sábado, 10 de novembro de 2012

O PIOR CEGO É AQUELE QUE VÊ E FINGE QUE NÃO SABE DE NADA

Nesta 6a. feira tive a oportunidade de realizar mais um trabalho de campo no território do V Distrito de São João da Barra com alunos do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do  Norte Fluminense. Esta atividade representou a parte aplicada de um mini-curso sobre "Conflitos Sócio-Ambientais" que a comissão organizadora da Semana Acadêmica de Ciências Sociais me convidou para co-organizar.

Pois bem, uma das coisas que se viu neste campo foi o crescimento da presença ostensiva da Polícia Militar, quase na mesma proporção da montanha de areia que está sendo erigida pelas subsidiárias do Grupo EBX que atuam na construção do Complexo Industrial-Portuário do Açu.

Como já foi amplamente noticiado, esta construção está causando uma série de impactos sociais e ambientais, cujos aspectos mais visíveis são a expulsão de centenas de famílias de suas propriedades rurais e de um processo de salinização do lençol freático e corpos aquáticos superficiais no entorno do chamado CIPA.

As imagens abaixo demonstram a magnitude das intervenções e deixam margem à cobrança de que o INEA e o IBAMA venham imediatamente à público informar se os termos de responsabilidade contidos no EIA/RIMA do Porto do Açu e do Estaleiro da OS (X) estão sendo cumpridos ou, pelo menos, monitorados pelas autoridades competentes. Afinal, as evidências empíricas apontam que não.





Por outro lado, numa completa negação da realidade desvelada pelos estudos sendo realizados por pesquisadores da UENF liderados pelo Prof. Carlos Eduardo Rezende, chefe do Laboratório de Ciências Ambientais, no tocante a um processo de salinização das águas e solos do V Distrito de São João da Barra, a prefeita de São João da Barra, usou seu programa de rádio deste sábado para tentar negar os dados obtidos em pesquisa de campo.  Se o problema se resumisse a uma tentativa de negar o que a ciência demonstrou de forma rigorosa, eu nem me importaria muito. 

Entretanto, o fato de que não só a prefeita de Sâo João da Barra usa seu programa para denegrir evidências científicas, como nada está sendo feito para impedir que a população que ainda não foi expulsa do V Distrito não passe por graves riscos de saúde em função da contaminação da água de consumo um alto teor de sais.  Isto sim é grave e deveria estar sendo acompanhado de perto pelo Ministério Público.

Mas fica uma dica à prefeita Carla Machado: contra dados científicos o único argumento contrário válido são outros dados científicos que neguem os primeiros. Assim, caso haja vontade de se passar do negacionismo irrelevante a uma tentativa de se negar o que foi apurado, o único caminho será apresentar evidências tão robustas quanto as que foram apresentadas para indicar a existência de um processo de salinização no V Distrito. Do contrário, não adianta trazer engenheiros e outros que tais para negar algo que eles sequer mediram. Isto pode ser suficiente nas campanhas eleitorais fantasiosas, mas não se aplicam no caso aqui tratado. Mas atenção, não adianta coletar agora que está chovendo apenas. O caminho será realizar um processo de coleta de amostras que seja temporalmente e espacialmente compatíveis com a escala que o problema já alcançou.

Por último, uma daquelas perguntas que não querem calar. Depois da Ternium se desvencilhar do interesse em construir uma siderúrgica no CIPA; depois de Eike Batista dizer em entrevista à Folha de São São Paulo que queria que a siderúrgica se danasse, e dos chineses da Wisco também abandonarem o seu projeto de siderúrgica em São João da Barra, como é que ainda tem gente no (des) governo de Sérgio Cabral que justifica tomar terra produtiva de centenas de famílias em nome dessas defuntas siderúrgicas?