Abandonar o X também deve ser o destino das outras companhias do conglomerado de Eike Batista
por Economist Intelligence Unit
Fábio Pozzebom/Agência Brasil
O empresário Eike Batista, presidente do Grupo EBX
A crise no grupo EBX, de seis companhias de mineração, energia, petróleo, logística e estaleiros, de propriedade do magnata brasileiro Eike Batista, se aprofundou em 4 de julho, depois que ele deixou a presidência da MPX Energia, a empresa mais valiosa do grupo. O fim do império corporativo de Batista está arrasando seus investidores em títulos e ações, incluindo investidores institucionais internacionais. A atenção se volta para a exposição de bancos domésticos e estrangeiros que emprestaram para as companhias nos últimos anos, notadamente os bancos estatais do Brasil, Caixa Econômica Federal (CEF) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Depois que as ações da MPX perderam 33% de seu valor em apenas um mês, a E.ON, uma empresa de serviços públicos da Alemanha que já possuía 36% da MPX, reforçou seu comando ao indicar um presidente interino e concordar em investir 400 milhões de reais (177 milhões de dólares) em uma oferta privada de ações de 800 milhões de reais. Como parte do acordo, a MPX mudará de nome, abandonando o "X" que Batista incorporou aos nomes de todas as suas empresas e que, segundo ele, representava um bom presságio de multiplicação de riqueza.
Medidas de reestruturação
Abandonar o X também será o provável destino de suas outras companhias, enquanto Batista é obrigado a reestruturar o conglomerado EBX e abordar problemas operacionais e falhas em metas de produção que eliminaram cerca de 20 bilhões de dólares de seus ativos em menos de um ano. As ações da maioria de suas empresas despencaram, e o caixa disponível insuficiente para servir os níveis de dívida levou a especulações sobre possíveis calotes. Segundo estimativas do mercado, Batista, que valia 34,5 bilhões de dólares em março de 2012, poderá ficar com 1 a 2 bilhões de dólares em ativos e 1,7 bilhão de dólares em dívidas de longo prazo quando terminar a reestruturação de suas empresas.
BNDES é o maior credor
Como Batista, seus credores também poderão ver os ativos se evaporarem em caso de moratória da dívida estimada em 11 bilhões de reais, segundo um relatório de 8 de julho da agência de classificação de crédito Moody's. Grande parte da atenção se volta para a exposição do BNDES, já que é considerado o maior credor do grupo, tendo desembolsado 4,9 bilhões de reais em empréstimos ligados a companhias X, equivalentes a 60% de seu lucro líquido no ano passado. Segundo o BNDES, sua filial de equity, BNDESPAR, teve uma exposição combinada ao grupo EBX de aproximadamente 0,6% de sua carteira de ações. O BNDES declarou que os empréstimos às companhias de Batista foram "pequenos" em relação a seu portfólio total, e sustentados por boas cauções e garantias. Isso ainda precisa ser visto. E mesmo assim a situação renovou as críticas sobre o papel do BNDES ao escolher "campeões nacionais". Enquanto isso, a exposição da CEF é estimada em 1,4 bilhão de reais, ou 23% do lucro líquido. O Banco do Brasil, controlado pelo Estado, tem uma exposição menor ao Grupo EBX, de 156 milhões de reais.
Entre os bancos privados, os empréstimos do Citigroup (EUA) totalizam 206 milhões de reais -- 42% do lucro de sua unidade brasileira em 2012. Para o BTG Pactual, banco de investimentos brasileiro que está assessorando Batista na reestruturação, seus empréstimos de 649 milhões de reais equivalem a 32% de seu lucro. Itaú e Bradesco, os maiores bancos da América Latina em valor de mercado (ambos brasileiros), têm exposições de dívida menores ao EBX (1,2 bilhão de reais cada) em relação a seus lucros.
O fim do império de Batista ocorre quando o sentimento em relação ao Brasil azedou consideravelmente. A economia brasileira luta para se recuperar de uma desaceleração retardada que começou depois do boom de 2010, e o crescimento da demanda chinesa, que alimentou grande parte do boom de matérias-primas durante uma década e colocou Batista na lista das dez pessoas mais ricas do mundo da revista Forbes em 2012, está desacelerando. Ao mesmo tempo, protestos de rua em junho sobre uma série de questões que incluem a má qualidade dos serviços públicos e a corrupção enfraqueceram a estabilidade política e levaram a uma sensação de paralisia política que deverá durar pelo menos até as eleições, em outubro de 2014.