domingo, 8 de janeiro de 2012

A Privataria Tucana: o best seller que promete agitar o mundo político em 2012 

Marcos A. Pedlowski, artigo publicado no número 227 da Revista Somos Assim



A parte política do ano de 2011 foi marcada pela forte pressão que os grandes órgãos da mídia brasileira fizeram sobre o governo Dilma, logrando defenestrar vários ministros. O mote da maioria das matérias que resultaram na demissão dos vários ministros foi um suposto combate à corrupção. De Antonio Palocci a Carlos Lupi, um a um dos ministros foram apeados de seus cargos por terem sido supostamente flagrados em situações não-republicanas. O interessante nesta verdadeira caçada aos ministros corruptos de Dilma foi que toda acusação foi transformada em prova de culpa, independente de quem fosse o acusador. Esta sucessão de derrubada de ministros deu vazão até a uma defunta campanha contra a corrupção que morreu de inanição após umas poucas tentativas de manifestações públicas. 

Mas quando mais um ministro de Dilma, o Ministro das Cidades Fernando Pimentel, parecia fadado ao cadafalso eis que irrompeu o fenômeno editorial chamado "A Privataria Tucana" do laureado jornalista investigativo Amaury Ribeiro Junior. Apesar de anunciado desde 2010, o livro de Ribeiro Junior foi lançado somente em 2011 e rapidamente tornou-se um fenômeno de vendagem, tendo a sua primeira edição de 60 mil exemplares esgotada em menos de uma semana, o que obrigou a editora responsável pela publicação a imprimir um novo lote de 60 mil cópias, as quais também já se esgotaram. Uma novidade em torno desse sucesso foi o mutismo inicial dos mesmos órgãos de mídia que alegremente noticiavam as patuscadas dos ministros de Dilma. 

No entanto, para desespero de José Serra e seu partido PSDB, o livro que documenta os malfeitos dos tucanos durante o trágico processo de entrega (a preço de banana, diga-se de passagem) de setores estratégicos da economia brasileira a conglomerados privados nacionais e internacionais foi ascendido ao estrelato pela blogosfera que conseguiu furar o bloqueio imposto pela mídia corporativa, tornando pública não apenas a existência do livro, mas também parte do seu conteúdo. E neste caso a farta quantidade de documentos oferece um padrão de rigor que não foi requisitado no caso dos ministros de Dilma. No entanto, a primeira reação dos veículos da mídia corporativa foi ignorar a repercussão alcançada em termos de vendagem. No caso do grupo que publica o Jornal Folha de São Paulo, que também é proprietário do site UOL, a situação beirou o patético, já que enquanto o livro não era noticiado, o mesmo alcançou o primeiro lugar no ranking de vendagens no próprio UOL. 

Se ignorar o livro não estava dando resultado, os barões da mídia resolveram então escalar alguns de seus porta-vozes para desqualificar o livro e seu autor. No caso de O GLOBO, o escalado foi o articulista Merval Pereira, que resolveu vir a público com uma coluna desancando Amaury Ribeiro Junior e desqualificando o seu trabalho; mas também neste caso, o tiro parece ter saído pela culatra, e quem acabou ficando exposto foi o próprio Merval. Alguns dos mais preparados blogueiros brasileiros, incluindo o jornalista Luis Nassif, saíram a campo para lembrar que Merval Pereira, publicamente amigo pessoal de José Serra, conseguira sua cadeira na Academia Brasileira de Letras tendo publicado apenas uma obra cujo conteúdo é um mero amontoado de suas colunas publicadas em O GLOBO. 

No entanto, a maior consequência do livro de Amaury Ribeiro Junior foi alavancar a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito que deverá investigar os malfeitos cometidos pelos tucanos durante o processo de privatização realizado durante os mandatos de Fernando Henrique Cardoso. O mais impressionante é que a obtenção das assinaturas necessárias para protocolar o pedido de abertura desta CPI, sob os auspícios do deputado Protógenes Queiroz (PC do B/SP) ocorreu a menos de dois dias do inicio do recesso parlamentar, e com um número recorde de parlamentares aderindo à iniciativa. Com isto cai logo de cara um dos principais argumentos dos tucanos contra o livro, que era o de que em mais de uma década ninguém, nem o PT, havia levantado qualquer questão acerca da lisura do processo de privatização que hoje é devassado pelo "A Privataria Tucana". 

Em um debate realizado no dia 21 de Dezembro, que teve a presença de Amaury Ribeiro Junior e Protógenes Queiroz, o jornalista e blogueiro Paulo Henrique Amorim indicou que se a CPI da Privataria Tucana ocorrer de fato, é possível que fique demonstrado que todos os desvios de conduta dos petistas e seus aliados parecerão coisas de principiantes. E de fato é o que o livro parece adiantar, já que em vez de dólares na cueca e retiradas na boca do caixa até pelas esposas de alguns dos envolvidos no chamado escândalo do Mensalão, o que os cabeças do processo de privataria desenvolveram foi um sofisticado processo de lavagem de dinheiro em paraísos fiscais. 

Agora que o guiso foi colocado no gato (quer dizer, no tucano) teremos de esperar o que vai ocorrer em torno da CPI da Privataria. No entanto, o que se deve cobrar da mídia corporativa é que os tucanos sejam tratados nos mesmos termos rigorosos com que os petistas e seus aliados têm sido desde o primeiro mandato de Lula. Simples assim.