sábado, 6 de julho de 2013

Como atuava o ‘dream team’ de Eike na OGX.



A OGX, que vive uma crise de credibilidade e acumula dívidas de aproximadamente US$ 4 bilhões, foi formada por um time brilhante de executivos que seu dono, Eike Batista, chegou a chamar de “dream team” ou “guarda pretoriana”, como preferiu nominar sua equipe em uma entrevista ao Valor em 2008. Criada com um grupo de executivos saídos da Petrobras, entre eles Rodolfo Landim, que foi cotado até para presidir a estatal, e Paulo Mendonça, que deixou a gerência-executiva de exploração da estatal, só para citar alguns, a OGX foi uma “darling” da Bolsa de Valores até pouco tempo atrás.

Em 2007, a primeira grande tacada veio com o investimento de US$ 1,4 bilhão para a aquisição de blocos na 9ª Rodada da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Na OGX, Mendonça passou a ser conhecido como o “Mister Oil” e o céu era o limite para as ambições de Eike construir um conglomerado formado por uma mini-Petrobras, uma mini- Vale, e daí em adiante. Negócios que, segundo ele, eram “à prova de idiotas”.

De acordo com alguns executivos que passaram pela OGX, o time de geólogos levado da Petrobras foi o grande incentivador da campanha exploratória que consumiu US$ 5,3 bilhões do caixa da empresa. “Cada enxadada uma minhoca”, diziam na OGX.

Landim, que foi o mentor de Eike na criação da petroleira e quem trouxe a maioria das pessoas da Petrobras, saiu do grupo em 2009, dias depois da oferta pública (IPO) do estaleiro OSX devido a divergências sobre a participação dele no grupo e antes que o primeiro dos 116 poços da OGX fosse perfurado. Levou Eike à Justiça para fazer valer manuscrito em que o bilionário prometia 1% do grupo -

Sobre os erros, ou acertos, de Eike, um executivo que passou pela companhia diz que o empresário nunca se beneficiou. “Ele foi vítima. Uma vítima que quis ser enganada, mas foi’, afirma a fonte.

Aos mais cautelosos e que chamavam a atenção para os riscos e desafios, Eike dizia: “Vocês são todos calça curta. Bermudão”, conta um deles. “Vou te dar uma bermuda de presente”, completa outro dos que ouviram a frase. Justiça seja feita, observa um ex-executivo, Eike Batista não se beneficiou da bonança. Nem mesmo quando a OGX foi ao mercado em 2011 e emitiu bônus no mercado internacional em duas operações que somam US$ 3,6 bilhões com vencimentos em 2018 e 2022. Mais uma vez, o executivo não ouviu a opinião de quem achava mais prudente emitir ações e não dívida. “Mas o Eike não colocou um centavo no bolso. Pelo contrário, comprou mais ações”, lembra.

Um empresário muito próximo de Batista acha que o bilionário não agiu de má fé. “Eike foi vítima de sua decisão de acreditar em uma pessoa e outro erro gravíssimo foi dar muitos incentivos antes que os executivos entregassem os projetos. Ele criou um incentivo negativo”, avalia a fonte, que falou com o compromisso de não ter seu nome publicado.

Ele se refere à agressiva política de remuneração criada por Batista, que garantia bônus e ações da companhia para os principais executivos, que podiam receber em quatro anos e, em alguns casos, apenas dois, já que ele abriu exceções para permitir a retirada parcial em metade do tempo. Durante a campanha exploratória da OGX, a equipe de geologia comemorava as descobertas comprovadas apenas por meio da perfuração de poços estratigráficos que identificavam colunas de óleo, sem atentar para os riscos de que não fossem produtivos.

No mercado, as ações “bombavam”. No dia 15 de outubro de 2010 o papel atingiu a cotação máxima, valendo R$ 23,27. Aos que alertavam para a necessidade de testes de produção para avaliar a vazão e permeabilidade dos reservatórios, a área de exploração dizia que não era necessário, porque a geologia era conhecida, conta uma fonte. O Valor tentou algumas vezes contato com Paulo Mendonça, mas não conseguiu falar com o executivo.

Algumas fontes lembram que foram ouvidas vozes contrárias à política agressiva de exploração da OGX, entre elas a do seu atual presidente, Luiz Carneiro, e de Paulo Gouvêa, ex-diretor de Finanças Corporativas da EBX, que também foi membro do conselho de administração de todas as companhias abertas do grupo. Mas eles foram vencidos pelo time otimista, também formado por Marcelo Faber Torres, ex-diretor financeiro e de relações com investidores da OGX.

No auge da abundância, foi sugerido um “farm-out” (venda de participação) para testar se os compradores confirmavam a “tese” sobre as reservas, de preferência outras companhias que já fossem operadoras. Foi então que as chinesas Sinopec e CNOOC não encontraram o valor que Mendonça via na empresa.

Outra fonte lembra que depois do fracasso do “farm-out” veio a corrida para acelerar o início da produção, o chamado primeiro óleo. “Tirou-se petróleo em tempo recorde sem se preocupar se a companhia iria ganhar dinheiro.

Um conhecido de Eike também vê defeitos na política de remuneração dos executivos do grupo, que segundo essa fonte acredita, incentivava resultados rápidos (para bônus e opções serem exercidas em 5 anos) ao invés de premiar uma postura mais conservadora.

Nos bastidores do Palácio do Planalto, a situação das empresas de Eike preocupa o governo, sobretudo pela imagem do país no exterior. Devido ao tamanho e à abrangência das operações do empresário, a dificuldade financeira do grupo teria repercussões na percepção sobre o Brasil. (Colaborou Maira Magro, de Brasília)

FONTE: Valor Econômico/ Cláudia Schüffner | Do Rio, via Portos e Navios