247 - A jornalista Ruth de Aquino, colunista da revista Época, denuncia o
terror oficial promovido pela Polícia Militar do Rio de Janeiro contra os
manifestantes e denuncia a infiltração de policiais nos protestos para criar um
clima de medo e intimidação. Leia abaixo:
A má-fé do
terror oficial - RUTH DE AQUINO
REVISTA ÉPOCA
A lambança na
JMJ só se compara à má-fé das versões oficiais dos protestos contra Cabral
O papa Francisco bota fé nos jovens. E você? Bota fé na PM e no governo do Rio de Janeiro? O grau de lambança na logística da Jornada Mundial da Juventude só se equipara à má-fé das versões oficiais sobre os protestos contra a corrupção e Sérgio Cabral. Faltou “inteligência” na repressão fardada e infiltrada. Uma repressão seletiva, que fere manifestantes e jornalistas, mas deixa rolar depredações e saques com total impunidade – como aconteceu naquela madrugada no Leblon, até hoje mal explicada. Quem engoliu a história do “pacto com a OAB” para não reprimir crimes comuns contra lojas e patrimônio público?
O papa Francisco bota fé nos jovens. E você? Bota fé na PM e no governo do Rio de Janeiro? O grau de lambança na logística da Jornada Mundial da Juventude só se equipara à má-fé das versões oficiais sobre os protestos contra a corrupção e Sérgio Cabral. Faltou “inteligência” na repressão fardada e infiltrada. Uma repressão seletiva, que fere manifestantes e jornalistas, mas deixa rolar depredações e saques com total impunidade – como aconteceu naquela madrugada no Leblon, até hoje mal explicada. Quem engoliu a história do “pacto com a OAB” para não reprimir crimes comuns contra lojas e patrimônio público?
PMs sem identificação e policiais à paisana – os
P2, fantasiados de manifestantes, identificados com uma pulseirinha preta –
criaram no Rio um clima de intimidação física e psicológica. Há relatos de
sequestro-relâmpago, ameaças de morte, armação de flagrantes, acusações
montadas de formação de quadrilha. Há detenções arbitrárias “para averiguação”.
Um clima que, como diz Cabral, “afronta o Estado democrático de direito”.
Também afronta a democracia o decreto inconstitucional de Cabral exigindo, “em
24 horas”, das operadoras de telefone e provedores de internet, dados
telefônicos e informações sobre suspeitos. Ele refraseou o decreto, mas a OAB
continua a tachá-lo de ilegal. É essa “a agenda positiva” de Cabral para eleger
seu vice Pezão? Cabral teve a pior avaliação entre 11 governadores, segundo o
Ibope. Só 19% o apoiam hoje.
O episódio com Bruno Ferreira Teles, manifestante
preso “por porte de artefato” perto do Palácio Guanabara, revelou o festival de
contradições da PM. Vídeos e fotos no Facebook foram
essenciais. Em liberdade condicional por habeas corpus, Bruno provavelmente
ainda estaria preso se não fossem essas imagens. O procurador Eduardo Lima
Neto, presidente da comissão criada pelo governo para investigar vandalismo, o
denunciou por “tentativa de homicídio”.
O que mostram os vídeos e fotos? Bruno com casaco e óculos de proteção, sem mochila e sem máscara, na linha de frente da manifestação contra Cabral, junto à grade, gritando. Subitamente, um coquetel molotov é lançado por trás dele. Um policial à paisana, com camiseta e mochila pretas, tenta prender Bruno. Bruno dá uma “voadora” no P2. PMs perseguem Bruno e atiram. Ele cai desacordado. Um PM dá um choque no rapaz com a pistola Taser. Alguém o refreia: “Ele já está no chão!”. Bruno é arrastado pela rua por policiais. Recobra a consciência e é algemado. Policiais mostram o colete metálico que ele usava – como “prova de vandalismo”. Um PM grita: “Foi ele que tacou o primeiro coquetel molotov”. Bruno nega. “Ele é preso de quem?”, pergunta um oficial. “Do P2”, responde o PM. Na delegacia, o subcomandante da PM acusa Bruno formalmente de ter jogado o artefato. Ele é autuado em flagrante na presença de representantes do Ministério Público e passa a madrugada na cadeia.
Nas redes sociais, acusa-se um P2 de ter lançado o
coquetel molotov. Não há prova. A PM diz ser “uma hipótese absurda imaginar
que um policial possa cometer um ato bárbaro contra um companheiro de farda”. O
assessor de direitos humanos da Anistia Internacional, o cientista político
Mauricio Santoro, enxerga sinais de que policiais à paisana desestabilizem
passeatas para justificar a reação da PM. Isso é muito perigoso. Já vimos esse
filme antes e ele não acaba bem, não é, presidente Dilma?
A geógrafa Carla Hirt, de 28 anos, foi presa,
agredida, ferida com bala de borracha e acusada de formação de quadrilha com
mais seis rapazes que não se conhecem. Pagou R$ 700 de fiança “para não ser
levada para (o presídio de) Bangu”. O videógrafo Rafucko foi preso e algemado –
e diz que o PM encheu sua camiseta com pedras portuguesas para montar uma
acusação, rejeitada pela delegada. O sociólogo Paulo Baía foi vítima de
sequestro-relâmpago por encapuzados armados, quando saía para caminhar no
Aterro do Flamengo. “Disseram pra eu não dar mais nenhuma entrevista falando da
PM.” O estudante Rodrigo D’Olivera Graça, de 19 anos, diz ter sido colocado por
quatro encapuzados “no banco de trás de um Sandeiro branco” e ameaçado caso não
saísse das ruas. Aconselho a comissão de Cabral a investigar todas as denúncias
graves relacionadas aos protestos, se estiver preocupada com direitos humanos.
Cinegrafistas e jornalistas passaram a ser alvos de PMs no Rio. Câmeras foram quebradas. Um policial prendeu “para averiguação” Filipe Peçanha, do Mídia Ninja, que transmite as manifestações por internet. Outro PM deu golpe de cassetete na cabeça do fotógrafo Yasuyoshi Chiba, da AFP. A versão da PM era: “Atingido por coquetel molotov lançado por manifestante”. É condenável divulgar como “verdades” os releases da PM sem investigar antes. Não bote fé.
Cinegrafistas e jornalistas passaram a ser alvos de PMs no Rio. Câmeras foram quebradas. Um policial prendeu “para averiguação” Filipe Peçanha, do Mídia Ninja, que transmite as manifestações por internet. Outro PM deu golpe de cassetete na cabeça do fotógrafo Yasuyoshi Chiba, da AFP. A versão da PM era: “Atingido por coquetel molotov lançado por manifestante”. É condenável divulgar como “verdades” os releases da PM sem investigar antes. Não bote fé.