segunda-feira, 5 de novembro de 2012


“To know–how” ou “to know–what” eis a questão*


Nos últimos anos a palavra “inovação” voa, dos escritórios oficiais à imprensa, aterrando, algumas vezes, nas instituições ligadas a esta palavra. A lei sobre inovação está em ação. Mas é impossível encontrar os exemplos reais que podem ser utilizados para desenvolvimento rápido da indústria brasileira. 

É difícil, porém, entender a razão da palavra “inovação” sem a explicação das atividades relacionadas a ela. O dicionário enciclopédico Koogan/Houaiss (ed. Edições Delta, 1998) define inovação como “ação ou efeito de inovar”. Seja na legislação, nos costumes, na ciência ou na arte. Em uma visão mais restrita tal prática se apresenta de um modo simples: Inovação significa ação. A partir daí surge uma pergunta, Como? Eis a palavra chave na qual sem ela é impossível agir. 

De um modo geral a inovação é absolutamente essencial às atividades, cada vez mais crescentes, dos seres humanos. Uma vez que estes últimos aumentam na proporção de suas necessidades gerais. Ela é o estado multiforme, correspondente às etapas do desenvolvimento da criação, tanto no campo da percepção quanto da causalidade. Tal processo se inicia no momento do problema e termina quando finda o potencial inovador das soluções existentes. A partir daí se destacam duas metodologias: 


- “Know how” (saber como); 

- “Know what” (saber o que); 


Sob o termo “know how” estão contidos todos os componentes finais e principais da inovação, mas a segunda parte desta noção está formando a base da essência do termo, determinando o seu sentido principal. Neste momento a palavra como apresenta esta noção, orientando os esforços da organização e do trabalho científico e determinando a busca de novas e melhores tecnologias. Observando, porém, somente sobre a ótica do como, vê-se que tal visão se apresenta insuficiente. O segundo componente da atividade intelectual inovadora busca a resposta do que. Sem esta resposta a busca jamais poderá ser efetuada. 

O Know what, portanto, determina a outra direção da mentalidade de inovação aplicada às técnicas, mas não na tecnologia, sendo, pois, a resposta inexistente na pergunta. O Know what é imperativo. É necessário fazer, criar, inovar, para solucionar problemas. Os problemas não solucionados, não conhecidos subjetivamente. Mas que têm, objetivamente, o seu próprio lugar e importância. Em outras palavras, os problemas considerados solúveis. 

É lamentável, no entanto, que este segundo componente do trabalho inovador ficou nos últimos anos fora do campo de visão da comunidade científica, apesar de ser uma característica crucial no modus operandi. Para chegar à compreensão do conteúdo do termo e entender o seu lugar no universo da produção inovadora faz-se mister descreve-lo. 

De um lado podem ser contadas toda a diversidade de idéias e sua relação com o objeto a ser pesquisado. Como conseqüência, as novas soluções e iniciativas poderão se tornar objetos de futuras pesquisas. A partir dessa premissa tudo poderá ser incluído, latu sensu, neste processo. Por outro lado faz-se necessário saber, ab ovo, de que forma a idéia será elaborada em seu decorrer. 

É importante frisar que o Know what tem muitos traços específicos e próprios, inerentes a sua metodologia. O que faz com que o autor não tenha a possibilidade de escolha sobre o destino de sua proposta. No Know how, porém, este problema inexiste. O autor tem, sem risco de perdas, a possibilidade de controlar o todo o processo. Desde o seu desenvolvimento até sua posterior utilização. Com a vantagem de este esclarecimento ser facilmente compreendido, uma vez que a proposta do autor soluciona, desde a criação até a conclusão, os problemas existentes. 

Um exemplo aqui a ser citado recai sobre a questão da reciclagem das baterias dos celulares. Entende-se, evidentemente, que não será preciso que o inventor do celular, no futuro, participe na solução deste problema, já que este poderá ser resolvido (de acordo com o senso comum) sem a participação do mesmo. Eis a mentalidade reinante, tanto no governo quanto nos centros da pesquisa, cujo interesse sobre essa questão se mostra quase que nulo. Esta complexidade também aparece de modo ainda mais explícito no que tange ao registro de patentes. O esclarecimento é fácil, devido ao volume de novas invenções serem igual à zero ou das invenções mais inovadoras permanecerem, por uma multiplicidade de interesses, distante dos olhos do público. 

Algumas vezes para justificar uma realização futura é totalmente necessário o desenvolvimento de um modelo experimental, dentro do contexto da razão científica. Isto, em via de regra, é impossível para os autores, ora por causa da falta de recursos e, em algumas vezes, metodologia. Doravante somente o autor sabe e tem fé em sua solução – sua materialização – proveito, necessidade, importância, tendo por base a sua compreensão científica. A História demonstrou que semelhante acontecimento se deu, por exemplo, com a invenção da televisão e do rádio. 

Outro perigo aqui visível é a alta probabilidade de perda fácil da autoria e do controle sobre o desenvolvimento e a utilização da sua idéia, iniciando nas dificuldades do registro. Incluem-se neste rol, de modo indireto, os intelectuais. Uma vez que estes necessitam do mecanismo de coleta, adiantamento, formalização e distribuição dos frutos de suas atividades intelectuais. A partir desta prévia percebe-se que somente a criação de uma metodologia operacional eficaz é capaz de dar a sucessão e a continuidade sem as quais os operários intelectuais não poderão trabalhar e produzir de uma forma satisfatória. Somente através desta metodologia será possível criar um modo de organização capaz de transformar estes conhecimentos em resultados. Tal como na Metalurgia, onde o aço é produzido a partir de muitos procedimentos e etapas. 

Outro problema reside no fato dos Institutos Científicos e Universidades estarem envolvido somente nas atividades científicas de produção, disassociando-se cada vez mais do universo da inovação. Elas ainda não sabem e daí não reagem às propostas necessárias à solução de seus problemas. A não solução resulta na falta de apoio, tanto para o desenvolvimento das pesquisas quanto a sua ulterior utilização social e comercial. Soma-se a este quadro a rejeição das oportunidades de renovação das metodologias já existentes. Como conseqüência disto, qualquer proposta positiva não vai ser percebida pela administração estrutural destas unidades. 

Atualmente nem as Universidades e nem Organizações de Fomento estão prontas para atuar no reino de inovação. Não existe a estrutura adequada. Nos termos de outorga de algumas fundações fala-se apenas na responsabilidade do coordenador do projeto sobre a inovação, e mais nada. Não existe ajuda, nem entendimento. A saída deste quadro se encontra na assimilação da cultura estratégica de inovação pelo coletivo e pela administração. Isto só será possível através da criação de uma estrutura especial que garantirá a atividade efetiva de inovação. Uma organização inteligente de idéias e de especialistas, cujo fomento inovador esteja bem diferenciado do fomento criador. 

Faz-se necessário um acesso sistemático e complexo à raiz do problema, concentrado no pleno desenvolvimento da unidade processual. Uma relação construtiva com a nova idéia seria criada no momento da inserção de cada funcionário e cidadão neste bojo de valores. Em primeiro lugar, isto se refere aos pesquisadores das universidades, em segundo lugar, às pessoas de um modo geral. 

Numa visão inicial não é difícil perceber a dificuldade dos leigos em se socializar com as idéias inovadoras (incluem-se ai, em alguns momentos, os cientistas). Por isso são totalmente necessárias relações simples (na realidade, para alguns, um bocado complexas), baseadas na confiança e no espírito de equipe. Qualidades estas de alta importância pessoal e profissional. Se junta a isto à necessidade da informatização em determinadas etapas do processo, a fim de que a plena fluência na transmissão e recepção das informações seja possível. Da mesma forma deve ser enfatizada a interatividade entre os membros participantes, como a entropia destes com a sociedade. Longe de se tratar de uma quimera, percebe-se que na etapa inicial será pouco provável obter meios financeiros, materiais e pessoais adequados ao funcionamento de todo conjunto citado. A consecução, no entanto, é possível, desde que exista um planejamento sério e equilibrado. 

O início se daria na organização de uma base de apoio para as atividades de inovação. Esta base teria que incluir, para cada unidade, cerca de três a cinco pessoas qualificadas, assim como uma grande quantidade de entusiastas. É de grande importância enfatizar que este pessoal a ser contratado deverá ter conhecimentos prévios sobre a nova metodologia, podendo calcular e prever as conseqüências de seu trabalho. De modo figurado é cabível aqui se fazer uma alusão à psicologia da cenoura em frente ao nariz e do chicote atrás de cada participante deste projeto. A perfeita combinação entra estes elementos pode dar ser a origem de muitos dos resultados esperados. 

As variações são possíveis, mas o apoio governamental não pode ser relegado ao segundo plano. Tanto no sentido moral, organizacional e material. Um perigo aqui a ser evidenciado como obstáculo é a burocracia. Assim as condições para conjunto deverão ser adequadas ao crescimento e ao acompanhamento, até atingirem o nível e o grau de maturidade exigido pelos investidores e administradores. 

A segunda etapa seria a estruturação adequada. Não somente do trabalho e das pessoas qualificadas, mas também da nova metodologia de inovação. Alicerçada em conhecimentos profissionais, hábitos, qualificação humana e profissional, objetivando sempre a relação saudável desta com os poderes público e privado. O fruto seria o Know what, na plena acepção do termo. 

A tecnologia e o sistema propostos permitem o trabalho efetivo com todas as idéias e inovações, assim como inclusão, na atividade de inovação, de um circuito amplo de especialistas e entusiastas. Sem isto a inovação como processo normal, independente, desenvolvido e autônomo é impossível. Isto, pois possuem um conjunto peculiar de características, as quais podem se citadas: 

- A possibilidade de solucionar novos problemas e criar novas soluções, tanto a nível, social e comercial, quanto ao nível científico e econômico; 

- O baixo custo inicial, uma vez que isto pode ser feito utilizando os equipamentos já existentes, assim como a base das tecnologias atuais. Pode também ser incluída a experiência industrial obtida até o presente momento e alta qualidade de mão de obra oferecida pelo mercado e pelas universidades. Consequentemente toda maquinaria considerada obsoleta torna-se capaz de exportar a produção. Surge, pois uma renovação da mesma, o que torna desnecessária a importação imediata de novos – e mais caros – equipamentos. Se ganha, então, o tempo necessário para desenvolver a base nacional em tecnologia avançada; 

- As inovações suficientemente amplas – decorrentes de um grande volume de novidades – são as mais estáveis na concorrência. Isto é, sem a figura do inventor, torna-se muito mais difícil duplicar ou copiar. Isto, pois eles fundem o Know what com o Know how. 

No cômputo geral o trabalho inteligente com Know what permite não somente juntar estas inovações, mas também aproveitar a base existente. Surge assim um desenvolvimento estratégico equilibrado e dinâmico das unidades e instituições, o que as defende de possíveis concorrentes. O tempo da assimilação econômica deste potencial de inovação pode ser muito alto. Algumas delas, no entanto, são bem simples e a efetividade geral depende muito da habilidade e da escala a se realizar, somada à capacidade de realização sistemática. Sob uma organização inteligente do trabalho coletivo, a velocidade da implantação que pode ser literalmente fantástica. O desenvolvimento de base pode ser realizado por caminhos variáveis. Um exercício interessante de projeção poderia ser descrito da seguinte maneira: 

Estágio I: A organização do ensino e a preparação de todos que desejam, em conformidade com a cultura de inovação. Seguida pela seleção permanente e gradual dos candidatos para estruturação inicial da base pessoal e auxiliar. 

Estágio II: O estabelecimento da unidade de inovação na instituição. As agências de inovação atuais não têm a qualidade necessária, 

Estágio III: Organização de concursos e de propostas, a nível institucional, municipal, estadual e federal, que serão dirigidas para o desenvolvimento, de acordo com as demandas existentes. As condições do concurso devem ser desenvolvidas em curto prazo. Este concurso vai contribuir para coleta de pessoal e de idéias, elaborações, propostas, acompanhadas pela ampliação significativa do ativo da estrutura. 

Estágio IV: A base da experiência institucional deve ser estabelecida em vários níveis, de acordo com as políticas governamentais existentes. O nível municipal, estadual e federal. 

Para finalizar, uma pergunta pode ser feita: Qual seria o papel do Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI? Esta instituição poderia continuar a funcionar, examinando e registrando as idéias propostas? Sim, desde que respeitasse os autores e possibilitasse a aceleração e o aperfeiçoamento do trabalho burocrático. Mudando as atuais relações existentes entre os autores e as instituições, representadas pelas suas estruturas de inovação-invenção. Quanto aos escritórios especiais privados, para o registro de patentes, eles poderiam continuar a funcionar, mas somente para os autores e as instituições com bastantes recursos financeiros para este fim. 

Então, que importância tem o Know how ou Know what? A importância de ambos só ocorre em conjunto, com a liderança do “saber o quê”. 

Texto de autoria de um colaborador do blog que preferiu abrir mão dos seus direitos autorais e tornar o texto de livre disponibilidade para o conhecimento público em torno do assunto