Por ALEX MACDONALD, JOHN W. MILLER e DEVON MAYLIE
Mark Cutifani pode até ser o primeiro engenheiro a se tornar diretor-presidente da Anglo American AAL.LN +0.86% PLC, mas as esperanças dos investidores de que a venerável companhia dê uma virada vão depender tanto da habilidade política do executivo quanto dos seus conhecimentos técnicos.
Depois que mais de seis anos de baixo desempenho corroeram cerca de US$ 30 bilhões do valor de mercado da gigante britânica da mineração, os investidores estão pressionando o novo líder a apresentar hoje, durante a divulgação preliminar dos resultados de 2013, uma estratégia para restituir a lucratividade da empresa.
Agence France-Presse/Getty Images, Mark Cutifani
Os acionistas estão moderadamente confiantes que a capacidade diplomática de Cutifani está à altura do desafio de reformar as operações da Anglo na África do Sul, o núcleo do seu negócio — talvez até através do desmembramento das suas imensas divisões de diamante e platina —, e de lidar ao mesmo tempo com as revoltas de trabalhadores e a resistência do governo.
Não se sabe, no entanto, se ele é um negociador bom o suficiente para resolver o outro grande problema da Anglo — encontrar um sócio que divida os bilhões de dólares em custos extras no seu problemático projeto de minério de ferro no Brasil, o Minas Rio.
No competitivo mundo da mineração, as pessoas que já trabalharam com Cutifani, ou fizeram negócios com ele, o descrevem como um engenheiro que também tem habilidade política de se conectar com as pessoas. Essas pessoas dizem que o executivo é extrovertido, que se sente à vontade ao se socializar com os trabalhadores ou repórteres.
"O Mark é conhecido por cativar uma sala cheia de pessoas. Isso, obviamente, poderia ser essencial para a empresa no futuro", diz Paul Gait, que já trabalhou na Anglo e hoje é analista da Sanford C. Bernstein & Co.
Essa característica foi uma das principais razões que levou o conselho da Anglo a escolher Cutifani em abril para substituir Cynthia Carroll, que não era uma comunicadora nata, dizem executivos da empresa.
A virada da Anglo American vai depender em grande parte da capacidade da empresa de remodelar suas polêmicas atividades na África do Sul.
No seu emprego anterior, como diretor-presidente de uma mineradora sul-africana muito menor, a AngloGold Ashanti, ANG.JO -3.31% Cutifani ganhou crédito dos investidores por ter aumentado a lucratividade e melhorado as condições de segurança ao mesmo tempo, desenvolvendo relações melhores com os empregados e agradando autoridades do governo. As operações de platina da Anglo American na África do Sul carecem de tratamento semelhante. Uma combinação de preços baixos e custos altos levará mais da metade das minas da empresa ou ao ponto de equilíbrio ou ao vermelho, dizem analistas.
Alguns acionistas estão exigindo providências radicais para resolver esse problema.
A Anglo se beneficiaria da separação da sua divisão de platina, a Anglo American Platinum Ltd., AMS.JO +0.49% e também da produtora e distribuidora de diamantes De Beers, diz Anthony Sedwick, gerente de fundos da sul-africana Abax Investments Pty Ltd, que tem US$ 141 milhões em ações da Anglo.
"Há muito valor inerente aprisionado" no resto das operações da Anglo, como mineração de cobre, que poderia atingir um valor de mercado maior se a Anglo Platinum e a De Beers fossem desmembradas, disse ele.
Mas desmembrar essas duas enormes companhias — a maior produtora de platina do mundo e a maior de diamante bruto em volume — não será fácil.
A Anglo American só assumiu o controle majoritário da De Beers no ano passado e precisaria consultar seu sócio, o governo de Botsuana, sobre qualquer alteração.
Desmembrar a Anglo American Platinum poderia se revelar ainda mais difícil politicamente, dada a probabilidade de que a empresa teria que se reestruturar mais profundamente e possivelmente realizar mais cortes impopulares de pessoal para se sustentar sozinha financeiramente, disse Jeffrey Largey, analista de mineração da Macquarie Research.
Executivos da Anglo, que não quiseram ser identificados, questionam se Cutifani terá a capacidade de negociação necessária para vender com sucesso ativos altamente voláteis como a Anglo American Platinum ou a gigantesca mina de ferro Minas Rio, em Conceição do Mato Dentro, MG, que estourou o orçamento em US$ 6,2 bilhões e está cinco anos atrasada no cronograma.
A Anglo American não quis disponibilizar Cutifani para uma entrevista. Ele disse a colegas que está preparado para avaliar todos os ativos como potencialmente vendáveis, disse uma pessoa a par das discussões.