José Paulo Kupfer
O estouro da imensa bolha produzida, nos últimos anos, pelo empresário Eike Batista, ainda não provocou todos os efeitos deletérios que tem potencial para produzir. Mas já está claro que as regulamentações e os controles, capazes de assegurar a indispensável transparência ao funcionamento do mercado financeiro, voltaram a falhar. Governo federal, Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Agência Nacional de Petróleo (ANP), bancos públicos e privados estão devendo explicações melhores do que as apresentadas até agora para o acontecido.
Não há ainda um cálculo suficientemente abrangente das perdas impostas pelo desmonte do grupo EBX. Elas somam algumas dezenas de bilhões de reais e ainda devem disseminar mais prejuízos quando, ao fim do processo de reestruturação dos mirabolantes projetos do bilionário midiático, investidores ou credores de Eike Batista declararem suas perdas. Governo federal – melhor seria dizer contribuintes –, no caso de bancos públicos, e investidores, no caso das instituições financeiras privadas, ainda deverão ser apresentados a novos prejuízos.
Muito difícil entender por que reguladores e investidores não conseguiram detectar a formação da bolha antes do desastre completo. Infladas por uma quantidade anormal de comunicados de descobertas de óleo e gás, conforme deixa claro levantamento publicado pelo Estado, as ações da petroleira OGX, carro-chefe do grupo de empresas de mineração, infraestrutura e entretenimento montado em poucos anos por Eike Batista, protagonizaram trajetória completamente fora dos padrões. Lançados em 2008 a R$ 11,31, os papéis da OGX chegaram ao pico de R$ 23, em 2010. Hoje, com a constatação de que os poços da OGX continham vento ou não ofereciam valor comercial, as ações valem em torno de R$ 0,50.
Tão ou até mais do que a oscilação no valor do papel, impressiona a atração sem sustentação em resultados concretos exercida pela ação da OGX. Com rapidez também fora dos padrões, o papel da OGX alcançou índices de negociação inéditos para empresas novas. Depois de responder por 5% do Ibovespa, o principal índice da BM&FBovespa, no início deste mês de julho, já em pleno processo de queima do papel, a ação da OGX ainda representava sozinha por 1,5% do Ibovespa.
Chamaram a atenção, nos últimos dias, as enormes oscilações registradas nas cotações da OGX. Sempre entre os mais negociados, o papel chegou a marcar perdas de 20% num único pregão, seguido de altas de igual intensidade, nas sessões posteriores. Numa tradução desses acontecimentos, pode-se dizer que a ação ingressou em terreno claramente especulativo e a consequência do fato será um aumento do potencial de perdas com o papel da OGX.
Parece ser este o caso, por exemplo, dos muitos fundos de investimento que operam com carteiras que replicam a composição do Ibovespa. Por peculiaridades do índice, que leva em conta, a cada mês, apenas o volume negociado dos papéis, nos 12 meses anteriores, quanto mais especulativa for uma ação, maior tende a ser seu peso no Ibovespa. Assim, é possível que, em agosto, quando o índice for ajustado, o peso das ações da OGX aumente, obrigando esses fundos a aumentarem a participação do papel em seus portfolios.
Informações obtidas pelas repórteres Irany Tereza e Mariana Durão, do Estado, dão conta de que a CVM vai agora “analisar com lupa” todos os comunicados (“fatos relevantes”) publicados por Eike Batista, com especial atenção para os que divulgavam projeções e estimativas de achados de petróleo ou gás, bem como de viabilidade de exploração comercial dos poços inventariados.
É uma providência bem-vinda, que deveria ser acompanhada pela ANP. Ainda que, mais uma vez, a fiscalização prometa apertar depois que a porta foi arrombada, apostas no vento não podem prosperar como prosperaram as das empresas de Eike Batista.