tudo e contra todos, munido apenas de suas certezas e instintos, constrói impérios oligopolistas, não raro de proporções internacionais.

Como já dissemos, dentro da lógica brasileira, onde público e privado sempre andaram em comunhão promíscua, todos os nossos projetos de desenvolvimento de larga escala tiveram um personagem do mundo privado como símbolo de sucesso, mas que pelas intrincadas relações políticas e sua dinâmica, bem como pelas alternâncias dos cenários da economia, acabam por torná-los vilões ou esquecidos no ostracismo.

Já dissemos aqui em outro texto que este foi o caso de Irineu Evangelista de Sousa, Visconde de Mauá durante a primeira tentativa de criarmos um ciclo modernizador da economia brasileira.

Nos ciclos Vargas e de Juscelino também a associação com grandes personagens, destaque para os Moraes(grupo Votorantim) e outros grupos mais discretos, mas não menos atuantes.

De todo jeito, o esforço "modernizador" sempre passou pela construção da imagem deste "desbravador", do grande herói da indústria nacional.

Lula, com o acertado projeto da expansão da distribuição de renda e do consumo de bens duráveis, elegeu o Abílio Diniz como signo de empreendedorismo privado nacional. 
Tentou abiscoitar o Carrefour com din-din do BNDES e deu com os burros n'água. 
Foi vestir o pijama com uma montanha de dinheiro pela venda do controle do Pão de Açúcar, que engloba, dentre outros o Ponto Frio e as Casas Bahia.

Dilma escolheu o moço do cabelo engraçado, o senhor X, nosso Donald Trump tupiniquin, embora muito menos self-made que o original.

Alimentado no enorme patrimônio do papai, que fez fortuna à sombra dos cargos estratégicos que ocupou na ditadura militar no setor de mineração, o senhor X segue a saga de "sucesso" da família, que assim pode ser resumida: informações privilegiadas, bons negócios a base da corretagem destas informações, e no caso do senhor X um toque de atualização: domínio quase completo das ações de marketing, que às vezes escapam ao controle com as "cagadas" do filho de Odin. 

Mas na cartilha desta endinheirada família, uma propaganda ruim é melhor que propaganda alguma. Lembram da mulher-modelo com uma coleira com o nome de seu "dono" cravejada em brilhantes a desfilar na Sapucaí? Então...

O celebrado "gênio", o senhor X, ao que parece, está decepcionando a aposta que os governos federal e estadual fizeram nele. Aposta, diga-se com o seu e o meu dinheiro.

O que o professor Marcos Pedlowski, bem como o professor Roberto Moraes, já anotaram em seus blogs, ambos uma plataforma respeitável de observação dos movimentos destes empreendimentos de escala na região, é que o senhor X anda costeando o alambrado.

Explico: Sua aposta (com enorme parte de dinheiro público, é claro) nos setores de transformação secundária, com o aceno para instalação de um parque industrial para bens de capital(lembram dos coreanos?) e depois com bens de consumo durável(lembram da Nissan), que agregariam valor ao seu enorme parque logístico privado (complexo do Porto do Açu), não vingou, ou se quisermos ser mais rigorosos, esta perspectiva nunca existiu de fato, a não ser como ouro de tolo.

Claro, um homem que se jacta de possuir uma "visão além do alcance", que determina os passos estratégicos, aliada a um instinto incomum, não terá o direito de nos convencer que não sabia que os percalços da economia que acontecerem desde 2008 para cá, e que inibiram as expectativas mundiais de crescimento e investimento das majors e de outrosplayers internacionais, não afetaria seus empreendimentos.

Mesmo assim, como um canto de sereia, de certa forma inteligível, porque depois que você fica grande demais, sua "propaganda" tem que ser muito maior, o senhor X manteve as expectativas de todos os seus parceiros governamentais que em breve estaríamos no paraíso capitalista mundial.

Pois é. Não é bem assim.

Pelo que lemos e ouvimos, o "projeto" do senhor X não passou de uma enorme grilagem terras, com apoio e dinheiro público, que vai se configurar em um dos maiores impactos ambientais do planeta, que ameaça salinizar água potável em escalas monumentais (pelo que dizem os pesquisadores da UENF e outros pesquisadores autônomos), apenas para que tudo aquilo que seria indústrias do grupo X sejam ocupadas por galpões e entrepostos da indústria do petróleo, ávida por terras.

Teremos algo no Açu como uma grande Macaé, o que, com todo respeito aos nossos vizinhos, não é nada animador.

Deste modo, o senhor X vai arrecadar uma "baba" com a taxa de corretagem destas terras que ele tomou à força, por preço ridículo, e que repassará a Halliburtons da vida a preço de mercado.