A matéria abaixo publicada pelo jornal Folha da Manhã é um daquelas matérias "press release" que normalmente as pessoas que sabem da real situação no V Distrito de São João da Barra nem se dão ao trabalho de ler.
Mas eu sou daqueles que lê tudo e tenta aprender coisas até de onde nada se espera. E este o caso da matéria abaixo que é rica em informações.
Vejamos o caso dos "investimentos" feitos pela LLX na região: R$ 3 milhões! Hoje a Revista Exame repercutiu uma matéria da Revista Veja dando conta que em apenas um mês a OS (X) fez um pagamento de R$ 1 milhão ao escritório de advocacia onde trabalha a atual companheira de Eike Batista Aqui!. A discrepância é tão evidente que eu poderia parar por aqui,
No entanto, vamos a mais um número que a matéria traz. A Vila da Terra abriga hoje 35 famílias e prevê o reassentamento de mais 41 famílias, dentre aquelas que "concordaram em ter suas terras desapropriadas". Como já informei aqui nesta blog, orientei uma dissertação de mestrado que estudou a fundo a situação de centenas de famílias que não concordam em ter suas terras desapropriadas para as quais não existe qualquer perspectiva de reassentamento. E dado o limite exíguo de famílias que a "Vila da Terra" poderia receber, nem adiantaria que essas famílias começassem a aceitar a desapropriação.
E é interessante que haja a declaração de um agricultor dizendo quanto ele já plantou. A informação que falta nesta matéria é que esse agricultor não é dono da terra onde está trabalhando, mesmo porque até recentemente (a situação pode ter mudado), a terra em questão pertence à massa falida de uma das muitas usinas que faliram nos últimos anos. E diante disto, o que aconteceria com toda esses plantios caso o Grupo EB(X) não consiga adquirir as terras da "Vila da Terra". Nem é preciso dizer que diante da situação calamitosa do Império "X", Eike Batista está mais para vender do que para comprar, o que só aumenta o perigo desse agricultor perder todo o seu trabalho.
Finalmente, há que se dizer que a declaração da coordenadora de (ir) responsabilidade social da LL(X), Gleide Gomes, não poderia mais longe da verdade. O que ela deveria informar é quando os agricultores que tiveram suas terras salinizadas vão ter o prazer de uma visita da LL(X) para que finalmente as perdas financeiras causadas pelo aterro hidráulico comecem a ser resolvidas. E eu aviso logo: 3 milhões não vai dar nem para começar.
Vila da Terra, dois anos depois
Dois anos após ser inaugurada, a Vila da Terra — um reassentamento destinado a famílias de produtores rurais construído em São João da Barra, desenvolvido pela empresa LLX em parceria com a Companhia de Desenvolvimento Industrial do Rio de Janeiro (Codin) e a Prefeitura de São João da Barra — já abriga 35 das 76 famílias previstas para serem realocadas. Contando com cerca de mil hectares, o local foi construído na antiga Fazenda Palacete, por indicação dos próprios agricultores. Do total de 90 imóveis previstos, 36 já estão concluídos.
O programa foi especialmente desenvolvido para abrigar as famílias que concordaram em ter suas terras desapropriadas para a criação do Distrito Industrial de São João da Barra, em desenvolvimento pela Codin, que também se responsabiliza pela reinstalação da população local.
Cerca de R$ 3 milhões foram investidos pela LLX em diversas ações na região e, segundo alguns moradores, o investimento tem gerado resultados. Esse é o caso do produtor rural Wagner Ivo da Silva, que já vive na Vila da Terra há sete meses com sua família.
Cerca de R$ 3 milhões foram investidos pela LLX em diversas ações na região e, segundo alguns moradores, o investimento tem gerado resultados. Esse é o caso do produtor rural Wagner Ivo da Silva, que já vive na Vila da Terra há sete meses com sua família.
— Aqui eu já cultivo 40 mil pés de abacaxi, 15 mil pés de quiabo, 800 pés de banana, além de aipim, tomate e muitas hortaliças, como alface, cebola, cheiro verde e várias outras. Tem planta aqui, como o quiabo, que produz quase o ano todo. Penso que essa mudança foi melhor para minha vida e da minha família. Não pretendo mais sair daqui — afirma o agricultor.
A coordenadora de Responsabilidade Social da LLX, Gleide Gomes, conta que o projeto revolve em torno da meta da retomada agrícola, visando oferecer recursos para o fortalecimento da agricultura familiar de São João da Barra.
— A LLX desenvolveu, em parceria com a OSX, um plano de investimento social na agricultura familiar. A empresa fornece insumos, mudas, assistência técnica e equipamento ao produtor, pois esse primeiro processo de instalação é mais lento e as pessoas precisam de um tempo para se adaptar. A partir do ponto em que a produção começa a engrenar, eles ganham condição de arcar com seus custos — ressalta, ao informar que, além da área da Vila, foram construídos cerca de 3 km de vias de acesso, uma quadra poliesportiva, praça, iluminação, transporte, redes de água e esgoto, além do planejamento de seis hortas ecossustentáveis.
Ainda segundo a LLX, o local também contará com espaços coletivos com infraestrutura para atender a todos os moradores, incluindo creche, escola, posto de saúde, centro comercial e uma sede comunitária para a associação dos moradores.
Ciro Mariano
Fotos: Valmir Oliveira