terça-feira, 2 de julho de 2013

A precarização como objetivo: reitoria da UENF tenta quebrar o modelo de Darcy Ribeiro


Darcy Ribeiro, intelectual marcante que teve importantes contribuições no mundo universitário do Brasil e do mundo, costumava dizer que perdeu todas as batalhas que disputou, mas que detestaria estar no lugar de quem as havia vencido.  

Agora, a UENF, seu último grande projeto acadêmico, vive uma batalha que pode ser decisiva para a manutenção dos ideais que foram traçados por Darcy, que sonhava com uma universidade capaz de servir ao desenvolvimento econômico da região Norte Fluminense a partir de um modelo que combinava excelência acadêmica com a construção de uma nova visão de cidadania que servisse a necessidade dos mais pobres.

Uma das cláusulas inseridas por Darcy Ribeiro para o projeto da UENF foi a inserção da obrigação de que todo docente deveria ter o título de doutor e se dedicar de forma integral e exclusiva à construção da Universidade do Terceiro Milênio. O acerto dessa decisão tomada na década de 1990 foi tão grande que hoje todas as universidades brasileiras se moveram para esse modelo.

Mas hoje este modelo está em ameaça na universidade criada por Darcy Ribeiro, pois, por exigência do (des) governo de Sérgio Cabral, a reitoria da UENF está tentando quebrar a exigência de que os professores sejam doutores trabalhando em dedicação exclusiva. O pior é que a reitoria da UENF quer incluir professores horistas (ou de tempo parcial) no quadro docente da instituição, sob a alegação de que precisa desse tipo de profissional para ministrar aulas instrumentais. Esse argumento não resiste ao menor argumento, pois existem vários outros mecanismos para cobrir as deficiências existentes na área das disciplinas instrumentais que não estão sendo considerados.

É preciso que fique claro que o objetivo não declarado dessa tentativa do (des) governo de Sérgio Cabral e da reitoria da UENF de quebrar o modelo de Darcy Ribeiro visa apenas aumentar a precarização da universidade, abrindo caminho para a sua transformação naquilo que Darcy chamava de "escolão". O mais crucial aqui é que essa "UENF escolão" deixaria não apenas de produzir profissionais qualificados, mas também deixaria de oferecer o tipo de conhecimento crítico que é necessário para que se produza o tipo de transformação social e econômica com que Darcy Ribeiro e Leonel Brizola sonhavam quando decidiram estabelecer uma universidade pública e gratuita na cidade de Campos dos Goytacazes.

Essa questão não interessa apenas aos que estão dentro da UENF nesse momento, e toda a sociedade regional deveria pressionar para que, em vez de secar o orçamento da instituição e tentar quebrar o modelo de Darcy Ribeiro, Sérgio Cabral volte a entregar o mesmo nível de financiamento de quando Leonel Brizola governava o estado do Rio de Janeiro.

E que ninguém se engane: se Cabral e a reitoria vencerem essa disputa, a UENF será jogada em uma grave crise institucional e a maioria dos docentes mais qualificados vai partir para se envolver na construção de outras instituições, onde esse tipo de visão não vai encontrar espaço.

A hora de defender a UENF de Darcy Ribeiro é agora!