Abaixo segue uma matéria produzida pelas jornalistas Denise Luna e Mariana Sallowicz que descreve como funciona o mecanismo do "aluguel de ações" que permite a um determinado número de operadores do mercado de ações a ganhar dinheiro enquanto milhares de acionistas vêem literalmente seus recursos irem pelo esgoto, como é o caso dos acionistas minoritários das empresas da franquia "X".
Essa matéria desvela um dos muitos aspectos que transformam o mercado de ações numa roleta especulativa onde só saem vencedores aqueles que entram no jogo muito assessorados e turbinados financeiramente. Aos incautos que vão lá tentar um troco, o naufrágio do Grupo EBX já mostra bem o que é que acontece a eles.
Aluguel de ações de grupo de Eike Batista cresce e dá lucro a investidor
DENISE LUNA e MARIANA SALLOWICZ, DO RIO
Em meio a tantas perdas com as empresas do grupo EBX, de Eike Batista, pelo menos um grupo não tem do que reclamar: os investidores em aluguel de ações.
Por meio de uma operação que aposta na queda do preço dos papéis, esse mercado registrou ganhos expressivos nos últimos meses e cresceu acima da média.
A quantidade de ações alugadas da OGX, petroleira do grupo, aumentou 307% entre junho deste ano e o mesmo mês de 2012. Durante o período, os papéis da companhia se desvalorizaram em 86%.
A empresa, que reduziu sua expectativa de produção, foi a mais punida pela queda de credibilidade das empresas de Eike.
Hoje, cerca de 30% das ações em circulação da empresa estão alugadas. No caso da OGX, a BM&FBovespa elevou o teto de aluguel duas vezes neste ano. No início do ano, o limite era de 20% e hoje está em 45%. A marca pode chegar a 50%.
Nem a MPX, que foi menos castigada por ter um novo sócio (a alemã E.ON) e já estar produzindo energia, escapou da especulação do mercado, registrando aumento de 359% no aluguel dos papéis.
Na operação, um investidor aluga por um período preestabelecido e vende os papéis para depois recomprá-los na baixa e devolvê-los ao investidor original. Com o ganho, paga o aluguel e ainda embolsa um lucro.
Para Marcos Ramos, operador da Fator Corretora, o aluguel da ação também tem sido uma oportunidade de auferir algum ganho no caso de acionistas da companhia que querem permanecer com os papéis no longo prazo.
TAXAS MAIS ALTAS
Com a forte procura por esse tipo de operação, as taxas de empréstimo subiram. Anteontem, o custo era de 75% do valor das ações ao ano.
A "farra" com as ações do grupo EBX no mercado de aluguel, no entanto, já passou, afirma o analista João Pedro Brugger, da Leme.
"A tendência é diminuir a quantidade de aluguel das ações, porque, quanto mais o papel cai, mais arriscado fica para quem vai vender ação, já que o potencial de ganho é bem menor hoje."
Ele lembra que o auge dos aluguéis se deu após a OGX anunciar que iria produzir menos em Tubarão Martelo.
"Muitos investidores apostaram contra a ação. Aí você tem que alugar para poder entregar. Isso foi bem expressivo, fazendo até a Bovespa aumentar o limite de aluguel."
Ontem, as ações da OGX caíram 3,92%, cotadas a R$ 0,49. Anteontem, a agência Moody's rebaixou pela segunda vez no mês a avaliação sobre a capacidade da empresa de pagar suas dívidas.
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