TKCSA Ataca a Pesquisa Científica Brasileira
Por Saulo Machado
A grande imprensa e os paladinos da liberdade (da imprensa, apenas) somem, ou fogem, de um gravíssimo caso que fere a independência da pesquisa científica e a liberdade do corpo acadêmico em desenvolver estudos e gerar conhecimento.
Este mês o Jornal do Brasil online publicou que a ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA) – famosa por sua atuação na região da Baia de Sepetiba – está movendo uma ação contra pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Hospital Pedro Ernesto (UERJ). Tudo isso por causa de pesquisas onde são apontados danos à população local causados pela atividade da CSA .
Segundo o jornal (confirmado pelo site da Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP/Fiocruz), o pneumologista e pesquisador Hermano Castro, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) e o engenheiro sanitarista Alexandre Pessoa Dias, da Fiocruz, são alvos das ações da Thyssen. Além de Mônica Cristina Lima, bióloga do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Uerj).
Por Saulo Machado
A grande imprensa e os paladinos da liberdade (da imprensa, apenas) somem, ou fogem, de um gravíssimo caso que fere a independência da pesquisa científica e a liberdade do corpo acadêmico em desenvolver estudos e gerar conhecimento.
Este mês o Jornal do Brasil online publicou que a ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA) – famosa por sua atuação na região da Baia de Sepetiba – está movendo uma ação contra pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Hospital Pedro Ernesto (UERJ). Tudo isso por causa de pesquisas onde são apontados danos à população local causados pela atividade da CSA .
Segundo o jornal (confirmado pelo site da Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP/Fiocruz), o pneumologista e pesquisador Hermano Castro, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) e o engenheiro sanitarista Alexandre Pessoa Dias, da Fiocruz, são alvos das ações da Thyssen. Além de Mônica Cristina Lima, bióloga do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Uerj).
Agora só falta soltarem os cães sobre os pesquisadores da Fiocruz
Segundo o JB, a lista de malefícios à população é extensa. A pesquisadora Mônica Lima disse ao jornal que o “risco de câncer e aborto espontâneo a longo prazo devido aos gases tóxicos, além de casos de alergia relacionados ao material expelido pela empresa” já são bem relatado na literatura abordando atividade de siderúrgicas. Porém foram ignorados no estudo de impacto ao meio ambiente (RIMA) encomendado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro e realizado pela empresa de consultoria ERM Brasil.
Mas essa introdução toda foi para chegar ao ponto crucial para este texto: A CSA quer calar os pesquisadores tentando qualificar os estudos independentes como “danos morais” (tática cada vez mais utilizada ultimamente por grandes empresas para calar quem as contradiz).
A questão é séria e o silêncio da imprensa bem estranho!
O desfecho neste caso, se for parar na justiça, pode definir o exercício livre da pesquisa científica no país. Se a justiça entender que realmente os estudos científicos se caracterizam danos morais à CSA, imaginem a enxurrada de processos que teremos contra estudos avaliando o impacto desde um boteco na esquina que lança esgoto em um rio, até grandes corporações, como indústria de cosméticos ou petrolífera que representam uma ameaça ainda maior (com relação à sua estrutura).
Poderão calar qualquer um. Desde estudos que apontem malefícios de medicamentos (como recentemente com emagrecedores a base de anfetaminas) até o risco de instalação de empreendimentos que potencialmente impactariam o meio ambiente.
Sem falar no conflito de interesses envolvido no caso. Como garantir que uma empresa contratada pelo interessado atuaria com lisura no estudo dos possíveis impactos de determinada obra ou atividade, embora posteriormente tenham, ou não, que se explicar às autoridades quanto aos resultados de tais estudos?
Dá para entender como se daria isso?
Quem seria a autoridade quando a empresa contratada para o estudo, foi contratada pela “autoridade” (no caso o Governo do Estado)? Essa é uma outra questão séria que está começando a despertar a atenção no país.
O mesmo jornalismo investigativo, que se auto-intitula independente se cala neste momento (é só fazer uma busca rápida no google para constatar isso).
Quando, na falta de jornalismo e autoridades independentes, querem calar até pesquisa científica, necessária para geração de conhecimento e livre para contestar casos como este, se acende o sinal amarelo.
Apenas um jornal (online e de média abrangência se comparamos com O Globo e Folha) noticiou o caso. Na internet poucos blogs tratam do assunto, para mim, infinitamente mais importante do que se ministro cai ou não. Ministros caem e sobem em questão de dias. Já mordaças, podem durar décadas.
Em tempo: Segundo a matéria do JB “A ThyssenKrupp não tem um histórico exatamente positivo. Um dos mais notórios líderes da empresa, Alfried Krupp, foi condenado após a Segunda Guerra Mundial por crimes de guerra graças a sua estreita relação com o governo nazista. Nos tempos de Hitler, a 23% dos 100 mil trabalhadores da Krupp eram prisioneiros de guerra e trabalhavam em regime de escravidão.”
Mas essa introdução toda foi para chegar ao ponto crucial para este texto: A CSA quer calar os pesquisadores tentando qualificar os estudos independentes como “danos morais” (tática cada vez mais utilizada ultimamente por grandes empresas para calar quem as contradiz).
A questão é séria e o silêncio da imprensa bem estranho!
O desfecho neste caso, se for parar na justiça, pode definir o exercício livre da pesquisa científica no país. Se a justiça entender que realmente os estudos científicos se caracterizam danos morais à CSA, imaginem a enxurrada de processos que teremos contra estudos avaliando o impacto desde um boteco na esquina que lança esgoto em um rio, até grandes corporações, como indústria de cosméticos ou petrolífera que representam uma ameaça ainda maior (com relação à sua estrutura).
Poderão calar qualquer um. Desde estudos que apontem malefícios de medicamentos (como recentemente com emagrecedores a base de anfetaminas) até o risco de instalação de empreendimentos que potencialmente impactariam o meio ambiente.
Sem falar no conflito de interesses envolvido no caso. Como garantir que uma empresa contratada pelo interessado atuaria com lisura no estudo dos possíveis impactos de determinada obra ou atividade, embora posteriormente tenham, ou não, que se explicar às autoridades quanto aos resultados de tais estudos?
Dá para entender como se daria isso?
Quem seria a autoridade quando a empresa contratada para o estudo, foi contratada pela “autoridade” (no caso o Governo do Estado)? Essa é uma outra questão séria que está começando a despertar a atenção no país.
O mesmo jornalismo investigativo, que se auto-intitula independente se cala neste momento (é só fazer uma busca rápida no google para constatar isso).
Quando, na falta de jornalismo e autoridades independentes, querem calar até pesquisa científica, necessária para geração de conhecimento e livre para contestar casos como este, se acende o sinal amarelo.
Apenas um jornal (online e de média abrangência se comparamos com O Globo e Folha) noticiou o caso. Na internet poucos blogs tratam do assunto, para mim, infinitamente mais importante do que se ministro cai ou não. Ministros caem e sobem em questão de dias. Já mordaças, podem durar décadas.
Em tempo: Segundo a matéria do JB “A ThyssenKrupp não tem um histórico exatamente positivo. Um dos mais notórios líderes da empresa, Alfried Krupp, foi condenado após a Segunda Guerra Mundial por crimes de guerra graças a sua estreita relação com o governo nazista. Nos tempos de Hitler, a 23% dos 100 mil trabalhadores da Krupp eram prisioneiros de guerra e trabalhavam em regime de escravidão.”
Fonte: http://pontoecontraponto.com.br/?p=6693