Unidos e poderosos na glória, mas isolados e em baixa agora, governador Sergio Cabral e empresário Eike Batista cunham seus nomes nos dois lados da mesma moeda; em 2010, um chegava ao auge com uma reeleição em primeiro turno, enquanto o outro se consolidava como homem mais rico do Brasil; apontado agora como pior governador do País, Cabral vê o Grupo X do chapa Eike se esfarelar; tempos em que o político pegava carona no jatinho do empreendedor não voltam mais; afinal, voar virou sinônimo de humilhação para ele – e seu amigo precisou colocar o avião de US$ 30 milhões à venda; a vida virou
247 – Um é político. O outro, empresário. Ambos se completam. Quando Sergio Cabral, em 2010, se reelegeu governador do Rio de Janeiro, com 63% dos votos válidos, Eike Batista chegava ao 8º lugar na lista dos homens mais ricos do mundo da revista Forbes. Vivam seus apogeus. Enquanto o primeiro juntava 5,2 milhões de votos em seu patrimônio político – e sonhava eleger-se vice-presidente da República --, seu amigo contava US$ 27 bilhões em sua fortuna pessoal – e prometia chegar ao topo do rol dos hiper ricos. Tudo era festa.
Admiravam-se e protegiam-se mutuamente. Flagrado em voos de carona no jatinho de US$ 30 milhões do dono do grupo X, Cabral nem precisou se defender. O amigo o escudou. "Empresto o avião para quem eu quiser", respondeu, secamente, Eike à mídia. Ficou por isso mesmo.
O tempo, não muito, passou. Mas rapidamente os dois iguais, cada um a seu modo, caíram das nuvens. Antes falando grosso, chegando até mesmo a tentar emparedar a presidente Dilma Rousseff com uma ameaça registrada em carta de retirar-lhe o apoio político caso se recusasse a fechar com seu candidato ao governo do Rio, o vice Luiz Fernando Pezão, Cabral acabrunhou-se. Um a um, seus usos e costumes no exercício do poder cobraram-lhe o preço. No momento, o que lhe parecia uma fácil eleição para senador no próximo ano já vai se tornando, diante da única vaga existente, uma missão quase impossível.
SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS - A descoberta da chamada Gangue dos Guardanapos, divertido nome dado para o festim parisiense no qual o próprio governador, homens da sua confiança e o empresário Fernando Cavendish surgiram na internet com guardanapos na cabeça, estragou-lhe o paladar.
Resistente, apoiado num plano de obras financiado pesadamente pela administração federal, Cabral continuou banqueteando-se. Um novo forte desgaste, porém, o fez sangrar na opinião continuamente na opinião pública, em razão da constante elevação do preço final da reforma do Maracanã, hoje em mais de R$ 1 bilhão. O mesmo Maracanã, por sinal, que seu amigo Eike conquistou para a exploração por 35 anos por meio de concorrência estadual contestada nos tribunais até o último momento.
Mesmo assim, o governador não mudou seu estilo. E a debacle veio, em definitivo, com a revelação do Voos das Babás, como ficou nacionalmente conhecido o escândalo da utilização dos helicópteros do governo estadual para o transporte das babás de seus filhos, do cachorrinho Juquinha e até do cabeleireiro da primeira-dama na rota Rio-Mangaratiba-Rio, em dezenas de idas e voltas da capital à sua casa de praia.
Divulgado em meio aos protestos populares realizados contra os excessos dos políticos, o Voo das Babás derrubou o que sobrara de credibilidade em Cabral – o governador que viajava nos aparelhos oficiais em bermudões.
Em números, o político que se reelegeu com 63% dos votos tem, agora, apenas 19% de índice de aprovação para sua gestão, caminhando para deixar o governo pela porta dos fundos, hostilizado em todas as manifestações realizadas na cidade – especialmente diante do seu apartamento no Leblon, cujo endereço se tornou uma praça de guerra, e na frente do Palácio Guanabara.
BLEFE DESCOBERTO - Eike, enquanto o amigo despencava em credibilidade, descreveu uma queda igualmente vertiginosa. Depois de elevar por meio de inúmeros fatos relevantes cada ação da sua holding OGX a quase R$ 20 na bolsa de valores, o empresário, vencido pelos fatos, viu o chão, com seus papéis cotados a R$ 0,50 dias atrás.
Na lista dos mais ricos do mundo da revista Forbes, Eike deixou o top 10 para cair abaixo do 100º posto e, agora, desaparecer definitivamente do rol estrelado. Com dívidas bilionárias com bancos públicos e privados estourando em sua porta, precisou colocar à venda jóias de sua coroa, como o jatinho de US$ 30 milhões. Desprestigiado, perdeu na Justiça o direito que havia obtido junto às autoridades do Rio de modificar o tombado Aterro do Flamengo em benefício do seu hotel Glória, cuja reforma teve de paralisar.
O mesmo Eike que frequentava o Twitter com mensagens otimistas sobre suas empresas viu seu império ruir ao anunciar o fim de seu programa de exploração de petróleo, pelo simples fato de não ter encontrado o ouro negro em quantidade suficiente para a exploração comercial. Emudeceu. O blefe fora aberto.
Depois de subirem juntas, as estrelas de Cabral e Eike vão se apagando ao mesmo tempo, num espetáculo vexaminoso para eles e tudo prejudicial para o Estado do Rio e a economia nacional. Ao decepcionar seus milhões de eleitores e milhares de investidores, o governador e o empresário devem desculpas e explicações que a soberba e prática de cada um não lhes permite dar. Ainda sofrerão muito, com os seus, pela arrogância que é mais um traço em comum de suas triste trajetórias.