quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O Furacão Sandy e as mudanças climáticas globais: alguém ouviu o alarme?

Marcos A. Pedlowski, artigo publicado originalmente no site da Revista Somos Assim




Enquanto as elites mundiais seguem no seu padrão de extração acelerada de recursos naturais para manter um nível de consumo usufruído por uma ínfima minoria da Humanidade, as evidências de que caminhamos para um período de agudas mudanças ambientais continuam surgindo por todas as partes do planeta. A última grande aparição foi a do furacão “Sandy” que depois de causar grande destruição no Caribe (especialmente em Cuba e Haiti) provocou grandes perdas materiais e humanas nos EUA. O interessante é que desta vez ficamos sabendo muito pouco dos impactos do Sandy pré-chegada à costa leste dos EUA, visto que a mídia corporativa sempre se comporta como porta-voz das boas novas e das agruras que ocorrem nos países ricos. Mas nos concentrando no que transpirou até agora em relação apenas a Nova York e Nova Jersey, os números são impressionantes, visto que o número total de vítimas conhecidas já chegou a 112.

A situação dos norte-americanos que residem na área mais duramente atingida pelo Sandy agora pode ser agravada por uma nova tempestade prevista para chegar ao meio desta semana, com ventos e ondas fortes, com a expectativa de baixíssimas temperaturas. Essa tempestade gelada poderá complicar ainda mais a situação dos milhares de pessoas que continuam sem serviços de eletricidade no estado de Nova York. Como muitas casas foram destruídas, os que continuam desabrigados terão agora que aturar tais condições sem que haja a infraestrutura suficiente para amenizar o seu sofrimento. O mais dramático é que, desta vez, o governo federal e sua agência de respostas a grandes catástrofes (a FEMA) não estão sendo acusados de negligentes ou de não terem reagido rapidamente como ocorreu no caso do Furacão Katrina, já que em verdade os efeitos do Sandy foram tão devastadores que não houve como responder dentro dos limites da capacidade instalada.

Embora ainda não se saiba o resultado das eleições presidenciais que estão sendo disputadas por Barack Obama e pelo republicano Mitt Romney, o Sandy causou uma pequena reviravolta na política norte-americana quando o prefeito de Nova York, o ex-republicano Michel Bloomberg, indicou sua preferência por Barack Obama por considerá-lo mais capaz de responder aos desafios que estão sendo criados pelas mudanças climáticas globais. O interessante é que a questão climática estava sendo cuidadosamente escondida pelos dois candidatos, que veem esta questão com um obstáculo às suas propostas de recuperação econômica dos EUA, ainda abalada pela crise hipotecária de 2008. Ao anunciar o seu apoio a Obama com base na ameaça climática, Bloomberg acabou, por assim dizer, recolocando o bode de volta no meio da sala. De quebra, o prefeito de Nova York acabou revelando a insuficiência das atuais políticas internacionais frente às crescentes evidências de que o clima da Terra está efetivamente passando por uma mudança importante cujas causas principais estão associadas à forma com que o sistema capitalista continua a explorar os sistemas naturais da Terra.

Agora que o coelho saiu da toca, a pergunta que deveríamos estar nos fazendo é se o Brasil está minimamente preparado sequer para começar a pensar nas estratégias que deverão ser adotadas para nos preparar para respostas rápidas às mudanças que estão ocorrendo. Se levarmos em conta a recente aprovação do Código Florestal pró-latifúndio, eu diria que o caminho sendo trilhado é exatamente o oposto ao que deveríamos trilhar. Pior ainda é lembrar das evidências da vergonhosa corrupção que consumiu os milhões de reais enviados para as cidades da região serrana do Rio de Janeiro que tiveram áreas inteiras destruídas por chuvas intensas e localizadas, tais como as que se antecipam, que além de ser mais uma marca registrada do clima modificado pela ação humana, traz a pecha de ser oportunidade para alguns se aproveitarem da desgraça alheia.

Mas não estamos apenas presenciando a aprovação de leis retrógadas ou a repetição de casos de corrupção; pior é a falta de instituições que estejam acima dos interesses privados e tenham poder e estrutura para nos preparar para enfrentar eventos climáticos extremos. A verdade é que o Brasil vive atualmente um tremendo faz de conta na área ambiental: na área federal, temos um ministério do Meio Ambiente que se comporta com um braço auxiliar do latifúndio agroexportador e das corporações nacionais e transnacionais interessadas em explorar nossas riquezas minerais; no plano estadual, e o Rio de Janeiro é um exemplo primário disto, as secretarias de meio ambiente se tornaram meras homologadoras de licenças para empreendimentos com alto custo ambiental e social. Já no plano dos municípios, a maioria das secretarias só existe no papel, e quando existem pouco ou nada fazem para nos dotar de um sistema efetivo de respostas a grandes desastres ambientais. Quando tomados em conjunto, vemos que a população brasileira está sendo encaminhada para um futuro ameaçador, social e ambiental.

A pergunta que muitos podem se fazer é se existe saída para esse cenário que parece vindo diretamente das páginas do Apocalipse. Minha opinião é de que há, desde que as pessoas saiam do seu estado de indiferença frente ao conhecimento existente. Do contrário, comprar sombrinhas e galochas não será suficiente.