O “Super-Homem” Eike no auge, na praia do Flamengo, antes de a kriptonita chegar – Foto Folhapress
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Eike Batista preferiria que não fosse assim, mas, para sua infelicidade, o grande Gatsby, protagonista do romance clássico de F. Scott Fitzgerald, enganava-se ao supor ser possível repetir o passado. Com a ruína do seu império, o brasileiro que sonhava ser o rico mais rico do mundo tornou-se personagem de “obituários” precoces. Ainda que venham a lhe sobrar alguns bilhões de patrimônio, ele não reviverá a quimera de deixar Gates e Buffet comendo poeira nos rankings da fortuna.
Na ascensão, Eike recorreu a cartomante, bruxa, feng shui e horóscopo, como se lê mais abaixo. Mais tarde, talvez os tenha esquecido. Certamente, os astros o abandonaram na queda. Um observador da natureza humana sintetiza o homem X: com alma de garimpeiro, ele apostou tudo no petróleo; em vez de bamburrar, afundou-se no óleo escasso de seus poços.
Houve mais erros relevantes, um deles subestimar o perigo de virar alvo político ao se estabelecer como símbolo de prosperidade nos anos Lula. Outro: considerar que a bênção dos governos petistas, empenhados em consolidar grandes conglomerados nacionais, iria lhe servir eternamente de escudo na disputa com concorrentes que tiveram pretensões contrariadas, como no setor dos portos.
Os anos passarão, e não vão faltar historiadores, sociólogos, economistas e cientistas políticos dispostos a decifrar os enigmas de Eike. No presente, constata-se que de alguma forma ele simbolizou uma política em que se fantasiava eliminar a luta de classes. Seria concebível fazer ao mesmo tempo os pobres menos pobres e os ricos mais ricos, descartando confrontos e amenizando tensões. Mais do que a debacle de Eike, o labirinto do governo Dilma Rousseff decorre dessa política lulista.
Em setembro e outubro de 2009, escalado pela “Folha de S. Paulo”, elaborei um perfil de Eike Batista. Ele ainda galgaria postos na corrida dos endinheirados, criaria novas “empresaX” e tomaria muito dinheiro do BNDES, mas culturalmente já vivia o seu ápice.
Uma curiosidade que não consta do perfil: eu soube do casamento de Eliezer Batista antes do seu próprio filho. À mesa do seu restaurante, Eike contou a novidade. Para seu espanto, eu lhe disse que havia tomado conhecimento dias antes dele. Ocultei a fonte, que agora posso revelar: o ex-governador Rafael de Almeida Magalhães, conselheiro da holding X, que fora testemunha do matrimônio do seu amigo Eliezer em cartório. Figura generosa e ótimo papo, Rafael morreria em 2011.
Outra confidência, ausente da reportagem de 2009: no Mr. Lam, Eike me apresentou à sua superadega fabricada pela Porsche com garrafas vintages das safras mais nobres do champagne francês Veuve Clicquot. Das poucas dezenas produzidas, ele arrematara uma unidade. Convidou-me a beber uma garrafa. Por escrúpulos, recusei, pois a camaradagem configuraria conflito de interesses jornalísticos. Nunca provarei uma viuvinha 1955…
O perfil de outubro de 2009 está reproduzido abaixo, sem mudanças em relação ao original, a não ser nos intertítulos. Aparecem como coadjuvantes personagens que viriam a se tornar importantes na história de Eike, como o banqueiro André Esteves. Ganham significado maior informações como a oposição de Eliezer à aventura no petróleo.
Logo no comecinho do texto, Eike, indiretamente, compara-se ao Super-Homem. A kriptonita estava para chegar.
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