terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O Brasil está em Pinheirinho

Por PAULO MOREIRA LEITE

Bastam três minutos de luta social ninguém esquecer do país onde vivemos. Acabo de ver no You Tube as imagens assinadas por Dan Perseguin sobre a invasão da PM na área de Pinheirinho, em São José dos Campos.

As imagens são terríveis porque você não vê a violência da PM batendo nas pessoas. Ouve barulhos de bombas, vê a fumaça, ouve gritos e vê aquela gente que caminha com suas coisas. São brasileiros que procuram um destino. Não querem conforto. São pessoas, apenas pessoas normais.

É o Brasil permanente, aquele que não dá respostas para os mais humildes, que admite o jogo bruto com os indefesos, que humilha e bate.

Os moradores do Pinheirinho poderiam ser qualquer pessoa na fila do ônibus, no metrô. Têm camisetas coloridas, mochilas que lembram aquela que sua filha já usou quando era adolescente. Mas leia um relato que está hoje, na Folha:

Na escola Dom Pedro de Alcântara, transformada em abrigo para 2.500 pessoas, a Folha viu pelo menos três doentes com pneumonia, um com tuberculose e uma pessoa com seqüelas de AVC jogados em colchões no pátio de esportes. Crianças e bebês brincavam em meio a restos de comida e a fezes de pombos espalhados. Um animal morto estava preso na rede da quadra. Apenas quatro banheiros imundos serviam às mulheres. Os homens tinham de se contentar com três. A situação sanitária era tão grave que dois vestiários, no fundo da quadra -sem vaso sanitário ou água encanada- foram improvisados como banheiros também. “Eles querem nos degradar como seres humanos”, disse o motorista Assis David Monteiro, 62.

A maioria dos antigos moradores do Pinheirinho, expulsos de suas casas a partir das 6h do domingo, não teve tempo nem sequer para pegar os próprios documentos. Sem casa, sem documentos, muitos têm apenas uma muda de roupas. E pulseirinhas coloridas, que identificam quem pode entrar nos abrigos da prefeitura. Na escola Dom Pedro, a cor é azul.

Vários desabrigados disseram à Folha que as pulseirinhas estão servindo para discriminá-los. “É como se fosse uma coleira que nos colocaram para nos identificar quando andamos na rua. Vizinhos nos chamam de cachorros do governo”, disse Rogério Mendes Furtado, 28, catador de sucata.