Ameaçado de morte, deputado Marcelo Freixo (PSOL/RJ) deixa temporariamente o país
Marcelo Freixo presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Milícias, da Assembleia Legislativa do Rio, que, em 2008, investigou e indiciou mais de 200 pessoas entre políticos, policiais e ex-policiais, ligados a grupos criminosos que dominam comunidades, principalmente na zona oeste da capital fluminense.
Segundo Freixo, ele resolveu aceitar um convite da organização não governamental Anistia Internacional para morar na Europa por algum tempo. O parlamentar vem sofrendo ameaças de morte desde a época da CPI, mas, nos últimos meses, elas se intensificaram.
Somente em outubro, Freixo afirma ter recebido sete ameaças de morte. “As ameaças estão se tornando mais fortes e há um retorno muito pequeno da Secretaria de Segurança. Ou seja, se estão ou não investigando. Tenho uma segurança, mas tem sido necessária a ampliação dela. Então, estou esperando algumas medidas”, disse.
A viagem será também uma forma de chamar a atenção das autoridades estaduais sobre o esquema de segurança dele e de sua família.
-Será uma saída temporária para distensionar a família, que está muito preocupada, e para chamar a atenção das autoridades sobre os programas de proteção. Não acredito neles”, disse.
O deputado não informou quanto tempo ficará na Europa, mas garantiu retorno ao Brasil. “Não posso dizer (nem) o tempo nem o local (onde ficarei), mas é um tempo muito curto”, disse.
Segundo Freixo, as ameaças não devem ser encaradas como um problema pessoal, mas sim como de toda a sociedade. Ele lembrou do assassinato da juíza Patrícia Acioli- assim como o deputado, de Niterói- morta por policiais militares integrantes de milícias que atuam no Grande Rio, em agosto deste ano.
-Esse é um problema de todo o Rio de Janeiro. Aliás, é um problema nacional. Até que ponto nossas autoridades vão continuar empurrando com a barriga? Ou a gente enfrenta e faz agora esse dever de casa contra as milícias ou, como mataram uma juíza, vão matar um deputado, promotores, jornalistas. E, se esses grupos criminosos são capazes de matar uma juíza e ameaçar um deputado, o que eles não fazem com a população que vive na área em que eles dominam? -, disse.
Segundo Freixo, apesar das dezenas de prisões feitas depois da CPI das Milícias, esses grupos criminosos estão cada vez mais fortes e dominam várias comunidades do estado, onde extorquem dinheiro de moradores e de comerciantes e controlam atividades como transporte alternativo, venda de gás e de ligações clandestinas de TV a cabo.
O ex-deputado estadual Natalino Guimarães e o irmão dele, o ex-vereador Gerônimo Guimarães, estão entre os presos em razão das investigações feitas pelo deputado e pela CPI. Eles foram considerados os comandantes da principal milícia da zona oeste do Rio e estão detidos em um presídio federal.
-Não abro mão de exercer minha função de representante do povo. Para isso a minha integridade e da minha família têm que ser preservadas-, disse o deputado, que é cotado para concorrer à prefeitura do Rio em 2012 pelo PSOL.
A atuação de Freixo contra as milícias inspirou um personagem do filmeTropa de Elite 2, que trata da questão das milícias no Rio de Janeiro. O personagem é um deputado que denunciava os grupos criminosos dentro da Polícia Militar fluminense.