Um primeiro passo dessa estratégia foi não criar um processo para ser discutido. Ainda que isso atente com o regimento geral da UENF e de seu conselho universitário, a inexistência do processo deixa a reitoria para continuar negociando com o (ou seria se submetendo ao) Sr. Sérgio Ruy. Afinal, se não há processo e ninguém sabe direito o que foi aprovado, qualquer coisa que seja "negociada" só poderá ser contestada quando repentinamente a minuta for transformada em projeto de lei pelo (des) governo Sérgio Cabral.
O segundo passo é passar a impressão de que teremos todos os nossos direitos garantidos. O problema aqui é que a minuta é completamente omissa sobre quem poderá pleitear o ADE e não há qualquer obstáculo para alguns fiquem de fora do benefício. Apesar de alguns acharem que eu serei o primeiro a ficar sem o ADE, eu diria que existe já uma indicação de quem não vai ganhar na loteria da ADE. E quem são essas pessoas? Aqueles que a reitoria já sinalizou não estão envolvidos com programas de pós-graduação. Nada mais natural, não? Só tem ADE quem está ativamente envolvido no filé mignon da academia neoliberal que a CAPES tanto adora. Depois poderemos ter outros critérios para incluir e excluir o ADE, mas podem apostar que participação em programas de pós-graduação estará no topo da lista.
Um terceiro elemento é que dada a confusão instaurada por essa forma de dirigir a discussão corremos o risco de não ter o devido nível de "accountability" sobre os papéis que determinados dirigentes tiverem nesse imbróglio, o que os deixará limpos para concorrer à reitoria em 2015. É claro que qualquer que estiver atualmente na reitoria já rifou as suas chances, mas há gente o suficiente que é fiel suficiente ao status quo vigente para negociar o apoio, já que não estão tão claramente associados à tentativa do golpe em curso.
Por essas e outras que sobressai a estratégia de não ter processo, pois ai é crime sem corpo. E como na história do Brasil o único que foi preso e condenado por um crime sem corpo foi o ex-goleiro Bruno do Flamengo, é bem possível que tenhamos esse tipo de fato da vida internalizado pelos tomadores de decisão.
Finalmente, o que me parece óbvio é que todos sabem que a disputa não está resolvida, especialmente por causa da crise agônica em que está metido o (des) governo de Sérgio Cabral. Aliás, amanhã mais uma manifestação está marcada para a porta da casa de Cabral no Leblon., A delegação da reitoria que vai amanhã na SEPLAG acompanhada do SINTUPERJ/UENF bem que poderia dar uma passada lá na casa de Cabral para, digamos, "sentir o pulso" da realidade social e política em que o governador está metido. Certamente poderá ser o que os gringos chamam de um "eye opener".