Não é que as últimas enchentes estão causando milagres em termos do reconhecimento do óbvio? É o que se depreende do artigo publicado na Folha da Manhã cujo título não poderia ser mais esclarecedor: dique não protege mais a cidade. E quem faz essa revelação é o próprio secretário municipal de Defesa Civil, o Sr. Henrique Oliveira.
Segundo o excelentíssimo secretário, os culpados seriam os habitantes da cidade que resolveram construir suas moradias sobre o dique e que, pasmem, resistem a se mudar para os conjuntos populares construídos pela Prefeitura de Campos. Aliás, se esses conjuntos são tão maravilhosos como anuncia a propaganda oficial, por que raios a população rejeita se mudar para lá? Olha, eu não sei não, mas tudo indica que há algo de podre no reino da Dinamarca!
Olha essas afirmações do secretário mereceriam uma Comissão Parlamentar de Inquérito se a Câmara de Vereadores de Campos tivesse um mínimo de auto-respeito pelas funções constitucionais que a ela são destinadas. Afinal de contas, a Prefeitura de Campos sabe que o dique não protege mais a cidade e nada faz para começar a reverter essa verdadeira bomba relógio que paira sobre a cidade? E pior, investe milhões numa operação cosmética sobre o Canal Campos-Macaé e enterra milhões de reais no feioso CEPOP?
Eu espero que o repórter do Jornal Folha da Manhã tenha gravado essa entrevista com o secretário municipal de Defesa Civil. É que diante de revelações tão assustadoras tanto na situação de iminente catástrofe quanto no uso malfeito dos recursos orçamentários da Prefeitura, não seria surpresa se o Sr. Henrique Oliveira fosse instado por seu superior de fato a dizer que não disse o que disse.
Por vias das dúvidas, todos que não moram nos suntuosos prédios construídos na região da Pelinca começassem a construir estruturas sobre suas casas para depositar móveis e outros pertences caso o dique se rompa antes de que a Prefeitura tome alguma providência frente a esta ameaça real que ameaça a região urbana de Campos.
E, finalmente, uma pergunta que não quer calar: a reconstrução do dique que não protege mais a cidade foi incluída no pacote de obras que a Prefeitura Rosinha anunciou para 2012? Vamos esperar que sim! Se não, agora é a hora para se cobrar a inclusão! Do contrário, que não reclamemos caso o dique rompa e invase nossas casas.
Ocupação de locais indevidos, falta de planejamento e controle público, obras problemáticas e desmatamento podem ser a explicação técnica para os problemas envolvendo o dique situado na margem do rio Paraíba do Sul, que deixou de ser uma proteção segura para a população com o crescimento da cidade. Engenheiros e ambientalistas têm pontos em comum quando o assunto é vazamento ou rompimento.
As construções irregulares são apontadas pela Defesa Civil Municipal como as principais responsáveis pela dilatação de alguns pontos do dique de proteção do Paraíba. Elas são causadas, de acordo com o órgão, pelos moradores que ocupam diversos pontos nas comunidades carentes. A situação é preocupante na Ilha do Cunha, Tira Gosto e Matadouro, onde diversas casas foram construídas junto ao paredão de pedras, que foi cortado em vários trechos para facilitar o acesso das pessoas e que acabou refletindo em outros trechos do dique.
— As fissuras ou dilatações ocorrem quando são feitas intervenções em outros pontos e que acabam comprometendo a estrutura em época de cheias — explicou o secretário municipal de Defesa Civil, Henrique Oliveira.
Segundo ele, as comunidades resistem em deixar definitivamente esses locais e mudar para os conjuntos habitacionais construídos no município. “Mesmo com as casas alagadas, eles não querem deixar o local e quando a situação piora, as famílias são levadas para escolas, mas acabam retornando em seguida. Ninguém aceita ir para as casas populares”, destacou. Henrique lembrou que cerca de 200 famílias se encontram hoje em situação de risco e os esforços para retirá-las dos pontos vulneráveis de alagamento têm apresentado resultados ainda tímidos.
O ambientalista, Aristides Soffiati, concorda no que se refere às ocupações. “O município foi construído numa área inadequada. Sua manutenção é feita a altos custos e, mesmo assim, não livra as lavouras, criação de gado e a cidade. Examinando mapas, nota-se que a rede de canais é maior do lado direito do Paraíba do que do lado esquerdo. Pero de Góis, ao tentar implantar um núcleo urbano europeu no século XVI, examinou a margem direita do rio e não gostou, indo se instalar em terreno mais alto, entre a margem esquerda do Paraíba e a margem direita do Itabapoana. Campos enfrentaria menos problema se tivesse se instalado na margem esquerda do Paraíba”.